Há quase dois anos, especificamente em 11 de abril de 2018, a Netflix começou uma onda com comédias românticas que deu super certo com o público. Em agosto foi a vez da adaptação de Para Todos os Garotos que Já Amei (To All Boys I’ve Loved Before) dar as caras. O sucesso foi de imediato por se tratar de um apelo teen, mas como filme, foi um mix de clichês que não conseguiram engrenar. Nessa sequência, a coisa só piora ao comprovar sua monotonia.
Dando continuidade a trilogia escrita por Jenny Han, Para Todos os Garotos: P.S Ainda Te Amo (To All the Boys: P.S I Still Love You, 2020) traz Lara Jean (Lana Condor) empolgada por viver pela primeira vez o amor além das cartas que escreveu sobre suas paixões, ao lado de Peter (Noah Centineo). Em meio a essa descoberta, ela não contava que um dos destinatários corresponderia aos mesmos sentimentos que descreve. E agora, Lara Jean?
E agora que isso fica só na promessa mesmo, pois, se em outro momento To All Boys mostrou carisma ainda que com clichês, a direção de Michael Fimognari aqui levou a história para um tom demasiadamente fastidioso incapaz de ter um conteúdo que provoque emoção, principalmente por se tratar de um romance. Em sete minutos de filme, a única coisa que a produção consegue esbanjar são cenas apáticas do casal, prontas para virar prints e gifs de gente shippando a união dos pombinhos. E nesse tempo, na edição de Joe Klotz, ao menos quatro faixas de músicas foram inseridas em transições com poucos diálogos.
O propósito do artifício é claro para ajudar na narrativa, mas foi o suficiente para transmitir a superficialidade em que a história é apresentada — quatro músicas foi só o começo, visto que foi um recurso cada vez mais utilizado na tentativa de dar profundidade em situações com zero apelo dramático. Até soam engraçados os movimentos de câmera que o diretor invoca para tornar cenas mais significativas e não deixar na simplicidade, mas isso não adianta muito pro enriquecimento de um enredo que por si é muito fraco. Ainda, o dito triângulo amoroso que viria pra chacoalhar o relacionamento de Lara Jean e Peter não funciona aqui, e a típica fotografia de Fimognari caiu como uma luva para a falta de química que a dupla deixou se transparecer em tela: esverdeada, ofuscando o brilho que a trama pretendia ter com fofura, presentes e corações enfeitados no dia dos namorados americano.
Uma vez que o desenrolar da história não estava convencendo, era nítido o quanto forçava para fazer acontecer momentos entre os personagens: o interesse amoroso para o pai que perdeu a esposa faz tempo (novidade), a irmã de Lara que realmente acredita estar fazendo papel de cupido, e a “tensão” entre Lara, Peter, a ex-dele e o novo pretendente das cartas, o chamado John Ambrose (Jordan Fisher). Toda essa união só rende mesmo uma mistura de vergonha alheia, que não combina bem quando aposta na seriedade do dilema que Lara enfrenta no primeiro romance que está experimentando.
A adição de Jordan Fisher nada acrescenta, pois, se analisarmos, sua participação não foi muito além do que um adolescente iludido que achou que poderia voltar depois de anos, e realizar um romance da paixão que uma garota nutria quando eram crianças. Dá match por cartas que o amor acontece. Uau. O mais incrível que nesse algoritmo de faz de conta, é que de John Ambrose antes de aparecer em cena pós-créditos em To All Boys, já fazia parte da vida dos personagens, mas a costura só sobreveio agora.
Em a toda trivialidade, a certeza que fica é que Para Todos os Garotos é mais uma sequência de filme que não tem gás para mostrar sua necessidade. O resultado é algo insosso, sem criatividade ou fator que faça você considerar entre um aspecto e outro da produção um ponto que se destaque. Nessa leva de comédias românticas, essa é a quarta que Noah Centineo faz parte do elenco, e como consequência disso, parece viver o mesmo tipo de personagem ainda que em quatro produções. O que prova que nem beleza, nem carisma, nem talento tira o ar de mesmice — ou as quatro sacadas da Netflix têm muito em comum e em todas Centineo só fez o seu papel?
Com o terceiro filme em fase de pós-produção, e com Fimognari de volta no cargo de diretor, resta esperar o quão desinteressante será o desfecho dessa trama amorosa, que consegue ser boba e infantil e carecer de identidade.
Ama ouvir músicas, e especialmente, não cansa de ouvir Unkle Bob. Por mais que critique, é sempre atraído por filmes de terror massacrados. Sua capacidade de assistir a tanto conteúdo aleatório surpreende a ele mesmo, e ainda que tenha a procrastinação sempre por perto, talvez escrevendo seja o seu momento que mais se arrisca.