LUZA – Sobre afeto, memórias, maternidade e materialidade

Existe ainda afeto ao se fazer cinema neste mundo, é algo valioso de se ressaltar desde início nesse texto, pois parece ser este o motor impulsionando a direção de Leo Silva (e também sua produção, montagem, entre outras áreas onde atua no curta) para criar a obra LUZA (2025). 

O curta-metragem aborda uma viagem pelo lar de uma família, da melhor forma de colocar, enquanto duas filhas começam a folhear o álbum de fotografias e assim imergir em suas memórias. Aqui é importante ressaltar o toque de afetividade sincera, quando são postas ali revisitando o passado de si mesmas e de sua família através das imagens presentes no álbum, há uma forte presença de sentimentos. Afinal, é como se visitar partes das histórias fosse como uma viagem ao passado, é revisitar a história da família e então é quando se sente a presença da protagonista da obra: Luza. Matriarca da família, Luza está presente por toda a obra mas de formas diferentes, dependendo de como ela se mostra.

Por exemplo, quando a mesma não está fisicamente sendo capturada pela câmera, é como se fosse uma presença etérea e quase divina. Suas histórias são passadas através da conversa de suas duas filhas no quarto enquanto olham o álbum, relatando não só memórias próprias, mas chegando a ler mensagens escritas ali. De uma forma amorosa e repleta de afeto, é como se Luza fosse uma figura distante da realidade, perfeita e mais um ícone do que uma mulher. A direção de fotografia, assinada por Flávia Almeida, também constrói isso enquanto vemos o lar da família e imagens de todos, há um plano específico enquadrando a imagem de Luza que se assemelha à figuras bíblicas em igrejas. 

Mas afinal, é o olhar de uma mãe através das falas e perspectivas de seus filhos e nada é mais natural do que a forma como há uma idealização da perfeição da mãe. Não cabe aqui a mim falar se essa idealização se encaixa ou não com a realidade, pois o próprio filme mostra o outro lado: a humanidade de Luza. A matriarca da família não está presente na obra apenas através das falas de suas filhas e imagens pela casa, ela está lá – na mesma casa. Sua presença causa uma brilhante dicotomia: a imagem distante e divina e a mulher real em seus afazeres no dia a dia. 

Afinal, qual é a Luza verdadeira? A resposta é simples: ambas. Ambas são as mães, ambas são as mulheres reais, ambas também estão sendo capturadas através da perspectiva de seus filhos. Seja suas filhas conversando sobre memórias ou seu filho dirigindo um curta em sua homenagem. Ambas estão ali, mas há uma mudança tão frequente sobre como a narrativa a captura quando ela está em cena e quando ela está sendo apenas mencionada. Com extremo cuidado, há toda a construção da imagem e memórias, enquanto a mesma figura está ali em carne e osso existindo. Uma não nega a outra, mesmo com a existência dessa dicotomia. 

Leo Silva teve outros trabalhos, mas a sua obra Rotina Familiar (2020) dialoga esteticamente com LUZA, como se complementassem, mesmo sem obrigatoriamente falarem algo sobre isso. Ambos os filmes terminam sendo sobre família e o olhar do diretor, que também assina o roteiro do filme ao lado de Karine Araújo, então é natural a sua visão escorrer de uma obra para outra e isso é extremamente agradável. Como audiência podemos nos aproximar de uma forma mais íntima desta família. 

LUZA estreou no YouTube no dia 28 de Julho e está disponível com legendas em português e libras para ser apreciado, assistido e sentido. 


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