Borderlands: Renovando a Sessão da Tarde

Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo. Imagem: Lionsgate/ Divulgação

Acabou o período de férias escolares e, caso você seja um pai de família que se cansou por ter que ver filmes bobinhos para crianças o mês inteiro, agora você pode gastar seu dinheiro vendo filmes bobinhos para adultos. É bem o caso de Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo (Borderlands, 2024). Produção da Lionsgate que adapta o jogo homônimo para as telas do cinema e conta com Cate Blanchett, Kevin Hart, Jack Black e Jamie Lee Curtis no elenco principal (além de outras figuras conhecidas).

O filme chegas aos cinemas em 08 de agosto e dividiu as opiniões dos críticos americanos em suas apresentações teste, muito embora, nem as mais positivas resenhas tenham falado grandes coisas da aventura.

Nesta adaptação seguimos Lilith (Cate), uma mercenária casca grossa que é encarregada de resgatar Tiny Tina (Ariana Greenblatt), filha de Atlas (Edgar Ramírez), um poderoso e riquíssimo empresário, que está sequestrada em um planeta chamado Pandora. Para o azar de Lilith, Pandora é também seu planeta natal, um lugar de ela onde foi levada quando criança e para onde ela não gostaria de voltar.

Todo o resto que pode ser dito sobre o filme não é nada muito diferente do que você já deve ter visto em qualquer outro filme de ação e aventura genérico, caso você tenha mais de 30 anos. Mas não sei bem se esse filme é apropriado para alguém nessa idade. Quer dizer… Talvez isso não tenha ficado muito claro no decorrer da história.

Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo. Imagem: Lionsgate/ Divulgação

Borderlands não é pra adultos, nem pra crianças: é para jogadores!

Eli Roth não está em seu melhor momento como diretor em Borderlands. Não que isso seja raro! O cineasta assina trabalhos como O Albergue (Hostel, 2005) e Feriado Sangrento (Thanksgiving, 2023), ambos medianos. Mas, a falha mais notável nesta aventura é que o filme é bobo demais pra ser adulto e violento demais par ser infantil.

Para se ter uma ideia, ele está repleto de piadas de duplo sentido. No entendo, os palavrões são substituídos por xingamentos de 5ª série e, ao que parece, nenhum filme de comédia americano escapa das piadas escatológicas.

Não obstante, há assassinatos, balas, explosões, corte de machado e a incrível quantidade de 0 (ZERO!) ml de sangue em 100 minutos de filme. É impossível contar as mortes, que facilmente chegam a 100. Mas não há uma gota, uma gotinha sequer, nem uma sujeitinha de sangue. Nem mesmo quando alguém leva uma pancada de machado. Parece estranho? Bom, de repente os personagens sejam mesmo figuras eletrônicas retiradas dos games.

Vou lembrar que estamos falando de uma adaptação de uma franquia de jogos. Nesse sentido, Borderlands tem seus méritos. Os personagens realmente soam como figuras de games. Suas personalidades são retilíneas, com pouquíssima profundidade e que mais envergonham do que emocionam quando tentam passar qualquer tipo de emoção. Na maioria das vezes, seria melhor não ter tentado fazer isso e continuar segurando a audiência pela ação.

É provável que, se você for um jogador da franquia e conheça os personagens e o mundo do game, talvez você identifique e reconheça os mundos, os cenários, a busca pela tal “Arca” ou até os estereótipos de cada membro da equipe. A mercenária, a mestra das bombas, o “tank” que aguenta pancadas, o soldado, a cientista louca, porém muito inteligente e até o robô de suporte, que merece uma citação!

Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo. Imagem: Lionsgate/ Divulgação

Carregando o filme mesmo sem aparecer no filme

Aqui está uma característica de Borderlands que eu posso dizer sem nenhum medo: Jack Black é a melhor adição dessa comédia! Mesmo que não esteja presente “fisicamente”, já que ele interpreta o robô Claptrap, atuando apenas com sua voz. Não é exagero dizer que o auxiliar insistente e super-resistente de Lilith rouba a cena todas as vezes em que aparece. Dá pra arriscar que Roth tinha um preferido nessa produção.

