A frase que aparece no subtítulo do texto é apenas uma das inúmeras frases cafonas e piegas que aparecem ao longo das quase duas horas do filme Karate Kid: Lendas (Karate Kid: Legends, 2025). O filme parece preso em um eterno saudosismo da década de 1980, algo comum nas produções americanas recentes, mas será que isso é algo ruim? De uma maneira geral, sim.
O uso recorrente do apelo ao passado, sem um viés crítico, apenas saudosista, com intuito de pegar parte do público por uma nostalgia exacerbada e presa ao sistema capitalista, é algo ruim e danoso, não apenas para as obras originais, mas para a preservação de um pensamento crítico. Por outro lado, ao trazer de volta certas franquias, um papel importante é desempenhado para o novo público: apresentar ou introduzir obras que têm uma importância levando em conta o contexto social da década de 1980, seja o da própria indústria americana ou da brasileira.
Digo isso, pois, como uma pessoa nascida nos anos 1980 e que passou boa parte da vida em locadoras na década de 1990, tenho Karate Kid: A Hora da Verdade (The Karate Kid, 1984) como um dos filmes que figuram no espectro da minha infância e adolescência. A partir desse ponto de vista, Karate Kid: Lendas apresenta uma premissa interessante. O uso de personagens e signos presentes nos filmes anteriores contribui para a sensação de estar em “um lugar já conhecido”, enquanto recicla uma história que já é conhecida pelos fãs. Sim, o filme trata de bullying, amadurecimento e o quanto as artes marciais, usadas com intuitos ruins, podem ser maléficas e, com sabedoria, podem ser benéficas.
A trama é a mesma; mudam os personagens, mas a essência está ali. O que talvez o filme mais falhe é em aproveitar a história estabelecida para trazer algo realmente novo. Por exemplo, o filme Creed: Nascido para Lutar (Creed, 2015) é uma aula de como um filme pode ser reconstruído, contando uma história original e preservando os principais aspectos dos filmes antigos da franquia Rocky. Aquilo que transforma Creed em um bom filme é a essência que está lá e sua capacidade de expansão para contar novas histórias.
Karate Kid: Lendas não é um filme ruim, mas está aquém do que poderia contar, principalmente levando em conta o sucesso da série Cobra Kai (2018 – 2025). Ele apresenta a mesma história, com um roteiro já conhecido e cheio de absurdos e conveniências (como um torneio de rua de Karate vai dar um prêmio de 50mil dólares?) e a reconta sem expandir sua história; poderia ser muito mais do que é, mas está preso no saudosismo. Isso não o faz ruim, é divertido, levando em conta o aspecto nostálgico, mas para ali em face de um pensamento um pouco mais crítico e das oportunidades desperdiçadas.
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Doutorando em Comunicação, sócio da Aceccine e da Abraccine, e um dos fundadores do SMUC. É bacharel em Cinema e licenciado em Letras. Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, k-dramas e animes, ama os filmes de Bruce Lee, Martin Scorsese e Sergio Leone, além de gostar de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou Nobuo Uematsu.