Meu Amigo Lutcha – Como um abraço quentinho durante um fim de semana chuvoso

Filmes para família são algumas vezes os melhores para assistir, por não exigirem muito do expectador, é possível ver com o máximo de pessoas possível e as expectativas são baixas, porém atingidas na maioria das vezes sem muitos problemas. Longas como: Meu Amigo, O Dragão (Pete’s Dragon, 2016), As Aventuras de Paddington (Paddington, 2014), Mimzy: A Chave do Universo (The Last Mimzy, 2007), Alvin e os Esquilos (Alvin and the Chipmunks, 2007), entre outros exemplares, são a prova que é possível dizer que o cinema do entretenimento é um dos mais gostosos e satisfatórios de se apreciar. 

É seguindo nesta linha que estou aqui para falar do filme Meu Amigo Lutcha (Chupa, 2023) da Netflix, dirigido por Jonás Cuáron (sim, filho do aclamado diretor Alfonso Cuáron) e produzido por Chris Columbus e Mark Radcliffe que estão acostumados a produzirem longas deste estilo como Harry Potter e Crônicas de Natal: Parte 1 e 2, todos sucessos de bilheteria ou audiência, chegam com uma trama divertida de um mito bastante popular na cultura latina.

A narrativa tem uma premissa simples: conta a história do garoto Alex (Evan Whitten), que vive deslocado na escola, acentuado pela perda precoce do pai, vivendo com a mãe na cidade de Kansas City nos EUA. Ao embarcar em uma viagem para visitar o avô (Demián Bichir) e os primos na cidade San Xavier, no interior do México, acaba encontrando uma criaturinha que antes existia apenas através de contos e mitos, o chupa cabra.

A figura mitológica do “Chupa Cabra” sempre foi descrita como algo assustador e ameaçador em alguns contos mexicanos que falavam de uma criatura que apavorava moradores de fazendas chupando o sangue de animais de criação fundando assim o mito que passou de geração para geração amedrontando crianças e adultos.

O filme prefere uma abordagem mais amigável, toda a parte assustadora ainda está lá, mas é totalmente quebrada por uma narrativa que prefere transformar a figura do chupa cabra de criaturas estranhas em algo mais palpável ao mostrar o encontro de uma criança com um filhote que foge para não ser capturado por caçadores gananciosos liderados pela figura inescrupulosa de Richard Quinn (Christian Slater).

A estrutura narrativa aqui é bastante comum, sem grandes pretensões, porém o que mais encanta no roteiro escrito por Sean Kennedy Moore, Joe Barnathan e Marcus Rinehart é a forma como o filme explora a temática da relação de pertencimento e a aceitação de suas próprias raízes, a figura de Alex que é descendente de mexicanos mostra que a aculturação dos imigrantes mexicanos causa um conflito de gerações que resulta por “americanizar” crianças latinas que acabam perdendo contato com suas origens.

A jornada do protagonista é puramente um resgate da própria história e a conexão com os primos Memo (Nickolas Verdugo) e Luna (Ashley Ciarra) é um retorno à própria cultura, que também traz a parte do amor mexicano pela luta livre e pelos mitos fantásticos aqui transformados numa fantasia sensível e sincera, representado pela figura de “Chupa” ou “Lutcha” (em português para evitar piadinhas infames). A direção consistente de Jonás Cuáron consegue, mesmo com toda previsibilidade, fazer a história ganhar nossos corações com momentos família de pura ternura e carinho.

É claro que Meu Amigo Lutcha é também um filme modesto, com efeitos visuais decentes e boas sequências de ação, que ajudam a movimentar uma história que não tem muitas reviravoltas, mas consegue prender nossa atenção fazendo o simples e entregando também boas lições sobre amizade, família, ancestralidade e representatividade latina.

A Netflix está virando especialista neste tipo de filme e este aqui não é diferente, mesmo que não seja algo que deva mudar o gênero, temos aqui boas atuações do elenco mirim, que as vezes fica devendo na interação com a criaturinha em CGI, mas não é algo que afete o resultado, que continua entregando uma narrativa que tem muito coração abraçando clichês da forma correta sem exagerar na própria fórmula.

De uma forma geral, Meu Amigo Lutcha” é um filme muito bom, daqueles que provavelmente não deve surpreender, mas cumpre seu papel dentro do gênero família e aventura de uma forma bastante correta, equilibrando bom humor, personagens carismáticos, muito tempero latino em uma fantasia honesta que explora a amizade de um menino e um bichinho fofo visualmente amigável. No final das contas o entretenimento aqui é garantido, numa trama que deve agradar crianças e adultos, além de deixar o coração quentinho servindo como programa ideal para um fim de semana descompromissado. 


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