Em seu terceiro ano, a série parte do Arrowverso (sem o Arrow já há uns dois anos, que qualquer entidade divina da DC o tenha) trás novamente o protagonismo à maior super heroína de Gotham. Depois de uma conflituosa segunda temporada, onde o arco de passagem do manto da Batwoman de Kate Kane (Ruby Rose e Wallis Day a interpretaram) para Ryan Wilder (Javicia Leslie), a terceira temporada do seriado mergulha em uma das partes mais importantes da mitologia do Batman: seus vilões.
Após os troféus do Batman terem sido roubados no final da segunda temporada e perdidos por Gotham, temos o nascimento de novos vilões fruto dos mesmos troféus. A série encontrou uma forma interessante de mergulhar na história de tantos vilões explorados e não tão explorados do Cavaleiro das Trevas sem ter de usá-los apropriadamente dizendo. Uma ideia não apenas criativa, mas capaz de trazer novos e interessantes elementos para a história do seriado.
Talvez não de forma proposital, a série acabou criando sua própria identidade ao longo de três temporadas trazendo a Batwoman como uma combatente ao crime. Bem o oposto do feito no seriado Supergirl (2015 – 2021) onde a personagem é uma versão de sua contraparte masculina, a Batwoman não é uma detetive. Ela luta contra o crime, não muito diferente de outros heróis do Arrowverso mas isso funciona bem aqui no seriado para a distanciar da ideia de ser uma versão feminina do Batman.
Mesmo se tratando de uma série diretamente relacionada ao legado do Batman, a série consegue nessa temporada usar dos mitos envolvendo os vilões do Cavaleiro das Trevas e mesmo assim permitir o desenvolvimento não apenas da Batwoman mas como do resto do Bat-time. Os enredos não são tão focados mais em explorar em como o Batman ou a primeira Batwoman fariam as coisas, mas sim em como essa equipe tem de lidar com os conflitos de sua própria forma e melhorar.
É isso que significa criar um legado, agora Ryan Wilder é, com todas as letras, a heroína cujo manto ela assumiu. Não se trata de como a personagem de Ruby Rose se espelhava no Batman na primeira temporada da série ou como Wilder tentava vestir o manto como Kate Kane o fazia na segunda, é uma temporada com Ryan Wilder sendo a Batwoman e líder do time. Ela é perfeita? Longe disso, mas seus erros são seus e seus acertos e desenvolvimentos também.
Explorando mais o lado humano de nossa protagonista, o seriado mergulha no mistério por trás da mãe biológica de Ryan que foi revelada estar viva no final da segunda temporada. E ainda melhor, nos trouxe a atriz Rob Givens vivendo a personagem Jada Jet – baseada na personagem Jezebel Jet, um dos muitos interesses amorosos de Bruce Wayne nos quadrinhos. A dinâmica da família, que não conta apenas com a matriarca líder de uma companhia rival da Wayne Enterprise, é explorada ao longo da temporada.
Ver a personagem Ryan Wilder lidando com ser a Batwoman e enquanto isso encontrar seu lugar numa “nova” família que não quis ou até mesmo parece não querer nada a ver com ela é interessante. A atriz Javicia Leslie consegue explorar muito bem o seu protagonismo e o equilíbrio entre sua vida pessoal e a vida como vigilante da cidade de Gotham. Agora muito mais segura e madura do seu local como Batwoman, a sua vida como Ryan Wilder é onde a temporada guarda seu verdadeiro conflito.
No topo disso temos o retorno de personagens regulares da série como Mary Hamilton (Nicole Kang), Luke Fox (Camrus Johnson) e a antagonista de temporadas anteriores, Alice (Rachel Skarsten). Depois de uma segunda temporada bem arrastada para sua personagem, Rachel Skarsten consegue sair mais de uma mesmice de Alice vilã e psicopata. Inclusive, elementos de figurino trabalham muito com vermelho, talvez em referência a carreira de anti-heroína da personagem nos quadrinhos, quando assume o manto de Alice Vermelha.
A relação de irmandade entre a personagem de Skarsten e a personagem de Nicole Kang é bem explorada, além de boas surpresas para a personagem Mary Hamilton – criação original da série como irmã adotiva de Kate Kane e Alice. É uma relação ainda mais complexa do que as irmãs Beth (Alice) e Kate, por Alice ter sido diretamente responsável pela morte da mãe de Mary na primeira temporada. Mas a personagem de Kang lida com surpreendentes arcos, enquanto se encontra como a única não operativa de campo do Bat-time e as vezes não ser ouvida por seus companheiros. Além de uma transformação diretamente relacionada ao arco principal da temporada.
Surfando na onda de trazer o legado do Batman e trabalhar a cultura LGBTQIA+ da série, um dos principais obstáculos do time durante a temporada são as plantas da Hera Venenosa. Para os que não sabem, a Hera Venenosa é uma ecoterrorista e vilã bissexual do Batman, constantemente associada com a Arlequina, com quem mantém relação. No seriado a personagem é ex da policial Renée Montoya, interpretada por Victoria Cartega que já interpretou a mesma na primeira personagem do seriado Gotham.
O seriado trabalha a Hera Venenosa como uma ameaça à espreita, sem exatamente mostrar a personagem Pamela Isley (a original, como é frequentemente chamada durante a temporada) interpretada por Bridget Regan. Usada apenas em poucos episódios, a personagem deixa sua marca e tem um desenvolvimento excepcional, especialmente levando em consideração as razões ecológicas sob seu antagonismo. Seria Hera Venenosa uma vilã mesmo ou apenas uma personagem muito disposta a fazer o certo pelo bem do planeta e da natureza? O relacionamento da antagonista com Renée Montoya é muito explorado pelo seriado e bem trabalhado, dando profundidade às personagens e a uma complexa relação entre as duas.
Na sua terceira temporada, Batwoman (2019 -) trás enredos originais e bem trabalhados com personagens e arcos muitos mais maduros do que suas anteriores temporadas. O seriado está disponível no streaming HBO Max.
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Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.