A luta, principalmente contra a especulação imobiliária, a luta pela vida, pela família, pelo país deixa o filme com um tom político muito forte, mas feito de uma maneira muito sutil, o que o deixa ainda mais belo.
No tocante as questões técnicas, o filme é exemplo de um domínio sobre o cinema. Tem tudo que podemos imaginar de movimento de câmera, de enquadramento, de noção de espaço, de roteiro etc. O filme trabalha tão bem isso, que é possível desenhar a planta do apartamento de Clara, mesmo sem ter sido mostrado alguns cômodos. Destaco dois planos, primeiro quando a filha saí do prédio, temos um zoom out dela e mostra a fachada do prédio, em seguida, ainda nesse mesmo plano, temos um zoom in na janela para mostrar a mãe que está lá. O outro plano é mais para o final do filme, no qual temos um plano do mar, desfocado, em que Clara saí das águas e caminha em direção a câmera até ela entrar em foco.
Aquarius é um filme político, sobre resistência e luta, esteticamente muito bonito com suas cores e movimentos de câmera. Dá uma aula de cinema, seja no tocante a sua decupagem quanto no desenvolvimento de seus personagens. Kleber Mendonça Filho entrega, de bandeja e em um momento oportuno, o melhor e mais comovente filme brasileiro dos últimos anos.
Para ler as outras duas partes do Especial sobre a filmografia do diretor Kleber Mendonça Filho clique aqui (curtas) e aqui (O Som ao Redor).
Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.