WandaVision – A criação espontânea de um sucesso

Ainda em 2018, antes do lançamento do filme Vingadores: Ultimato (Avengers: Endgame, 2019), onde foi dado um fim à Saga do Infinito, a Marvel começou a trabalhar em algumas séries limitadas para expandir seu universo já existente a dez anos. Elizabeth Olsen e Paul Betthany seriam protagonistas de uma destas séries, WandaVision, e sua relação seria melhor explorada. Era uma ideia legal, mas ainda não havia muito a ser dito sobre a série considerando que ambos os personagens havia sido mortos (ou sumido após o estalo de Thanos) meses antes, em Vingadores: Guerra Infinita (Avengers: Infinity, 2018).

No ano de 2019 foram dadas mais informações sobre a série, que acompanharia os protagonistas ao longo de sua vida de casal e prestaria homenagens às sitcoms clássicas. Para conhecedores da Wanda (Olsen) e seus poderes, havia já uma abstrata ideia de que a personagem usaria sua habilidade de alterar a realidade para criar esse mundo. Ou, de alguma forma, ela e seu marido, Visão (Betthany), estariam nessa nova realidade por alguma razão. 

Se não fosse pela pandemia do COVID-19, a série da Marvel Studios teria sido lançada ainda em 2020, após o seriado Falcão e Soldado Invernal e o filme da Viúva Negra. Devido a atrasos nas gravações e à realidade da pandemia no mundo o calendário da Marvel foi reorganizado e WandaVision (2021) marcaria o começo da quarta fase de seu universo compartilhado. A primeira prévia da série veio em 2020 no comercial do Superbowl e mostrava o casal vivendo num mundo semelhante a sitcoms dos anos 50 e 60, sem cores. A série ainda era uma total incógnita, mas parecia ser uma ideia interessante e muito fora da curva das narrativas de super heróis vistas antes. 

Seus dois primeiros episódios foram lançados dia 15 de Janeiro de 2021 e marcariam o começo de uma incrível jornada, não apenas para os personagens da série, mas também para quem a acompanhava. Em seu primeiro episódio temos um enredo muito ‘advinha quem vem para jantar’ e o casal se metendo em confusões, sem qualquer explicação prévia para a razão deles estarem ali. Logo depois acompanhamos o casal quando as coisas todas saem do esperado e Wanda precisa usar seus poderes para manter o segredo sobre eles existirem, emulando bem A Feiticeira (Bewitched, 1964 – 1972). 

Teorias começam a surgir, vários vídeos e textos online sobre os easter eggs plantados pelo episódio e o que podem significar para o enredo da série. Lembrando, não haviam dado qualquer respostas ainda, então não sabíamos quem seria o antagonista responsável por tudo isso ou como isso havia começado. Desde os primeiros episódios da série fomos apresentados ao maravilhoso talento de Kathryn Hahn, interpretando a vizinha metida de Wanda e Visão, Agnes.

Embora o romance de Wanda e Visão tenha sido levemente introduzido em filmes como Vingadores: Era de Ultron (Avengers: Age of Ultron, 2015), Capitão América: Guerra Civil (Captain America: Civil War, 2016) e Vingadores: Ultimato, a série consegue fazer esse casal de verdade convencer e acontecer. Mesmo com as teorias e as faltas de respostas, a série conseguiu capturar o público com esses dois protagonistas cuja química dentro desse romance pôde finalmente ser explorada de uma forma adequada. O desejo era ver como os dois iam lidar com os problemas da vida cotidiana como um casal suburbano ao mesmo tempo levantando questões sobre tudo por trás daquilo.

Novos personagens foram uma brilhante surpresa dentro da narrativa, ou pelo menos a forma como o seriado os reapresentou. Dentre eles o brilhante talento de Teyonah Parris, vivendo a antes jovem Mônica Rambeau, vista em Capitã Marvel (Captain Marvel, 2019). Primeiramente, vemos em Mônica (ou Geraldine durante suas primeiras aparições no show) uma possível amiga para Wanda. Ao longo da série podemos ver o quanto houve – e há – sinceridade nos laços de amizade criados pelas duas, mesmo com a existência de forças externas as colocando em lados opostos. Existem muitos momentos onde a Teyonah é permitida brilhar dentro desta série, dentre deles o episódio 4 (We Interrupt This Program) inteiro onde temos muitas respostas sanadas – mas também mais questões feitas. 

Nem tudo é o que parece. Aos poucos, diversas forças poderosas mexem com esse mundo perfeito e as coisas começam a virar um verdadeiro caos. Mesmo com tudo desabando e fugindo ao controle, podemos contar com episódios envolvendo toda a família de Wanda. Para os fãs dos quadrinhos, a aparição dos gêmeos de Wanda não veio como uma surpresa, mas sim a forma como tudo seguiu e pudemos ver os talentosos atores, Julian Hilliard (Billy) e Jett Kline (Tommy). A atmosfera trazida para todo o programa quando a família está completa é um dos fatores essenciais para consagrar o seriado como uma obra original e fascinante de uma forma totalmente nova para uma adaptação de quadrinhos. 

Levando em consideração o marco de WandaVision ser a primeira série oficial dentro do cânone do Marvel Studios, foi extremamente interessante poder acompanhar o desenrolar dos enredos. Além de tudo, poder observar o amadurecimento de personagens tão cativantes, como a série consegue ir de uma leve comédia para um drama emocional a um filme de ação, torna a experiência ainda mais fascinante. A melhor parte – e também uma das coisas criticadas – desta série é exatamente não ser capaz de saber o que esperar e se surpreender sempre. 

Se falando de surpresas, é incrível como o seriado consegue usar de informações extremamente previsíveis, especialmente para toda a galera acompanhando as mil teorias formadas por semana, e mesmo assim surpreender. Uma das melhores surpresas foi a abordagem digna dada à magia, especialmente a forma como a magia e bruxas foram introduzidas em uma narrativa sempre tão repleta de ciência e explicações racionais. A série concretizou um dos momentos mais aguardados para fãs da personagem vivida por Elizabeth Olsen, a oficializando como a Feiticeira Escarlate

Em sua semana final, a conclusão do seriado simbolizou grandes momentos, tanto de êxtase quanto de dor e tristeza. Se as expectativas estavam altas para como essa breve saga se concluiria, o resultado foi tão bom quanto o esperado. Não são sempre necessárias grandes surpresas, vários portais, easter eggs, o episódio final de WandaVision conseguiu concluir sua narrativa de uma forma magnífica e um tanto trágica. 

WandaVision é a primeira série oficial dentro do Marvel Cinematic Universe e conseguiu envolver múltiplos personagens de outras histórias, mas pode também simbolizar um problema para aqueles que não assistiram ou eram fãs da Marvel. A série dirigida por Matt Sakman foi uma montanha russa repleta de emoções e capaz de em oito semanas deixar um sentimento de saudades semelhante àquelas séries concluídas após inúmeras temporadas. Ao menos eu senti-me assim, como se estivesse me despedindo de personagens aos quais eu acompanhei ao longo de várias décadas e temporadas.

Agora, como todo filme de herói, somos deixados no desejo de ver o que vem depois para todos os personagens, e uma longa espera para matar nossa vontade. 


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