Malévola: Dona do Mal – Perpetuando a maldição do desnecessário

Ora, ora, uma vez tão bem nas bilheterias, por que negar uma sequência? A verdade é que Malévola (Maleficent, 2014) tinha encerrado com um final fechadinho até mesmo com o seu roteiro alvo de críticas mistas. A releitura de um dos filmes mais famosos da Walt Disney, A Bela Adormecida (Sleeping Beauty, 1959), na ocasião narrado pela perspectiva da vilã que nomeia o live action, acabou não encantando com mesma intensidade da magia que o longa exaltava. Com o sucessor Malévola: Dona do Mal (Maleficent: Mistress of Evil, 2019) o resultado não foi desigual, porém carregou o agreste amargo de uma investida desnecessária.

O engraçado é que já no segundo filme (do jeito que está, não terá forças para um terceiro) o roteiro escrito por Linda Woolverton, Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster parece um remake do anterior, com a intenção de ser mais “ambicioso”, ainda que os eventos que causam esse feito não sejam lá tão empolgantes ou até mesmo revigorantes. Cinco anos após Aurora (Elle Fanning) despertar do sono profundo, a jovem moça é então pedida em casamento pelo príncipe Phillip (Harris Dickinson). Enquanto a fama de que Malévola (Angelina Jolie) continua má só intensificou, Aurora é convidada para adentrar o reino de Ulstead para conhecer seus sogros John (Robert Lindsay) e Ingrith (Michelle Pfeiffer) ao lado de sua mãe. O jogo de interesse é revelado quando a real intenção da rainha é posto à mesa.

Conhecer os sogros pode ser assustador para qualquer um que esteja num relacionamento sério, mas Malévola ser tachada como a maligna, a que compartilha o caos e divisão entre os reinos de Moors e Ulstead não foi nenhuma novidade, e lá vamos nós para mais um dramalhão de reparação do incidente que fez os habitantes do reino temerem sua segurança. Aurora, de uma garota que andava alegre com coroa de flores na cabeça e na presença das fadas, agora passa mais tempo calada e contrita por sua mãe ter sido a maldosa de novo. Quanta decepção. E nesse tempo, o grande casamento se aproxima.

Não que o trailer já não tenha mascarado muito bem as surpresas do filme — pois não escondeu — mas a narrativa não se preocupa em utilizar de algo óbvio para criar um suspense pobre, uma vez que a ideia do roteiro foi preparar as circunstâncias para explorar mais sobre a Malévola e criar um embate épico entre seres místicos e humanos. No primeiro objetivo, foi incrível ter uma visão do fantástico mundo da espécie da querida vilã e conhecer mais de sua família — sendo que há cinco anos atrás na história ninguém sequer deu as caras: o visual do cenário é realmente curioso e enriquecedor, dando um belo vislumbre de um subterrâneo realçado com cores brancas e pretas, e depois para um atrativo fantasioso cheio de cores e criaturas com asas.

Já a batalha prometida acontece, mas rodeada de um amontoado de conveniências aqui e ali. A essa altura do campeonato, Aurora já estava mais do que apagada da trama para depois ser usada para fins emotivos e apelativos com a mensagem que já conhecemos: há um vínculo mais poderoso que a energia verde de Malévola nessa conexão entre mãe e filha que rompe diferenças entre humanos e seres mágicos. E no mais tardar da morte, lágrimas resolvem tudo, nem que seja para dar o final feliz de contos de fadas.

Mesmo a história passeando por um lugar comum, ao menos a adição de Pfeiffer no elenco deu um acréscimo convincente e com uma carisma que consegue tornar alguns momentos do enredo bem aceitáveis, por conta da sua performance cínica e intensa de uma sogra com segundas intenções: até para os diálogos do texto sobre poder, guerra e separação entre espécies ganharem substância graças a atuação tão contida da atriz.

Apesar do roteiro fraco, Dona do Mal merece o reconhecimento pela indicação na categoria de Melhor Penteado e Maquiagem — se bem que seria válido para a de Figurino também — do Oscar 2020. O trabalho feito para a caracterização de Malévola e os demais de sua espécie se mostrou impecável e interessante, visto os detalhes dos traços para idealizar cada um.

Se Angelina Jolie batendo asas e liberando magia para combater qualquer um que seja sinônimo de ameaça for o que chama sua atenção, Maleficent: Mistress of Evil pode se tornar um entretenimento na medida certa, mas se quer isso e também um roteiro que não se pareça mais uma fantasia que se esforça tanto para ter um final bonitinho nessa fábula do mal, vencendo o mal, pode não ser dessa vez, e nem mesmo o sorriso com prótese da Malévola salva filme do fiasco de repetições.