One Day At a Time – Quando o antigo e o novo andam juntos



Sitcoms ou comédia de situação estão presentes na programação de TV a décadas. Desde os anos 50 com I Love Lucy (1951 – 1957) até o gigantesco sucesso de Friends (1994 – 2004) e The Big Bang Theory (2007 -). Sitcoms constantemente obtém boa audiência e caem nos braços do público, talvez por serem fáceis de gravar, abordarem uma comédia simples, problemas e situações cotidianas esse estilo gere uma identificação automática com o espectador.
Por existir a bastante tempo esse estilo de comédia já pôde ser explorado ao máximo, gerando assim uma fórmula, a famosa receita de bolo que às pessoas tanto falam, e isso por consequência afasta o público que busca outras variedades de comédia menos genéricas. Nos últimos anos, um tipo de série que está ganhando cada vez mais público é a dramédia, um estilo onde o drama é constantemente aliviado por situações cômicas, sem perder a sua carga emocional, como é o caso de Master of None (2015 -) e Better Things (2016 -).

É então que em Janeiro de 2017, sem nenhuma pretensão, a Netflix lança a série One Day At a Time (2017 -), resgatando a fórmula clássica das sitcoms, no formato multi-câmera, com personagens estereotipados e até mesmo usando risadas e aplausos de fundo, mas preenchendo essa fôrma com às características das atuais dramédias, utilizando um roteiro inclusivo, relevante e que não tem medo de abordar temas polêmicos como feminismo, identidade de gênero, homossexualidade, religião, alcoolismo, racismo, xenofobia, bullying, imigração, porte de arma, depressão, estresse pós-traumático e relacionamentos de uma maneira leve, natural e bem humorada.
A série é baseada em uma sitcom dos anos 70. Nessa nova roupagem ela conta a história de Penelope (Justina Machado), uma mãe solteira, cubana, que serviu ao exército e mora em um apartamento com seus 2 filhos: Elena (Isabella Gómez), uma adolescente insegura, militante em diversas causas sociais que está descobrindo sua sexualidade, e Alex (Marcel Ruiz), um pré-adolescente narcisista, popular e consumista que está aprendendo como o mundo realmente funciona. Para conseguir organizar o trabalho com a criação das crianças, Penelope conta com o apoio da mãe  Lydia (Rita Moreno), uma senhora conservadora, religiosa e vaidosa que fugiu de Cuba durante o regime de Fidel para tentar uma nova vida na América, e do síndico do prédio, Schneider (Todd Grinnell), um homem branco, hétero, filhinho de papai, cheio de daddy issues que busca uma família que nunca teve. Esse cotidiano de três gerações de mulheres latinas em uma mesma casa, rende altas piadas e discussões.

Em seu primeiro ano, One Day At a Time construiu a base de seus personagens e desenvolveu um arco de amadurecimento que permeia toda a temporada, resultando em uma season finale que levou muitos expectadores a lágrimas. O timing cômico dos personagens é ótimo, principalmente o da Abuelita que sempre rouba a cena quando aparece, mas a temporada é dedicada praticamente ao crescimento da Elena como mulher e em como o restante dos familiares lida com isso.
No seu segundo ano, a série ao invés de ter uma trama central, investe em arcos menores, às vezes de apenas um episódio, para dar atenção ao restante do seu elenco. Como a base dos personagens já foi construída, o humor de expectativa permeia a série por completo, você já sabe como determinado personagem se comporta e como ele deve reagir a determinadas situações, assim você fica só esperando o momento que a cena deve ocorrer e quando ela não acontece é uma bela quebra de expectativa.
Apesar de tudo, há quem possa achar o humor do seriado previsível e sem graça, o programa não busca fazer o espectador chorar de rir, em sua grande parte só arranca sorrisos de canto de boca e pequenas risadas, mas isso é uma característica das dramédias, elas pesam a mão no drama e usam o humor apenas para alivio cômico, mas acredito que isso seja questão de gosto mesmo, afinal, o que faz alguém rir é bem subjetivo.
One Day At a Time sabe os personagens que tem e consegue desenvolvê-los ao máximo, criando uma atmosfera de familiaridade e pertencimento àquela família. Usa moldes antigos de comédia junto com atuais, fixando assim o seu lugar como uma das melhores dramédias da Netflix.