Lá em 2016, quando Deadpool estreou e foi assunto em todos os lugares por um bom tempo, me senti bastante frustrada. Enquanto todo mundo saiu do cinema amando o filme, eu não achei tão legal assim. O mercenário tagarela era um dos nomes que eu mais gostava de acompanhar nos quadrinhos durante a adolescência, não que eu fosse muito fiel ao personagem, eu lia porque vinha junto com a mensal do Wolverine, mas eu gostava. De qualquer forma, o filme que introduz o personagem e conta sua origem pareceu agradar absolutamente todo mundo, menos eu. Mas, antes que você pegue em tochas e comece a me caçar, não achei o filme horrível. Só que também não achei genial e inovador, tampouco achei hilário. Para mim a estrutura é falha, o roteiro é fraco e o humor é imaturo demais e nivela bem por baixo a audiência, quando não é forçado. Tornando as violentas cenas de ação, algumas piadas baseadas em metalinguagem e algumas quebras de quarta parede os pontos altos do filme para mim. Mas ainda assim, pontuais demais para que o resto, problemático de várias maneiras, não me incomodasse.
Para além das questões do próprio filme, o que me incomodou muito foi sentir que aquela história era um verdadeiro alívio para um certo público que estava aflito com o recente aumento do protagonismo feminino no cinema de blockbuster, com filmes como Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road, 2015) e Star Wars: O Despertar da Força (Star Wars: Episode VII – The Force Awakens, 2015) recebendo ameaças de boicote e protestos contra as personagens Furiosa e Rey, respectivamente. Enfim, parecia que Deadpool tinha escolhido um lado fácil de se estar e difícil de apontar o dedo, um lado que compensa a insegurança em carros enormes e que precisa reafirmar a própria sexualidade o tempo todo usando piadas fálicas. Isso me decepcionou bastante porque parecia um desperdício das possibilidades que o personagem poderia oferecer.
Dito isto, não tinha como eu ter expectativas muito altas para a sequência. Queria que o filme conseguisse me divertir mais do que o anterior, no mínimo. Mas, felizmente, fui surpreendida positivamente. Embora não seja incrível, acho que a sequência conseguiu superar o filme anterior em muitos aspectos.
Em Deadpool 2 (2018), encontramos Wade Wilson (Ryan Reynolds) trabalhando ao redor do mundo como um mercenário, até que seu caminho cruza o de Russell (Julian Dennison), um jovem mutante que sofreu abusos em uma instituição para pessoas especiais e que, para completar, está sendo caçado por Cable (Josh Brolin), diretamente do futuro.
O elenco vai bem, com algumas ressalvas. Ryan Reynolds retorna como Wade Wilson e está cada vez mais à vontade no papel, embora eu não goste tanto assim do ator, é inegável que agora ele se consolidou no personagem e vai ser difícil encontrar outra pessoa que case tão bem quanto ele. Muito disso pode ter vindo da colaboração do ator no roteiro, já que ele também assina a história e se mostra sempre muito envolvido com o projeto. Josh Brolin encarna com perfeição a figura soturna de Cable, mas infelizmente não senti tanta química entre os personagens e como os dois formam uma dupla nos quadrinhos e provavelmente vão fazer o mesmo no cinema, espero que a dinâmica entre eles possa melhorar daqui para frente. Falando em dinâmica, outra grata surpresa foi a relação de Wade com Peter, o Colossus, que aí sim, trazia uma energia bacana de se ver na tela. Ainda no elenco de apoio, a Dominó de Zazie Beetz é uma ótima surpresa, além de ser bem representada e retratada em tela ela também é a responsável pela melhor cena de ação do filme. Já a Nessa de Morena Baccarin continua tão rasa quanto uma colher de chá, a personagem é salva somente pelo carisma da própria Baccarin que realmente tira leite de pedra em suas cenas.
A direção do filme, apesar de escorregar aqui e ali e não conseguir desenhar o espaço tão bem em cenas de ação, tornando a movimentação confusa, principalmente em lutas com muito personagens, usa e abusa da censura alta do filme, não economiza na violência e consegue trabalhar bem com o superpoder da personagem Dominó, que é simplesmente ter uma boa sorte. É um bom trabalho, embora eu esperasse mais de David Leitch depois do que vi em Atômica (Atomic Blonde, 2017).
O que realmente me fez gostar mais desse filme é que ele resolve apostar mais no que já tinha dado certo no filme anterior, o recurso da metalinguagem é muito bem utilizado aqui e essa é a maior força do filme, na minha opinião, porque mesmo que o roteiro seja fraco, que alguns personagens pareçam meio subaproveitados e coisas não façam sentido, o próprio filme sabe e faz piada disso, como se os defeitos dele se justifiquem por ele mesmo. Deadpool permite-se brincar consigo mesmo e não parece se levar nada a sério, nem mesmo quando está falando sério. Brinca com o próprio estúdio, com os próprios atores e até mesmo com os heróis concorrentes. Essa é realmente a melhor fonte de humor do filme e que acabou funcionando muito, pelo menos para mim. Também senti que dessa vez algumas piadas não saíam de lugares tão comuns assim, em comparação com o primeiro filme este aqui tem ótimas sacadas. São muitas? Não, mas já são mais do que no primeiro.
Isso significa que Deadpool 2 não tem mais piadas e cenas inapropriadas e de mau gosto? Obviamente que não. Ainda há muito do que me fez torcer o nariz antes, piadas que duram demais, decisões que não parecem tão boas tanto de montagem quanto de roteiro. Mas, de modo geral, dessa vez consegui me manter interessada pelos acontecimentos da história, desde a divertida abertura até o final da segunda cena pós-crédito, e me diverti no processo. E era só o que eu estava esperando mesmo.
Roteirista e podcaster bacharel em Cinema e Audiovisual. Ex-potterhead. Escuta música triste pra ficar feliz e se empolga quando fala de The Last of Us ou Adventure Time. É viciado em convencer as pessoas a assistirem One Piece, apreciador dos bons clássicos da Sessão da Tarde e do Cinema em Casa e, acima de tudo, um Goonie genuíno.