Quando assisti Priscilla (2023), saí até animada do cinema, considerei bastante interessante a forma como a Sofia Coppola conseguiu demonstrar como a vida da esposa do Elvis Presley se tornou apenas isso: esposa do Elvis Presley. Durante um período da sua vida, é claro, mas é justamente o momento que o filme decidiu retratar, esse relacionamento abusivo e de um maior de idade com uma garota de 17 anos. O problema é que quando comecei a conversar sobre o filme, me perguntei o motivo da sua existência, sua relevância, o motivo da escolha justamente da Priscilla Presley, dentre tantas.
Acompanhamos Priscilla (Cailee Spaeny) e Elvis (Jacob Elordi) se conhecerem na Alemanha, enquanto ele estava servindo ao exército e ela estava com o pai, que também se encontrava lá pela mesma razão, em uma festa de conhecidos. Desde o primeiro dia, os dois não se desgrudam mais e o romance vai crescendo ao longo do filme, o namoro, o período em que a protagonista vai morar na casa do Elvis, a festa de casamento, enfim, temos um panorama pela visão da Priscila sobre como tudo funcionou desde o primeiro momento. E, é claro, todos os alertas vermelhos se acendem: um cara mais velho, extremamente famoso e disputado, que se torna absolutamente devoto de uma moça de 17 anos que ainda não terminou o Ensino Médio, não sossega até os pais permitirem que o relacionamento aconteça. Alguma chance de ser uma boa ideia?
No início ele se mostra doce, preocupado, cuidadoso, um namorado dos sonhos, mas as situações começam a mudar quando Priscila passa a morar junto, o público e a protagonista vão percebendo juntos as pequenas atitudes desviantes do Elvis, desviantes da sua forma de sempre agir com Priscilla, sendo grosseiro, violento, traindo, mentindo, a colocando em situações constrangedoras e a abandonando na casa sempre que possível. É uma vida de tédio, monotonia, mas ao mesmo tempo agitada, festiva, completamente insana e inacreditável. As emoções da Priscila mudam, escalonam, caem de muitas formas ao longo do filme, tudo isso foi bem feito, mas a dúvida ainda permanece, eu ainda não entendo o motivo para que seja feito um filme sobre essa personalidade especificamente.
Os estadunidenses gostam de fazer filmes celebrando suas estrelas, contando histórias tristes ou de superação de pessoas que foram importantes, por isso tanto conteúdo sobre o Elvis, que teve toda a sua fama na música e no cinema. Agora temos a perspectiva de quem viveu ao seu lado da forma mais íntima, mas é necessário? Sim, é compreensível que essa mulher estava em uma relação triste, abusiva, que a fez infeliz e a fez perder parte da sua juventude. Só que, ao fim, o que me resta é mais uma vez o sofrimento da pobre menina branca, com o devido respeito, é claro. Com tantas histórias e pessoas em um país, é realmente necessário retratar mais uma vez a vida luxuosa, tediosa e onde tudo pode ser curado com o poder do dinheiro? São questionamentos que podemos fazer sem retirar todos os méritos interessantes que possam estar contidos no filme. No fim, é apenas mais do mesmo.
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Psicóloga, apaixonada pela psicanálise e absolutamente obcecada por true crime, thrillers e máfia. Falo mais que a mulher da cobra e poderia viver facilmente apenas de livros, séries e filmes.