No último domingo (7), estreou o novo episódio da nona temporada de The Walking Dead. Eu sei o que você está pensando “ainda tem gente que assiste essa porcaria?” A resposta, meus queridos, é SIM! Não só assistimos como damos valor a todos os momentos bons que podemos tirar desses últimos episódios (sendo bem sincera, desde a sexta temporada que as coisas já vem desandando). Já são 8 anos de série, e eu, como toda boa brasileira, não desisto nunca (também como toda boa fã de Pretty Little Liars, que sobreviveu a 7 temporadas só para receber o pior final possível e uma promessa de um spin off que literalmente ninguém se importa). O fato é que, tendo a FOX como um dos meus canais da TV a cabo, não podia deixar de conferir o que os produtores de TWD decidiram trazer para a nona temporada, já que toda temporada desde 2013 tem sido uma promessa de algo melhor, mas acaba falhando. Para minha surpresa, a nona temporada talvez seja a mudança que precisamos.
Mas antes de criarmos qualquer tipo de esperança, vamos falar sobre o episódio dessa semana. Primeiramente, temos uma nova abertura!!!! E, sim, a abertura original já havia sido alterada antes, mas essa é inteiramente nova, quase como um reboot do pensamento original, indicando as grandes mudanças que a série passará (pra quem ainda não está sabendo, a nona temporada será a última temporada de Andrew Lincol e Lauren Cohan, o Rick e a Maggie, e eu honestamente não sei porque eles ainda estão se incomodando em continuar essa série sem os dois gigantes que a carregam nas costas a tanto tempo).
Intitulado A New Beginning (Um novo começo), o primeiro episódio nos mostra o grupo com um grande salto temporal, exemplificado principalmente a partir de Maggie, cujo filho com Glenn não só já nasceu como deve ter por volta de seis meses, e se chama Hershel (deixo aqui meus sentimentos ao ator Scott Wilson, que interpretou Hershel Greene, pai de Maggie, e faleceu no último sábado, dia 06, logo antes da estréia da nova temporada). Judith também está crescida, e se parece cada vez mais com o seu falso pai, Rick, o que ainda me deixa com uma pulga atrás da orelha: como essa menina não é filha dele se ela é igualzinha a ele? Atenção pra esse casting, AMC! Alexandria foi reconstruída com sucesso total, e as coisas no Santuário estão bem diferentes de como estávamos acostumados, tendo o lugar ganho até uma plantação de milho com direito a um espantalho-zumbi. O início do episódio me lembrou bastante o primeiro episódio da quarta temporada, 30 Days Without an Accident (30 dias sem um acidente), onde vemos a vida dentro da prisão após a briga entre o grupo e os moradores de Woodbury. Em “Um novo começo”, vemos a vida após a guerra com Negan, e as 5 comunidades (Alexandria, Hilltop, O Reino, Oceanside e o Santuário) convivem em harmonia, trocando recursos entre si e tentando reconstruir um tipo de sociedade que para muitos parecia impossível. Em determinado momento no episódio, Michonne demonstra sua vontade de estabelecer um “estatuto” entre as comunidades, algo que diga “é nisso que acreditamos, assim que convivemos entre si e isso que acontece quando desrespeitamos nossas regras”, deixando claro que existe ali um desejo imenso de prosperar, de criar raízes e de encontrar a felicidade, da forma como Carl desejava que Rick pudesse viver.
O episódio também mostra o outro lado. Por mais que Negan esteja preso, ainda existem problemas no Santuário (que agora é liderado por Daryl, contra a vontade dele) e alguns habitantes das outras comunidades ainda ressentem o fato de terem que ajudar o Santuário após a sua rendição. As pessoas não esqueceram de todo o sofrimento que os homens de Negan (e o próprio Negan, que está preso em Alexandria mas não aparece em momento algum durante o episódio) os fizeram passar, e o acesso ao Santuário também não está ficando mais fácil (os bandos de zumbis têm se tornados mais comuns e destroem a ponte de uma das duas rotas principais entre as comunidades). Houve uma eleição em Hilltop e Maggie é eleita oficialmente a líder da comunidade, o que não agrada Gregory, e a coloca como centro de críticas quando o assunto é “os Salvadores”, já que os habitantes de Hilltop fornecem a maior parte da comida ao Santuário e também a Alexandria, e alguns acreditam que isso se deve ao fato de Maggie ser apenas um capacho de Rick. Rick agora é “o famoso Rick Grimes, o homem que venceu a guerra” e é reconhecido em todas as comunidades, especialmente no Santuário, onde muitos o veem com uma espécie de admiração cega. Ele claramente está tentando viver de acordo com os últimos desejos de Carl, mas nem tudo são flores, e quando um acontecimento em Hilltop balança as coisas entre ele e Maggie, Rick precisa repensar a forma como anda conduzindo as coisas. “Será que fizemos a coisa certa em deixar Negan vivo?”
No geral, achei o episódio muito bem construído. Os zumbis já eram e continuam sendo tratados como acessórios, embora nesse episódio eles tenham retomado um pouco da cautela ao lidar com eles. O que de fato me chamou atenção foram as tensões interpessoais abordadas durante a trama, principalmente entre o grupo (e aqui o grupo significa os personagens originais, que sobreviveram a diversas atrocidades, e que criaram uma ligação muito forte entre si e com o público) que está completamente afastado e, de certa forma, fragilizado por conta disso. Rick, Maggie e Daryl, devido às suas posições de liderança, quase nunca podem estar juntos com os outros amigos, e isso acaba criando uma desconfiança entre eles, principalmente porque Maggie se recusa a visitar Alexandria enquanto Negan ainda estiver vivo. Foi muito interessante e até refrescante observar essa nova dinâmica de liderança e relacionamento entre personagens que antes eram quase um só. Com esse primeiro episódio, a série puxa para um lado mais pessoal, foca nos diálogos (ou na ausência deles, quando necessário) e dá um gostinho de que, sim, vem aí uma grande mudança no ritmo e na forma como estamos acostumados a ver as coisas. Resta saber se essa mudança vai ser a salvação de TWD (que teve seu pior índice de audiência da sua história nesse domingo) ou se vai servir para enterrar de vez as esperanças dos fãs resistentes (salve salve colunista Elvio Franklin) que ainda se submetem a esse ocasional show de horrores.
Graduada em Cinema e Audiovisual. Roteirista, produtora, feminista e a pisciana mais ariana do mundo. Fã de Buffy, Harry Potter e Brooklyn 99, Gabi passa seu tempo ensinando que não se deve sentir vergonha das coisas que gostamos, nem deixar de questionar as coisas só porque gostamos delas.