Claptrap corta como uma navalha. É descaradamente irônico, a ponto de ser cínico. E não tem medo disso. Por conta de sua extrema resistência ele acaba sendo incumbido das tarefas mais arriscadas, o que o deixa muito irritado. Mas, como ele é um assistente, não lhe resta escolha que não seja obedecer.

Não obstante, sua dona o detesta desde o momento em que ele se revela pra ela – e ele não gosta muito dela também. No entanto, Claptrap foi programado para proteger Lilith e não pode fugir dessa responsabilidade, ainda que tenha que fazer isso sob protestos. Chega a ser hilário vê-lo comemorando todas as vezes em que ele pensa que ela perdeu a vida.

Há uma cena no trailer protagonizada por ele que, inclusive, aprece de forma bem mais reduzida no filme. Não posso dizer que ele salva Borderlands a ponto de transformá-lo em um ótimo filme. Mas, certamente, pode fazer você não se arrepender de pagar pelo ingresso. Jack prova mais uma vez que consegue ser engraçado e que não precisa de muito mais que sua voz pra conseguir isso.

Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo. Imagem: Lionsgate/ Divulgação

Borderlands tem um elenco de estrelas, mas sem nenhuma sintonia

Contando apenas Cate Blanchett e Jamie Lee Curtis, nós temos 2 vencedoras de Oscar. Junto a elas, temos a dupla cômica Jack Black e Kevin Hart, que já estiveram em Jumanji: Bem-Vindo à Selva (Jumanji: Welcome to the Jungle, 2017). Pra completar o time, Ariana Greenblatt, que esteve em Barbie (2023) e Florian Munteanu, que eu não conhecia de nome, mas que esteve em Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings, 2021). Parece um ótimo time, certo?

Bom, só parece mesmo. É incrível como um time como esse consegue ser tão pouco carismático e não passa o mínimo de entrosamento. Eles simplesmente não têm química! Ok, eu entendo que são personagens de video game e que, por isso, eles não têm que ser verossímeis, bastando apenas serem fiéis à suas “programações”. Mas isso não basta pra um filme! Ainda mais quando esse filme se propõe a causar um pouco de empatia que seja em quem está assistindo, a ponto de que nos preocupemos com o que acontece em tela.

Não há um só momento no filme em que alguma tensão possa fazer você sentir apreensão pela vida de algum desses personagens. Ou mesmo quando, aparentemente, algo grave acontece com um ou mais deles, vai ser difícil esboçar alguma emoção da cadeira. Passa batido e vida que segue. Reforço, mais uma vez, que, se você não for um dos jogadores da franquia, acho bem plausível que você sequer se lembre dos nomes dos personagens quando sair da sala de cinema.

Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo. Imagem: Lionsgate/ Divulgação

Desastre anunciado

Borderlands fez a Lionsgate gastar a bagatela de US$ 120 milhões para sua produção e divulgação. Já nas primeiras audiências de teste, as reações não foram boas. Na verdade, foram tão ruins que o filme teve que passar por severas refilmagens. Tim Miller, que dirigiu Deadpool (2016), conduziu as novas gravações, já que Roth estava ocupado com outro projeto (ou, pelo menos, foi isso que o estúdio disse). Mas Eli ainda é o único creditado.

A crítica americana não foi piedosa com a produção, que alguns especialistas chegaram a chamar de “lixo sem vida”. Na minha visão, não é para tanto. Ainda assim, é complicado para uma produtora esperar um retorno de apenas US$ 15 milhões em seu final de semana de estreia. Não fosse bastante, além de não ter agradado tanto, Borderlands ainda precisa competir como filmes como Deadpool & Wolverine (2024), que ainda está em cartaz.

Em entrevista, Eli Roth disse que se baseou em filmes como Star Wars, Mad Max e até mesmo Tropas Estelares para fazer Borderlands. Por fim, mesmo sendo um filme gostosinho que, futuramente, pode estar estrelando as tardes semanais da TV aberta, ou as tardes de domingo, em uma Temperatura Máxima da vida, ainda assim não é lá grande coisa e dificilmente será a primeira opção de alguém que vá ao cinema. A não ser que você seja um fã da franquia de games e tenha a curiosidade de ver como o jogo foi adaptado.

A única ideia perpetuada por essa equipe de desajustados é que fazer filmes baseados em jogos eletrônicos continua não rendendo resultados positivos. Com raríssimas exceções.


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