Batwoman: 2ª Temporada – Legado e importantes temáticas

Seguindo à primeira temporada, com uma Kate Kane (então interpretada por Ruby Rose) se tornando a nova protetora de Gotham na forma de Batwoman, nesta segunda temos grandes reviravoltas para a cidade e para o manto da heroína. 

No seu segundo ano, a série começa com um misterioso avião caindo com uma vítima letal: Kate Kane. Sim, a nossa Batwoman é uma das primeiras baixas da temporada e o mistério por trás de sua jornada e seu falecimento cercam grande parte do enredo – talvez até demais. Deixados pela ausência de Kate, não é tanto o enredo que sofre, mas sim os personagens, os quais passam a maior parte da temporada decididos a não desistirem da ideia de seu retorno. Isso toma um protagonismo mais frequente do que a própria protagonista da série.

Sim, chegamos a ela. Vinda de um passado abalado como uma ex-presidiária, Ryan Wilder (interpretada pela incrível e bissexual Javícia Leslie) cai de paraquedas no meio de toda a confusão de Gotham. De um certo modo, a forma como a mulher chega até o manto de Batwoman é incrivelmente fluida, assim como sua forma de agir como a heroína. A integração da personagem à história funciona e é capaz de tornar até a série mais “assistível”. Isso porque a personalidade, as motivações, e até a atuação da protagonista, são tremendamente superiores ao visto na primeira temporada.

Em sua primeira parte, a temporada trata especialmente de lidar com o fato de Ryan Wilder estar assumindo o legado como Batwoman. Nestes primeiros episódios temos uma introdução mais profunda à história de Wilder e como há enormes diferenças entre ela e Kate. Vindo de lares adotivos e tendo como interesse amoroso uma pessoa que nunca a abandonou, Ryan se afasta dos luxos da família de Kate e sua paixão eterna por Sophie Moore (Meghan Tandy), a mulher que escolheu abandonar anos antes.

Do fruto de seu amor temos o primeiro obstáculo na vida de Ryan como Batwoman, por ela não apenas ter de lidar com manter a sua identidade em segredo mas também com o fato de sua namorada Angelique Martin (Bevin Bru) ter envolvimento com o mundo do crime. Na primeira temporada a Batwoman era apaixonada por uma mulher cuja missão era lhe prender, como parte dos Corvos, e agora a nova Batwoman se mete em alguns problemas para proteger sua namorada. É uma dicotomia interessante entre as duas. 

Ao avançarmos com o enredo, a história ainda opta por uma aproximação do “vilão da semana”, como em sua temporada anterior e a maioria das séries da DC na CW. Mas o antagonismo principal da série é dividido em Safiyah (Shivani Ghai) e Máscara Negra (Peter Outerbridge). Ambos são vilões capazes de adicionar muito ao enredo e às próprias narrativas dos personagens. Os antagonistas funcionam muito mais aqui nessa temporada do que a relação conturbada entre as irmãs na primeira.

Falando sobre avanços da série, é importante observar um dos melhor pontos da temporada residindo em como a personagem de Javicia Leslie age como Batwoman. Afinal, os males pelas ruas de Gotham não são algo nem um pouco novo nos mitos do Batman, mas trazendo essa realidade para o mundo real se faz importante reconhecer o quanto combater o crime não vai resolver os problemas da cidade. Em tempos onde a brutalidade policial se mostra cada vez mais evidente, é necessário combater essas ideias de que porrada vai resolver tudo.

A série aborda a temática de uma forma extremamente orgânica e termina por tomar rumos surpreendentes, levando em conta a violência policial em Gotham. Antes tarde do que nunca, especialmente para um universo há tanto tempo criado na televisão, é hora de reconhecer o quanto as forças de manutenção de ordem agem de forma violenta e racista nas ruas. Em um episódio todo centrado nos personagens negros da série, nossa protagonista, a personagem de Tandy e o Luke Fox (Camrus Johnson) debatem sobre suas diferentes origens e como cada um deles sempre foi levado a lidar com o racismo de sua própria forma. 

No mês do Orgulho LGBTQI+ é importante tomar conhecimento sobre quanto o fato da nova Batwoman ser uma mulher negra e lésbica é importante. Entretanto, devido à pandemia do COVID-19, tivemos uma quantidade limitada de cenas de intimidade entre Ryan e seus interesses amorosos, algo a se esperar de uma terceira temporada. Ainda há muito para se explorar da personagem de Javicia no futuro, e agora ela não precisará viver à sombra de sua antecessora, melhor desenvolver ela como sua própria heroína.

Para um futuro da série seria interessante ver melhor o desenvolvimento de algumas relações como a fraternidade não opcional entre a antagonista (ou anti-heroína) Alice (Rachel Skarsten) e Mary Hamilton (Nicole Kang). Afinal, há muito mais história aí para ser explorada, em diversas camadas, especialmente considerando a morte da mãe de Mary pelas mãos de Alice. É hora de, finalmente, a série optar por largar a mão de Alice como vilã e antagonista ou largar a mão da mesma, pois cada vez mais esse enredo de ir e voltar se torna enfadonho. 

Com o final de Arrow (2012 – 2020), Supergirl (2015 – 2021), Raio Negro (Black Lightning, 2017 – 2021) e a saída de Kate Kane, a nova temporada de Batwoman (2019 -) se faz um pontapé inicial para uma nova etapa do universo DC na TV. Mesmo seguindo certos caminhos repetitivos ou tediosos, a série consegue se manter com uma boa estrutura, personagens com forte potencial e belas cenas de ação (para uma série de televisão). Já confirmada para uma terceira temporada, nos resta esperar para ver a continuidade da história de Ryan Wilder como Batwoman.


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