Falcão e o Soldado Invernal – É preciso mergulhar mais fundo

 

Segunda série oficial do MCU e também a segunda propriedade da Fase Quatro do Universo Marvel, a série Falcão e Soldado Invernal (The Falcon and the Winter Soldier, 2021) estreou em março e chegou à conclusão no último dia 23 de abril. Com o intuito de dar continuidade à história de Sam Wilson (Anthony Mackie) e Bucky Barnes (Sebastian Stan) sem os levar como parceiros do grande Capitão América de Steve Rogers (Chris Evans) após o final de Vingadores: Ultimato (Avengers: Endgame, 2019). No final do filme, um Steve mais velho entrega o escudo do Capitão América – e portanto o seu manto – para Sam Wilson, confiando a seu aliado o título e a responsabilidade sob ele.

Bem, ao começarmos a série, logo acompanhamos Sam, seis meses após ter recebido o escudo de Steve Rogers, e descobrimos sobre ele não ter aceitado se tornar o próximo Capitão América. É essa a sua jornada ao longo da série, entender seu lugar como o herói num país que não o deseja como Capitão América, um país responsável por perpetuar horrores contra a população negra durante séculos. Afinal, na jornada dos Estados Unidos, nunca houve um Capitão América negro e o governo deixa bem claro logo no primeiro episódio sobre a importância de manter o título o mais branco e militar possível. 

É então que somos apresentados ao terceiro protagonista desta série, John Walker (Wyatt Russel), o soldado americano escolhido pelo governo para ser o novo Capitão América. Acho necessário ressaltar não apenas a branquitude do personagem, mas o fato dele ser um renomado militar, algo bem necessário quando se trata de manter os ideais americanos na base do diálogo (ironia porque ele resolvem tudo na base da guerra). A figura de Walker é antagônica aos nossos heróis titulares, mas ele nunca de fato se apresenta como um antagonista para a série. Afinal, existe muita coisa acontecendo e o problema de Walker é mais sobre como ele acredita que seja necessário resolver as coisas.

A trajetória de Barnes era uma muito aguardada pelos fãs que acompanharam-na dentro do MCU, por finalmente estar lidando com o seus traumas durante o tempo controlado pela HYDRA. O mesmo foi perdoado pelo governo americano, pelos crimes cometidos como Soldado Invernal, e tem sessões de terapia obrigatórias com a Dra. Christina Raynor (Amy Aquino). Enquanto sua preocupação com o legado de seu grande amigo é uma de suas narrativas, a parte realmente importante da história de Barnes ao longo da série é lidar com o seu tempo como Soldado Invernal. Sua jornada é sobre a superação de seu trauma e também decidir o caminho a ser seguido por si, como Bucky, o Soldado Invernal ou então Lobo Branco (codinome dado a ele durante seu tempo em Wakanda).

Num mundo pós ‘bleep’, metade da população do mundo ressurgiu após cinco longos anos e as pessoas ainda estão se reajustando a este novo status quo. Durante este tempo, os países ao redor do mundo receberam de braços abertos pessoas de todo o globo para ajudar a reconstruir. Mas, bem como o gigante do imperialismo funciona, uma vez toda a população tendo voltado, resolveram expulsar as pessoas de seus novos lares. Então é daí que nasce o movimento dos Apátridas, pessoas lutando por um mundo sem fronteiras, sem bandeiras, onde países não podem simplesmente expulsar pessoas de seus lares por julgar ser correto. 

É neste mundo onde Karli Morgenthau (Erin Kellyman) lidera o seu grupo de Apátridas dotados de um soro do supersoldado com o fito de unir o mundo como uma só nação sem fronteiras. Servindo como antagonistas principais e todo o mistério cercando um novo soro do supersoldado, a ameaçado dos Apátridas leva toda a temporada e tem uma forte base de eficiência. Mas bem, esse grupo não é a única força antagônica da série, contando também com o retorno de Helmut Zemo (Daniel Brühl), querendo acabar com todos os super soldados, e Georges Bartroc (Georges St-Pierre). Ambos foram antagonistas nos dois últimos filmes do Capitão América, um deles com um papel bem mais relevante que o outro e na série não é diferente. Ambos os personagens conseguiram ser muito melhor explorados no seriado do que foram inicialmente nos filmes, especialmente a personalidade de Zemo. 

