O Homem Urso (Grizzly Man, 2005) não é um filme sobre Ursos.
Viver entre ursos pardos no Alaska durante 13 anos não parece loucura. É loucura. Mas o que é ser louco? Ser louco é ir contra a “natureza humana”? Ser louco é não viver em uma cidade, não estudar para conseguir um emprego, juntar bastante dinheiro e depois casar? Se for assim Timothy Treadwell era um louco.
O Homem Urso é um documentário produzido, dirigido e escrito pelo cineasta alemão Werner Herzog, que, utilizando 100 horas de filmagens amadoras, conta a trajetória de um cara que decide viver entre ursos na tentativa de “protegê-los” e observar como os mesmos vivem. Durante toda a película nós podemos tirar várias conclusões pessoais sobre o protagonista, sua emotividade ao encontrar os animais (tanto ursos como também raposas) e interagir com eles a uma proximidade inimaginável; a proximidade que sentia ter com eles ao ponto de nomear e reconhecer cada urso ou raposa; a vontade que tinha de mostrar ao mundo, através de suas filmagens, quão valiosos e belos são aqueles animais e as vezes podemos até notar uma certa vontade de fugir da humanidade e ser ele mesmo um urso. Mas também extremamente perigosos. Em nenhum momento ele afirma que os ursos são animais dóceis e frágeis, pelo contrário, em várias imagens Timothy demonstra muita cautela ao se aproximar dos ursos. Mas o mais interessante para o espectador é observar o mundo criado por Timothy em suas jornadas. Apesar da companhia de seus “amigos” ursos, ele sentia-se frequentemente só. Frequentemente lembrei do filme Na Natureza Selvagem (Into the Wild, 2007) ao assistir este documentário.
Ao ver um documentário, é necessário ter algo em mente: tanto quanto o tema, as pessoas ou o ambiente documentado, um filme como este fala também do próprio documentarista. Ou seja, este, assim como muitos outros de seus incríveis trabalhos, também é um filme sobre o homem Werner Herzog. Os momentos em que escolheu passar cada filmagem de Timothy, as músicas que escolheu e os momentos em que escolheu colocá-las, as perguntas que escolheu fazer, e principalmente sua filosofia implícita em seus comentários.
Ao assistir O Homem Urso no meu computador, no meu quarto, com minhas preocupações cotidianas, fui levado a pensar sobre outras coisas, coisas dos homens, não dos ursos.
O Homem Urso é um filme sobre os homens.
Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.