James Wan foi o diretor dos primeiros dois filmes de Invocação do Mal e acompanhou os demais filmes deste universo, muitas vezes na função de produção executiva. O diretor assina roteiro, direção e produção executiva de inúmeros filmes de terror – em sua maioria franquias (há até quem diga que seus dois filmes do Aquaman são um terror de assistir), e sua presença em si é sentida tal como as entidades que assombram os filmes na franquia Invocação do Mal. Bem, ele não é quem dirige o quarto filme de Invocação do Mal, com o subtítulo O Último Ritual, mas certamente há uma sensação de o mesmo ter estado mais em contato com a obra do que o filme que o precedeu: A Ordem do Demônio. Misturando demais true crime com o sobrenatural em uma salada de frutas muito mal feita, o filme deveria ter sido uma despedida para o casal protagonista da franquia, mas seu gosto amargo impacta a existência deste quarto filme.
Invocação só Mal 4: O Último Ritual (The Conjuring: Last Rites, 2025) tem a direção de Michael Chaves, diretor cujos demais trabalhos com longa metragens são dentro da franquia criada por Wan. Seu primeiro longa foi A Maldição da Chorona (The Curse of La Llorona, 2019), que não caiu nas graças do público ou da crítica, possuindo avaliações mistas ou ruins em diferentes sites especializados em dar notas para obras audiovisuais. Sua segunda direção foi o terceiro filme da franquia, Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio (The Conjuring: The Devil Made Me Do It, 2021), com uma diferença estética baseada mais em como não havia o elemento comum aos filmes prévios – a casa mal assombrada. Essa obra teve uma recepção melhor no geral (e financeiramente, alçando 206 milhões de dólares no final de suas exibições nos cinemas) e há quem fale que abriu a franquia para novas histórias para o futuro. Mas eram histórias novas que o público da franquia de Invocação do Mal buscava ao ir ao cinema assistir alguma obra sobre os demonologistas Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga)? O retorno à uma casa mal assombrada nesta quarta obra pode ser uma resposta bem evidente para a pergunta, ou ao menos o que o estúdio e responsáveis pela criação da narrativa optaram por acolher como resposta.
Em sua terceira experiência num longa, a última antes deste Invocação 4, Michael Chaves entregou A Freira 2 (The Nun II, 2023) e as reações ao filme são no geral mistas, onde muitos concordam que aproveita elementos do primeiro muito bem, enquanto perde em pontos onde o primeiro acertou. Esteticamente e narrativamente A Freira 2 pode nem ser considerado o melhor filme de terror com freiras lançado em 2023, mas mesmo assim fez 269 milhões em sua bilheteria mundial. Baseado nas bilheterias dos seus filmes é compreensível a escolha de Chaves para a direção do mais recente filme da franquia, pois sua originalidade ou visão única de direção obviamente não influenciaram muito nisso. Quando se trata de audiovisual de circuito os números são tudo que mais importa e cá estamos com o quarto trabalho de um diretor obviamente sem muita visão própria, mas cujos trabalhos conseguem trazer dinheiro. Mas é importante pontuar, seu quarto filme – e também o quarto filme da franquia principal Invocação do Mal – traz um gosto satisfatório de nostalgia apesar do apesares. Não pela visão de direção do mesmo, mas como ele parece mimicar muito bem o trabalho de direção de James Wan em seus dois primeiros longas da franquia.
Quando encontramos Ed e Lorraine pela primeira vez temos os dois mais jovens, interpretados por Orion Smith e Madison Lawlor, em seu primeiro caso, quando a médium ainda estava grávida e os dois lidavam com um espelho habitado por uma forte presença demoníaca que era mais potente daquilo já enfrentado pelo casal ao longo dos anos subsequentes. Isso os afeta de uma forma pessoal e íntima, marcando a vida dos demais e como os dois criaram sua própria filha Judy (interpretada neste longa por Mia Tomlinson), nascida com as mesmas habilidades mediúnicas de sua mãe. Embora tenha atuado por anos não só como demonologistas mas utilizando sua mediunidade em exorcismos e casos envolvendo poderosos demônios (como mostrado nos primeiros filmes), Lorraine criou sua filha para negar e ignorar suas habilidades e este é um dos arcos das personagens. Além disso, Ed lida com não poder mais atuar com exorcismos devido a problemas no coração consequência dos acontecimentos do filme anterior. O drama familiar dos Warren é muito mais o foco da narrativa dentro deste filme, sobressaindo-se sob o próprio terror e a construção das forças sobrenaturais antagônicas e ao drama da família assombrada pelas mesmas.
Há uma metalinguagem no fato de o casal Ed e Lorraine serem forçados a voltar para resolver um caso de seu passado para o bem maior, enquanto o filme aparenta ter uma maior presença criativa pela parte de James Wan, responsável pelo começo e sedimentação desta franquia, e isso é extremamente agradável. Mas bem, mesmo com seus pontos positivos e se tratando de um final inúmeras vezes mais adequado para o casal Ed e Lorraine com direito a cena de novela mostrando como tudo fica bem no final, o filme ainda deixa muito a desejar em sua trama. Mesmo no terceiro filme a presença demoníaca e antagônica é nomeada, é explorada, enquanto nesta obra é informado sobre os grandes perigos da força demoníaca dentro do objeto amaldiçoado, mas nada disso é de fato explorado. A relação dramática de Invocação do Mal, ao menos os filmes dirigido por Wan, acertam demais, mas consegue-se equilibrar melhor do que nesta última obra. O terror é um apoio e utiliza de muitos jumpscares, referências a outras obras, dentro e fora da franquia – e também peca em jogos de câmera exageradamente desnecessários.
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Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.