A nação Madripoor é explorada durante a série e promete se tornar algo mais importante para o MCU no futuro, considerando o quão é relevante para o universo Marvel nos quadrinhos (em especial para os mutantes, mas esse não é o caso na série, fãs dos mutantes não se animem muito). Descobrimos como o local é um submundo criminoso onde todos os tipos de bandidos comandam, e também o lar para uma antiga personagem do universo Marvel, Sharon Carter (Emily VanCamp). No episódio onde visitamos o local somos apresentados a um lugar visualmente interessante e uma nova realidade para os nossos protagonistas. 

Em seis episódios a série consegue apresentar uma grande quantidade de personagens e enredos, dando cada vez mais profundidade para os personagens de Bucky e Sam, mas falha gravemente em desenvolver todo o resto. Fora Sam, Bucky e Walker, os personagens apenas surgem, duram alguns segundos e então somem até ter seu enredo brevemente resolvido ou então esquecido. Existem muitos arcos e personagens interessantes, mas poucos deles são realmente aproveitados como potencialmente poderiam ser e isso pode desanimar um pouco. Mas a série em si consegue fazer boas críticas ao governo americano e a forma como o mundo reage à imigrantes, mas para um série lidando com os problemas de um mundo real – especialmente uma série feita nos Estados Unidos – ela faz um trabalho adequado.

Porém, a primeira série da Marvel sobre um herói negro americano não tem pessoas negras o suficiente na equipe técnica ou em seu elenco. Exatamente porque o discurso da série sobre o racismo termina se esvaziando quando a mesma ignora a existência de personagens negros de relevância para o enredo. A irmã de Sam, Sarah (Adepero Oduye) tem uma ótima presença de tela e uma química muito boa com o protagonista, mas a presença dela na série parece meio perdida às vezes e muito mal explorada, pois seu enredo só é deixado pra depois, e quando ela volta tudo está resolvido. E o discurso sobre a importância de um homem negro herdar o manto de um herói americano deveria ser menos sobre ‘nós negros devemos poder lutar por esse país’ e mais sobre ‘esse país precisa mudar pelo que fez e faz com pessoas negras’. 

Servindo mais como um meio em vez de um todo, Falcão e o Soldado Invernal deixa muitas portas abertas para o futuro do MCU. Infelizmente, como um seriado, especialmente um seriado limitado, deveria ao menos servir mais para concluir seu próprio enredo em vez de parecer mais um ‘filler’ para o Universo Marvel no geral. Enquanto as conexões funcionam bem, a série deveria ter se sustentado mais como uma obra fechada, mas não o faz. O gosto de “quero mais” deixado pela série não é aquele tipo de “quero mais” onde a obra foi incrível e desejamos ver mais, mas sim pois sentimos não ter de fato se concluído em todo o seu enredo. A série funciona bem para abrir as portas e lacunas, mas não trabalha bem em fechar as mesmas de forma satisfatória. 

Acompanhe no Disney+ a jornada sobre Sam Wilson lidar com o peso e a importância do escudo e manto do Capitão América. A série também conta com a participação de personagens importantes dos quadrinhos ao longo de seus episódios, como James Rhodes (Don Cheadle), Ayo (Florence Kazumba) e a grande estreia de Isaiah Bradley, o primeiro Capitão América, interpretado por Carl Lumby, tendo incríveis cenas de tirar o fôlego. Outras duas importantes aparições são a de Elijah Richardson como Eli Bradley, o Patriota, líder da primeira formação dos Jovens Vingadores dos quadrinhos e Danny Ramirez como Joaquim Torres, um personagem que auxilia Wilson em sua missão e com um interessante destino nos quadrinhos. 

O que nos aguarda agora? Um quarto filme do Capitão América, estrelado por Anthony Mackie, dando sequência ao seriado.


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