“Ciganos” classificam uma identidade étnica e cultural extremamente plural, ligadas historicamente mas com múltiplas diferenças entre pessoas, entre próprios costumes, entre comunidades e vivências. A obra Cartas Ciganas Para Marielle nos traz uma experiência de não ficção, com elementos de vídeo-dança e vídeo-carta, onde três mulheres ciganas relatam sobre a inspiração de Marielle Franco em suas vidas, assim como seus diferentes sonhos e desejos. Mesclando diversas estéticas através do audiovisual, o curta metragem traz uma viagem sensorial através dos movimentos dos corpos em cena e as profundas falas das mulheridades ciganas – Kassandra Monzaed, Alice Oliveira Valente e Karina Pereira.
Recentemente houve uma adaptação pela novela da Globo, Êta Mundo Melhor (2025 – 2026), onde uma personagem cigana aparecia – interpretada por uma atriz não cigana, algo bem comum – e a mesma retratava inúmeros estereótipos negativos relacionados a figuras ciganas. Bem, é daí onde Cartas Ciganas para Marielle se mostra algo importante dentre muitas outras obras brasileiras feitas por pessoas ciganas. Para além da imaginação, uma importante forma de combater a desinformação e estereótipos negativos é exatamente trazer múltiplas visões de como os diferentes povos “ciganos” são múltiplos. Com o roteiro de Flor Fontenele e direção, produção e narração de Yasmim Rocha, o curta busca exatamente trazer as diferentes visões e desejos para si em relação ao mundo destas diferentes mulheres.
Muito importante trazer Marielle Franco como a interlocutora da obra, considerando o quão importante é sua figura para a relação de mulheres de diversas culturas e etnias com o feminismo. A obra faz parte do Projeto Territórios de Criação, que é uma realização do Instituto Cigano do Brasil, em parceria com Bruta Flor – Arte e Invenção, Casa das POC – Produções Criativas, Mercúrio – Gestão, Produção e Ações Colaborativas e POC Criação, Produção e Comunicação, por intermédio do apoio da Secretaria Estadual da Cultura, através do Fundo Estadual da Cultura, com recursos provenientes da Lei Federal nº 14.017, de 29 de junho de 2020.
Mesmo com uma forte presença histórica para a cultura brasileira, os povos “ciganos” ainda enfrentam frequentemente discriminação e marginalização perante a sociedade de diversas formas diferentes. Uma obra buscando mostrar os diferentes sonhos e desejos dessas mulheres ciganas utilizando também de danças culturais através da visão de pessoas ciganas por trás das câmeras é uma importante forma de valorização da cultura cigana cearense. Através de uma obra de 14 minutos é explorado um mundo bem amplos, a relação destas figuras com uma importante força política, assim como suas relações como pessoas ciganas com o mundo.
Há uma necessidade importante de se consumir mais a cultura feita por pessoas ciganas, para melhor respeitar e entender a existência destes povos. É importante sempre lembrar como a sociedade é intrinsecamente racista, então uma das formas de combater o racismo e preconceito é exatamente buscar conhecimento. Importante também lembrar como povos ciganos tem múltiplas culturas e múltiplas vozes. A obra Cartas Ciganas para Marielle está disponível no YouTube.
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Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.