Em quatro semanas a série Patrulha do Destino (Doom Patrol, 2019 -) em nenhum momento falhou em capturar minha atenção ou meu interesse e gostaria de começar o texto reafirmando isso. É bem difícil pegar um time tão desconhecido como esse e fazer uma série com personagens tão cheios de dimensões e histórias como a série original do streaming DC Universe vem fazendo. Cada episódio que passa somos dados mais informações sobre o enredo cercando o sequestro de Niles Caulder (Timothy Dalton) ou mesmo como o ‘Chefe’ veio a entrar em contato com cada um dos membros da equipe.
Nossa Patrulha agora é procurada por um antigo conhecido de Caulder – Willoughby Kipling (Mark Sheppard). Para aqueles que assistiram o episódio e já foram apresentados a John Constantine em alguma de suas aparições, as semelhanças não são meras coincidências. O personagem é um detetive oculto que busca auxílio de Niles Caulder para lidar com o iminente fim do mundo, mas acaba aceitando a ajuda do time considerando que Caulder continua desaparecido.
Um dos detalhes mais marcantes do episódio, como os dos demais, é como a série continua sendo capaz de contar uma história séria sem manter o tom sério e obscuro comum em outras séries de heróis. Longe disso, mas também longe de pessoas de spandex colorido correndo por aí salvando o mundo. Raramente sou capaz de me lembrar que se trata de uma série de heróis, porque eles mais parecem viver nesse centro de reabilitação para pessoas problemáticas que terminam sempre tendo que salvar alguém ou enfrentar alguma ameaça.
Enquanto tentam impedir o Apocalipse o time também tem que lidar com suas eternas crises, especialmente os desentendimentos entre seus membros. Afinal, Jane (Diane Guerrero) está fora de casa desde ter visto Cliff (Brendan Fraser) coberto com o sangue dos fantoches nazistas da fábrica de aberrações no episódio passado. Rita (April Bowlby) está tremendamente chateada por Victor (Joivan Wade) não a estar envolvendo nos assuntos do time, mesmo com ela mesma falando sobre não achar que eles são capazes de serem heróis. Larry (Matt Bomer) continua querendo se entender com o ser de energia negativa dentro dele, como todos nós.
O vilão da semana não é um burro e nem nazista com fantoches, mas sim o Culto do Livro Não Escrito e eles estão pretendendo usar um jovem rapaz chamado Elliot (Ted Sutherland) para invocar o ‘Descriador’ (muita liberdade criativa nessa tradução viu). O ser é basicamente o oposto do Deus apresentado em diversas culturas e é capaz de eliminar toda a criação já feita. Bem, essa é uma ameaça bem real e mesmo assim a série consegue nos envolver durante todo o episódio graças aos personagens interessantes aos quais já fomos apresentados.
Afinal, o que pode dar errado? É uma série, eles vão vencer no final. Não é? Isso não deu tão certo no último filme dos Vingadores mas que série faria isso no seu quarto episódio? Ter seus protagonistas derrotados ou perdendo? Nem essa série é louca o suficiente para isso.
Uma das coisas mais marcantes desse episódio veio da interação particularmente odiada por mim até então, Jane e Cliff. Embora já sentisse que a relação dos dois era mais uma de pai e filha, especialmente considerando toda a história de Cliff com sua filha, após uma pesquisa descobri o fato dos dois serem um par romântico nos quadrinhos. Como aprendi a não duvidar da capacidade da mídia de colocar um personagem masculino envolvido romanticamente com uma personagem com a metade de sua idade, já fiquei extremamente desconfortável ao ver os dois juntos. Até agora. Durante um confronto com a suma sacerdotisa de Nunrheim (cidade base do Culto do Livro Não Escrito), somos capazes de ver como os personagens enxergam uns aos outros.
O Homem Robô é visto coberto de sangue por Jane, devido ao que houve no episódio anterior e isso trás uma conversa prévia bem interessante com um dos alter egos de Jane – Hammerhead. Já Jane é vista como Clara, a filha de Cliff antes dele se acidentar cujo destino ainda não é muito certo, confirmando a relação dos dois mais como paternal do que qualquer nuance romântica. Agora nos resta esperar que a série siga por essa rota porque uma relação paternal seria uma aposta bem mais ousada do que mais um par romântico heterossexual numa série de heróis.
Pela primeira vez em suas cinco aparições como a personagem Rita Farr nesse episódio somos capazes de ver a atriz April Bowlby usar os poderes dignos do codinome Mulher Elástica e não Mulher Bolha Assassina, como ela é nos quadrinhos. É bem interessante imaginar o quanto isso vai mudar como a própria personagem – que é uma das que tem maior dificuldade de aceitar sua condição – vai lidar com isso.
Mesmo que todos os episódios até este tenham sido dignos de aplausos, o final desse episódio nos faz xingar a tela por querermos a continuação o quanto antes.
Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.