Filmes são janelas não apenas para grandes histórias, mas para outras realidades, outros mundos que te transportam e te levam a sonhar e viajar apenas assistindo, seja na tela grande de um cinema, seja no sofá de casa. Animações às vezes transcendem ainda mais que as versões em carne e osso, pois permitem que equipes responsáveis por desenhar e criar esses mundos tenham a maior liberdade possível para usar a criatividade e criar histórias lindas e encantadoras, histórias como a de Arlo, O Menino Jacaré (Arlo The Alligator Boy, 2021), animação da Netflix que chega carregada de esperança e alegria, capaz de capturar a imaginação de crianças e adultos.
Esta animação 2D da, dirigida por Ryan Crego – estreando na função -, conta a história de Arlo, um jacaré humanóide que embarca numa jornada para chegar na cidade grande e conhecer seu pai verdadeiro depois de anos vivendo com a mãe adotiva no pântano. O longa é uma aventura, mas também é grande musical, colorido, exagerado, e entrega bastante coração, mesmo tendo uma premissa simples que nas entrelinhas tem muito mais a dizer.
O roteiro escrito pelo próprio Crego e coescrito por Clay Senechal (Deputy) se revela imaginativo ao inserir diversos personagens híbridos num mundo que cheio de humanóides esquisitos, mas que são puro carisma, emoção e fáceis de conquistar se juntando a Arlo nas suas peripécias para chegar em Nova York e realizar o sonho de reencontrar o pai. A trama é bacana, pois mistura diversos números musicais que vão desde o country brejeiro do interior dos EUA, passando pelo pop chegando ao jazz, tudo muito bem-produzido e principalmente, bem cantado.
E para ser bem cantado, as vozes recrutadas para interpretar Arlo e sua melhor amiga Bertie são Michael J. Woodard (um dos finalistas do reality American Idol) e a cantora e compositora Mary Lambert, ambos que brilham com vozes poderosas ao cantar músicas com letras inspiradas, chicletes e que realmente capturam a aura alegre da animação, deixando o coração de quem assiste quentinho e o rosto com sorriso de orelha a orelha.
É claro que a trama de Arlo, O Menino Jacaré não é lá muito inovadora, mas não esconde seu aspecto “queer” bastante atual que fala sobre aceitação, amizade e encontrar seu caminho num mundo de aparência e julgamentos, mas que claramente precisa de pessoas diversas como Arlo, Bertie, Pequeno Tony (Tony Hale), Furlecia (Jonathan Van) dentre outros personagens magníficos que tornam essa história ainda mais vibrante e única.
Olhando para os aspectos visuais da animação, temos aqui traços marcantes, coloridos e realizados com bastante esmero, em alguns momentos soa cartunesco, porém é normal dentro do contexto apresentado, a verdade é que a fotografia é linda, com uma paleta de cores magnifica que ficam mais complexas e vibrantes a cada novo lugar que Arlo e seus amigos chegam. Aliás, quando a turma chega em Nova York, animação ganha muito em complexidade visual e temática, é lindo de se ver.
O filme insere dois caipiras na trama como vilões para perseguir Arlo, mas estes só servem como uma mera representação conservadora e antiquada que aqui ganha aspectos exagerados e bem-humorados, mas que no final das contas é mais uma metáfora das pessoas no mundo real que perseguem e insistem no preconceito a pessoas que são diferentes delas.
A trama pai e filho inserida no desenho é bastante significativa e poderosa, isso fica muito claro no terceiro ato do filme, evidenciando o peso da animação em transmitir um contexto LGBT numa história infantil de maneira orgânica e que servirá de parâmetros para o público infantil enxergar o mundo de uma forma mais diversa onde ser diferente é normal e ser você mesmo é algo poderoso e único.
Por tudo isto que foi comentado, Arlo, O Menino Jacaré é um achado, talvez uma das obras mais lindas do ano até o momento, misturando aventura e musical de uma forma espetacular, com músicas que vão deixar você vibrando do começo ao fim, além é claro de te fazer apaixonar pelos personagens e principalmente pelo otimismo inabalável de Arlo que sempre vê o mundo como o copo metade cheio. Esta obra merece ser descoberta e apreciada, não só pelas boas lições de amizade e aceitação para o público infantil, mas pelo encantamento que ela provoca ao mostrar que existe muitas vantagens em ser você mesmo, e que isso te torna especial e único em relação ao resto do mundo.
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Engenheiro Eletricista de profissão, amante de cinema e séries em tempo integral, escrevendo criticas e resenhas por gosto. Fã de Star Wars, Senhor dos Anéis, Homem Aranha, Pantera Negra e tudo que seja bom envolvendo cultura pop. As vezes positivista demais, isso pode irritar iniciantes os que não o conhecem.