His Dark Materials (2019 -) é a adaptação da trilogia homônima de livros de Philip Pullman feita pela BBC e HBO. A história já teve o seu primeiro livro, A Bússola de Ouro (1995), adaptado para o cinema em 2007, mas não teve sequência. Se você não sabe de nada sobre os livros, o filme ou a série, aqui vai: seguimos o ponto de vista da Lyra Belacqua (Dafne Keen) em sua busca por respostas sobre o Pó. O mundo dela é parecido com o nosso, mas não é o mesmo. A maior diferença é que a alma das pessoas vive fora do corpo, chamados de daemons, e se mostram na forma de animais.
No começo, Lyra é uma garota de 12 anos que mora na Universidade Jordan em Oxford e encontra suas próprias aventuras dentro da faculdade com seu melhor amigo, Roger Paslow (Lewin Lloyd), enquanto sonha em sair de lá e ter aventuras reais pelo mundo com o seu tio, Lorde Asriel (James McAvoy). Tudo muda quando começa uma grande busca por crianças que estão desaparecendo em Oxford e suas redondezas. Surge no meio disso a oportunidade de Lyra sair de Oxford e finalmente embarcar em uma grande jornada: maior, mais complexa e mais perigosa do que em seus sonhos.
Nesta adaptação escolheram seguir quase perfeitamente o livro, o que deixou a série de 8 episódios com um ritmo bem mais lento se comparada com o filme. É compreensível essa mudança, e muitas vezes bem vinda, tanto para o público entender melhor o universo, quanto para uma adaptação mais fiel – pois o próprio livro é lento. Entretanto, sinto que depois da metade, os episódios foram perdendo a construção do drama e do ritmo. A luta dos ursos, por exemplo, era uma das mais esperadas pelo público, pois é um dos momentos de maior tensão do livro, mas infelizmente a forma como resolveram a sequência na série foi anticlimática. Escolheram não mostrar a luta em si, focaram na reação da Lyra desviando o olhar, mesmo que no livro ela assista tudo, deixando o espectador com sensação de inconclusão.
Para mim, o episódio da luta dos ursos é o mais fraco, pois ficou sem ritmo e com cortes repentinos, que deixam difícil a imersão na história, perdendo a dramaticidade. Além disso, com a decisão de já mostrar o ponto de vista do Will Parry (Amir Wilson) na primeira temporada, morre o elemento surpresa do começo do segundo livro, onde ele é originalmente apresentado. Foi uma escolha arriscada, pois foi possível fazer paralelos e falar também do papel do Magisterium na busca do Pó, do poder que eles possuem. Porém destrói o mistério da história.
No primeiro livro temos o ponto de vista da Lyra na maior parte do tempo, apresentando pontualmente os de outros personagens. E esse é um dos motivos do mistério e da tensão, pois o leitor não sabe exatamente o que está acontecendo. É por isso que a escolha de apresentar os pontos de vistas de tantos personagens na série me deixa questionando o que vão nos apresentar na segunda temporada e como vão construir a história a partir daqui.
Apesar disso, a escolha dos atores foi muito bem feita, com atenção especial à Sra. Coulter (Ruth Wilson) que consegue mostrar as expressões e facetas dessa personagem de forma marcante. Inclusive os momentos de mudanças de poder entre ela e os membros do Magisterium adicionam uma camada de política, religião e o lugar da mulher nesses locais.
O figurino e arte como um todo também foram muito bem pensados e executados. O mundo foi construído de forma inteligente, conseguindo colocar a fantasia de forma crível na realidade. Deixando nos detalhes o fantástico, percebendo ele desde o uso de aeróstato como meio de transporte, das roupas dos gípcios, do prédio do Magisterium, até o aletiômetro (literalmente uma bússola de ouro que conta a verdade). Falando em aletiômetro, os seus símbolos aparecem na abertura e não posso deixar de avisar que ela é cheia de easter eggs da história, daquele tipo que vai se desvendando ao longo das temporadas, então fiquem atentos.
Ao todo, é uma temporada boa. Não é excelente em termos de série, mas como adaptação ela entregou o que se dispunha. Por isso, não vejo a hora de assistir a segunda temporada – que já teve todos os episódios gravados e tem previsão de estreia para os últimos meses de 2020 – e descobrir como vão mostrar as relações que a Lyra vai construir, os planos do Asriel e as reações do Magisterium às mudanças no mundo.
Aquariana formada em Design – Moda, especialista em comédias românticas, Gerda é a nossa devoradora de livros oficial. Além de acompanhar mangás intermináveis, Gerda domina a arte de dar festinhas em casa e ser hair stylist dos amigos nas horas vagas