Antes de a Disney comprar a Luscasfilm, Star Wars era um evento. Sendo a primeira trilogia de 1977 a 1983 e a segunda de 1999 a 2005, os fãs sempre passavam décadas sem novidades da franquia no cinema. Isso, de certo modo, restringia os filmes apenas na retratação de grandes acontecimentos, como a queda da República e a destruição da Estrela da Morte. Entretanto, Star Wars, por meio dos quadrinhos, livros e animações, já demonstrou que são as pequenas histórias que constroem o universo e a mitologia desta galáxia tão tão distante.
As animações tem uma estrutura procedural como base, onde um arco principal é contado durante a temporada, com vários episódios com início, meio e fim durante o percurso, estes responsáveis por expandir o universo, seja na construção de um novo planeta ou no desenvolvimento de um personagem específico que, talvez, nem apareça mais na temporada.
The Clone Wars (2008 – 2020) e Star Wars Rebels (2014 – 2018) foram as obras que mantiveram Star Wars vivo no audiovisual, enquanto novos filmes não eram lançados, e por serem algo menor permitiu uma experimentação gigantesca por parte dos roteiristas que tinham mais liberdade para construir personagens, desenvolver a mitologia, elaborar cenas de lutas… enfim, o melhor de Star Wars está nas animações e com o lançamento do Disney Plus o melhor desta franquia conseguiu estar em uma série live action.
Em 2019, juntamente com a inauguração do seu próprio serviço de streaming, a Disney lança The Mandalorian (2019 -). Criada por Jon Favreau (Homem de Ferro e Mogli, O Menino Lobo) e Dave Filoni (The Clone Wars e Star Wars Rebels), a série conta a história de Din Djarin (Pedro Pascal), um caçador de recompensas mandaloriano que precisa proteger um bebê alienígena, enquanto tenta sobreviver no submundo da galáxia após a queda do império.
No decorrer dos oito episódios, acompanhamos a jornada de “Mando” enquanto conhecemos mais a respeito da cultura mandaloriana e do estilo de vida de um caçador de recompensas. A série tem como inspiração máxima os filmes de faroeste, seja na sua estrutura narrativa, estética ou resolução de conflitos, mantendo sempre a essência do que é Star Wars em cada episódio.
Obviamente, easter eggs são mostrados sempre que possível. Alguns mais sutis como o droid IG-11 que referencia um famoso caçador de recompensas, de mesmo modelo, do universo expandido, chamado IG-88, e alguns mais elaborados, compondo a narrativa de um capítulo inteiro da série, este sendo o capítulo 4, que referência ao filme Sete Samurais, porém também conversa com o 17º episódio da segunda temporada de The Clone Wars, denominado “Bounty Hunters”, onde Anakin, Ashoka e Obi Wan precisam ensinar os moradores de um vilarejo a se defenderem de caçadores de recompensas liderados por Hondo Ohnaka. Esta não é a única referência as animações em que Filoni trabalhou. A arma que aparece no desfecho da série também é uma peça importante para arcos narrativos em The Clone Wars e Rebels.
Um dos pontos altos da temporada é a sua trilha sonora viciante. Composta por Ludwig Goransson (Pantera Negra), a soundtrack tem personalidade e consegue dar o tom de toda a série desde a primeira vez que aparece. Isso atrelado a ótimas cenas de ação e a momentos dramáticos e cômicos, em especial aos do episódio 8, dirigido por Taika Waititi (Thor: Ragnarok), contribuem para que a série conquiste um status de destaque no meio de tantos outros produtos de mídia derivados de filmes.
Por fim, é evidente que o personagem do “Baby Yoda” foi pensado daquela maneira para vender boneco, porém o alienígena é força motriz ativa na série e provavelmente terá grande impacto no universo expandido da franquia, agora que a cultura jedi está extinta e o império caiu. As próximas temporadas podem trabalhar o futuro da raça desta criaturinha juntamente com a relação dos mandalorianos e a força, mostrando o impacto que essa espécie e essa cultura podem ter nesse vácuo de poder da galáxia.
Apesar da história simples, The Mandalorian consegue trazer todo um plano de fundo político, já presente nas obras de Star Wars e aposta em personagens pouco conhecidos para criar uma história local, porém que pode ter uma grande repercussão na galáxia. Star Wars tem um universo rico demais para ficar apenas lançando obras com protagonismo hereditário, seja Skywalker ou Palpatine. Cada personagem tem sua própria cultura e história, desde uma simples criança órfã a um famoso caçador de recompensas. Bons produtos de mídia podem se sustentar sem a necessidade de usar jedi e sith como plot da história, sendo The Mandalorian a prova disso. Então, depois do episódio 9, aguardo as próximas apostas desta franquia, seja no cinema ou no streaming. This is the way, Disney.
Autodidata de Youtube e ex valentão da escola. Hilário adora mitologias em geral, astronomia e desenhos animados, mas seu passatempo favorito é irritar as pessoas, geralmente ele consegue. Sonserina orgulhoso, ariano, otaku reprimido e chaotic evil.