Sete Espadas e Um Destino

Kurosawa em seu filme, Os Sete Samurais (Shichinin no Samurai, 1954), reproduz o Japão feudal do século XVI e sua maneira de viver daquela época. Os samurais eram guerreiros que lutavam por honra e dispunham de grande lealdade e disciplina. Houveram no decorrer da história vários samurais famosos por suas habilidades com a espada katana, arma samurai por excelência, dentre os mais famosos destacamos a figura de Miyamoto Musahi, dominando a técnica com duas espadas e escrevendo seu famoso livro: O Livro dos Cinco Anéis.
Os números sempre são uma particularidade interessante. Seja em literatura ou cinema, a numerologia sempre apresenta um ar metafórico e acrescenta à obra artística um caráter mais interessante, indo além das técnicas de filmagem, do posicionamento da câmera ou dos processos de montagem para realização do filme. O título entrega sobre o que trata o filme, podemos interpretar como o encontro de sete samurais, simbolicamente, o sete representa o estado perfeito, por exemplo, dentro da mitologia cristã, foram sete dias para que Deus terminasse de construir seu mundo, assim, o sete é um número redondo utilizado simplesmente para “grande”, “muito” ou “tudo”. É com esse espírito que encaramos o filme, com a certeza de que algo grandioso irá acontecer ou se relacionar com os samurais.
O enredo do filme é simples, um grupo de bandidos ameaça invadir um vilarejo para saquear e matar seus habitantes logo após a época da colheita. Um dos moradores escuta a conversa dos bandidos e alerta os outros moradores que, apavorados, buscam conselho com o ancião da aldeia. A única solução encontrada seria a contratação de samurais para a defesa do vilarejo, mas isso seria praticamente impossível, pois a vila era pobre e contratar samurais era caro, a única forma de pagamento seria alimentação três vezes ao dia. Sob essas condições quatro moradores partem em busca de samurais para a proteção da vila. De maneira nada convencional, sete samurais aceitam tal proposta, cada um com uma personalidade marcante, do mais calado e reflexivo ao mais exaltado e nervoso, do mais experiente em batalhas ao mais novo que nunca entrou em uma luta antes. O grupo chega a aldeia e elabora uma estratégia de defesa, treinam os moradores homens e se preparam para batalha, nesse período ocorre um pequeno interesse amoroso entre o samurai mais inexperiente e uma filha de camponês. As batalhas vão se sucedendo e alguns samurais vão morrendo junto com alguns bandidos, ao final o vilarejo é salvo, morrem 4 samurais e 40 bandidos.
O filme é pautado todo em cima de números, estes parecem reger esse universo, o sete vence o quarenta. Mais que a perfeição dos números, Kurosawa trabalha bem a criação e interação de seus personagens, é praticamente impossível não ser simpático ao menos a um deles. Suas personalidades, vícios, maneiras de agir e reagir se aproximam muito de nós. Kikuchiyo, o último samurai a entrar no grupo, é o mais carismático de todos, a cada morte de companheiro ou de um camponês, ele chora, se revolta, ao mesmo tempo faz pose de não se importar, mas no fundo se importa.
As sequencias finais são de encher os olhos, a batalha final mostra toda a habilidade de direção de Kurosawa, as câmeras acompanham cada momento, cada espadada, é um frenesi louco, mas que faz todo o sentido na cena construída. O enquadramento final também é muito bem feito, quando ao fundo mostra-se a sepultura dos quatro samurais mortos e a frente os três que sobreviveram, a profundidade de campo muito bem exposta aqui.

Os sete samurais foi um marco para história do cinema, influenciando gerações e solidificando um estilo de filme de samurai. É um filme imprescindível para aqueles que gostam de um gênero de ação, com humor e drama. Mais que isso, é para aqueles que buscam, junto com os samurais, resgatar valores como honra, companheirismo e lealdade, que parecem estar perdidos hoje em dia.