Thunderbolts* – Um olhar para o abismo interno de si através de super-heróis

Anunciado inicialmente como Thunderbolts* (2025) e depois com seu título modificado oficialmente para “Novos Vingadores”, em uma corajosa jogada de marketing, foi o segundo filme lançado pela Marvel Studios em 2025. O filme, com direção de Jake Schreier, traz um elenco de personagens apresentados em diferentes filmes e séries ao longo da história do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), a maioria deles em papéis antagônicos ou secundários, e propõe a formação de uma equipe. A razão maior pela qual esse grupo de personagens se uniria é aparentemente desconhecida, mas suas razões para estarem no ponto inicial onde os encontramos no início do filme são estabelecidas com suas próprias nuances. O título do filme em si é uma questão: seu asterisco, a razão por trás do nome “Thunderbolts” em primeiro lugar. Afinal, quem são os Thunderbolts?

Completamente diferente do que vemos no filme, a ideia original dos Thunderbolts nos quadrinhos era de um grupo de vilões disfarçados de heróis para ganhar a confiança do público e competir com os Vingadores. Os vilões eram os Mestres do Terror, liderados pelo Barão Zemo, e basicamente ninguém da versão original do time está presente nessa adaptação de quadrinhos. Lembrete: eu disse “basicamente”. Ao longo dos anos a equipe teve muitos integrantes, diferentes propósitos, diferentes líderes. Mas se você se interessar por essa história vá ler os quadrinhos, pois o filme Thunderbolts* trabalha o conceito de uma forma extremamente livre, buscando estes personagens (quase nenhum deles sendo propriamente um vilão ou antagonista em suas próprias obras de apresentação no MCU até) como pessoas em busca de algum tipo de redenção apenas.

Florence Pugh é quem carrega o protagonismo no filme, vivendo a assassina de aluguel Yelena Belova, com uma relação distante com sua figura paterna e ainda lidando com o luto pela morte de sua irmã. O que ela busca? Um sentido. O filme constrói muito bem sua narrativa, através tanto da narrativa presente como quando a personagem lida com seus atos passados. Ela, assim como todos os personagens, é assolada por erros e ações de seu passado, ações e erros estes que não definem quem ela é. A atuação de Pugh é fenomenal, especialmente para um filme do gênero de super-heróis e quadrinhos, sua personagem, como os demais escolhidos para compor a equipe, são um ar mais pé no chão na obra. Mas Thunderbolts* em si pode se passar num universo fantástico de heróis, isso não o limita quanto ao gênero e quanto ao seu conteúdo. Para uma melhor execução deste texto, iremos abordar o filme como uma obra isolada, ignorando ao máximo conexões com o passado e ligações ou falta de ligações com os quadrinhos.

Um thriller de espionagem onde agentes secretos são enviados em uma missão para executarem uns aos outros e no final se viram contra a pessoa mandante das execuções, é um plot não muito original, mas a química entre os personagens em si já garante um ótimo entretenimento dentro dessa premissa. Mas há muito mais do que os olhos vêem por baixo disso, pois também existe um dano colateral de extremo valor e perigo nas mãos desta pessoa mandante. Ninguém melhor para dar vida a essa figura enigmática, com moralidade ambígua e um ar de superioridade e prepotência do que Julia Louis-Dreyfus, que interpreta Valentina Allegra de Fontaine. Além de uma antagonista manipuladora, que durante todo o filme joga um xadrez sem oponentes à altura, a personagem possui nuances e motivações importantes para ser quem é. Motivações essas em nenhum momento sequer ponderadas a tratarem a personagem como uma vítima ou lhe oferecerem redenção.

Em contraponto a Valentina, temos o congressista Bucky Barnes (o indicado ao Oscar, Sebastian Stan), com uma história própria de agente, assassino e herói anterior ao filme. Sua jornada na política é recente, não caminha a todo vapor, mas ele se coloca na missão de trabalhar a favor do Impeachment de Valentina no Congresso, utilizando ao máximo sua atual posição e seus conhecimentos como agente. Mas bem, por mais que o mesmo tente agir pelos meios mais legais possíveis, termina tendo de agir usando armas e força bruta e se unindo a um grupo de criminosos para colocar um fim nos planos da antagonista. As interações tanto de Julia, quanto de Sebastian, com a personagem Mel (Geraldine Viswanathan) são extremamente gratificantes e interessantes de se assistir. É como se os dois fossem pais disputando a guarda de uma criança e dando à personagem um desenvolvimento interessante.

Fun fact: Mel é a personagem adaptada de Melissa Gold, a Soprano nos quadrinhos que pertenceu a primeira versão dos Thunderbolts.

Lutas são essenciais e indispensáveis para a construção de filmes de ação, especialmente no subgênero de super heróis no audiovisual, e as cenas de ação deste filme são muito bem coreografadas, gravadas e montadas. A melhor parte é como um filme tão recheado de cenas de ação, pessoas com poderes, armas avançadas, consegue amarrar sua história através de um tema tão humano e não explorado plenamente nestas histórias: depressão. Utilizando todos os personagens da equipe como fios para representar diferentes relações com a depressão, suas ações passadas e com seu presente, o filme inova em um enredo não tão complexo. A maior qualidade de Thunderbolts* é como o filme cria estas complexidades através de todos os seus personagens e usa estas linhas soltas para criar um laço importante ao ato de conclusão da obra através de uma importante temática.

Não esperava em 2025 assistir um filme da Marvel sobre depressão e sobre superar um passado que não pode definir alguém para sempre, mas Thunderbolts* (ou “Os Novos Vingadores”) foi exatamente isso. Infelizmente, a nível monetário, o filme não conseguiu chegar ao meio bilhão mundial, mas isso reflete mais como a Disney nunca esteve disposta a arriscar suas obras narrativas sem depender dos mesmos elementos de sempre. Então a ausência desses elementos afeta e muito a recepção do público, como aqui em Thunderbolts*, como em Eternos (Eternals, 2021), como em She-Hulk: Defensora de Heróis (She-Hulk: Attorney At Law, 2022 -).


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