A maioria cresceu assistindo desenhos de Scooby-Doo e acompanhando a Gangue do Mistério através das mais diferentes aventuras – também os mais diferentes estilos de adaptação e animações. Para o pessoal que acompanha as aventuras a um maior tempo, provavelmente também assistiram desenhos como a Corrida Maluca (Wacky Races, 1968 – 1970) e Tutubarão (Jabberjaw, 1976 – 1978). Bem, os personagens ilustres desses desenhos ganham vida na websérie lançada pelo Saho Studios, Scooby-Doo! A Origem do Mal.
A série conta com cinco episódios e acompanha a turma do mistério investigando o desaparecimento de uma jovem na Baía de Cristal. Essa produção brasileira foi originalmente lançada em 2018 como uma websérie de 5 episódios e a menos de um mês foi relançado como um filme completo no canal da Saho Studios no YouTube.
Contando uma história com tom sombrio e misterioso resgatando muito do visto em filmes do Scooby-Doo como Ilha dos Zumbis (1998), mas com uma pegada mais moderna e também um tanto ‘local’. A série é uma produção de Rodrigo Saho, que também assina como roteirista e diretor responsável por essa bela mistura de uma produção estilo live action (semelhante ao que seria uma adaptação da Netflix dos clássicos) de clássicos da Hanna-Barbera.
Primeiramente foi necessário fazer grandes adaptações aos clássicos aqui citados, os tempos e os públicos mudaram e todas as mudanças foram bem vindas dentro da produção. Os personagens tem personalidades e também estilos totalmente ligados às suas raízes clássicas, mas ainda assim não deixam de ser versões novas dos personagens aos quais nos acostumamos a amar e acompanhar. Algo que não falta ao longo da história são referências aos desenhos clássicos e aventuras animadas ‘prévias’ à produção.
O envolvimento de toda a Gangue do Mistério nas investigações sobre os desaparecimentos acontecendo na cidade caem muito bem, é algo gradual mas não se estende por muito. Além do mais, a construção toda da trama, dos personagens e seus laços funcionam como o esperado tanto para a construção de uma atmosfera nova e ao mesmo tempo sendo muito fiel aos filmes antigos da gangue.
Navegando por atuações boas e dignas de uma websérie, ainda há as que se destacam em meio às demais. Os atores têm muito com o que trabalhar dentro da história, mas as vezes isso pode se apresentar como uma desvantagem. Um dos lados bons da série é o fato dela comprar a estética de diálogos caricatos e recheados de humor, um humor bem moderno e pautado em memes. Bem presente ao longo da série o comprometimento dos atores, da equipe, com o material de origem e com trazer uma obra digna do material de origem.
Todos somos bem acostumados com a galera toda unida e a série leva um certo tempo para nos deixar ver toda a equipe de protagonistas juntos. Outro de seu ponto positivo é exatamente seu cuidado em estabelecer cada arco e cada vida dos seus personagens, permitindo sairmos das interações recorrentes vistas ao longo dos anos mas mesmo assim as respeitando.
Em especial, Carolina Class (Daphne Blake), Isabela Bernardo (Velma Dinkley) nos deram duas incríveis personagens protagonistas da história, mostrando um pouco além das versões anteriores das mesmas. Outra incrível atriz foi Carol Ferreira, que deu vida à Penelope Pitstop – a Penelope Charmosa, ganhando até um programa especial no canal da Saho Studio. Os rapazes da produção não ficam atrás, conseguem – em sua maioria – nos capturar e manter-nos interessados e entretidos na narrativa. As trocas entre os múltiplos personagens se mostram muito únicas e também divertidas de se ver.
O mistério da trama se desenvolve ao longo dos cinco episódios, valorizando tanto as novidades dos personagens quanto o material original. Mesmo deixando seu enredo sobre os desaparecimentos bem definido, a série ainda levanta questionamentos sobre uma possível continuação através da trama acompanhada por Velma. Continuando ou não, temos aqui uma obra nacional adaptando as criações da Hanna-Barbera digna de ser assistida.
Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.