— Esse texto não possui spoilers —
Quando lançado, Homem de Ferro (Iron Man, 2008) era um projeto ainda sem muita certeza se daria certo. Em uma época em que os filmes de super-heróis tinham narrativas fechadas, o primeiro filme do Marvel Studios tinha planos mais ambiciosos. O que de início era uma aposta, acabou se consolidando graças ao sucesso de história divertida, mas sobretudo ao carisma de Robert Downey Jr como Tony Stark.
Na época, a Marvel não tinha em suas mãos os direitos de uso de seus heróis mais populares: Homem-Aranha estava com a Sony; O Quarteto Fantástico e os X-Men com a Fox. Então, em um projeto audacioso, pautado sobretudo em fazer referências a seus próprios filmes, a empresa (já pertencendo a Disney) dá início aquilo que é conhecido como Iniciativa Vingadores, um grupo de pessoas superpoderosos para proteger a terra.
Os filmes seguintes ao primeiro Homem de Ferro tinha a principal função de apresentar esses personagens para o público e preparar para o que até então seria o maior filme de super-heróis de todos os tempos. Depois do primeiro filme dos Vingadores (The Avengers, 2012), os filmes da fase 2 sofreriam altos e baixos, mas sempre mantendo aquela ideia inicial de uma autorreferência e com um propósito maior: o embate com Thanos. Thanos, por sua vez, foi apresentado logo no primeiro filme dos Vingadores e teve mais de 10 filmes para ser construído enquanto personagem e preparar devidamente o público para o que viria a ser Vingadores: Guerra Infinita (Avengers: Infinity War, 2018). Entretanto, ninguém poderia estar preparado.
O roteiro tem o cuidado de amarrar as pontas soltas nos outros filmes e levar para um outro propósito, o que parecia banal, aqui teve sua relevância mostrada. Além disso, ele tem o cuidado de mesclar os tons do filme, era um grande medo que o filme fosse engraçado demais ou fora do tom devido ao grande número de personagens e suas diferenças entre si, aqui todas as piadas são bem encaixadas e por mais inacreditável que seja, em nenhum momento elas aliviam demais o peso dramático em que o filme está amarrado. Os personagens interagem bem demais entre si, não há nada que seja retocável aqui. Esse é o melhor roteiro de filme de grupo de super heróis já feito. Uma verdadeira aula de equilíbrio.
A cinematografia é competente. Há bastante apelo visual com efeitos bem convincentes. Os jogos de câmera são bem feitos, o filme busca elementos comuns nos filmes solos dos personagens. Outro grande destaque são as lutas. Se tem uma coisa que os irmãos Russo sabem fazer bem feito são as cenas de ação. Aliás, a direção deles retornou àquele tom eléctrico que teve em Capitão América 2: O Soldado Invernal (Captain America 2: The Whinter Soldier, 2014) e que tinha sido deixado de lado em Capitão América: Guerra Civil (Captain America: Civil War, 2016). Aqui irmãos Russo fazem história ao montar um filme de quase 3h com tantos heróis tendo seus espaços, pesos e importâncias na trama. Os diretores conseguiram manipular as emoções da platéia com maestria: emociona, surpreende, tensiona, diverte, sem perder o ritmo.
É realmente difícil encontrar aspectos negativos para pontuar, eles provavelmente existem, mas perdem muito a força perto do que teve êxito. A trilha sonora é competente e potente, retrabalhando trilhas dos filmes anteriores e deixando no público aquela sensação de nostalgia com os mais de 18 filmes que foram lançados ao longo desses 10 anos de Universo Cinematográfico da Marvel. O elenco também dá um show, não há nada o que reclamar aqui, só enaltecer o excelente trabalho de toda a equipe que já está trabalhando juntos há anos, faz toda a diferença na tela. E não podemos esquecer de destacar o trabalho sensacional de Kevin Feige por conseguir criar esse universo realmente coeso e promissor.
Se em 2008 o futuro do Universo Cinematográfico da Marvel e dos filmes de super-heróis em geral era uma incógnita, em 2018, tornou-se uma realidade. A Marvel atinge seu ápice (até então) em Vingadores: Guerra Infinita. É um filme lindo, emocionante, memorável e histórico. Consolidando de vez o gênero na história do cinema e nos corações dos fãs de quadrinhos.
Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.