Esse texto pode conter leves spoilers de “M3GAN 2.0”
Dancinha para TikTok, uma sátira gostosa sobre o futuro das tecnologias, ética, maternidade e, claro, uma boneca que paira entre o realismo e o vale a estranheza: M3GAN (2022) nunca prometeu ser um fenômeno, mas causou um certo fervo. Um produto de seu tempo, não havia momento mais propício para se lançar um filme como aquele do que agora, quando discutimos os limites da Inteligência Artificial (IA) e o quanto de poder e capacidade cognitiva podemos dar às máquinas sem que caiamos nas armadilhas anunciadas por Matrix (The Matrix, 1999).
Obviamente, como qualquer filme que venda mais que 25 ingressos, M3GAN também ganhou sua continuação. Maior, mais exagerado, autorreferenciado e… melhor? Bom, spoiler de opinião à parte, ao menos “tão bom quanto” ele conseguiu se provar. Então, se você gostou da versão original, M3GAN 2.0 (2025) vai te divertir um pouco mais.
Todo elenco está de volta: Allison Williams (Gemma), Violet McGraw (Cady), Amie Donald (M3gan), Jenna Davis (M3gan – voz), e até mesmo Brian Jordan Alvarez (o divertido Cole) e Jen Van Epps (Tess) repetem seus papeis nesta sequência. A história, aqui, começa alguns anos depois do incidente com a androide/boneca, que se tornou notícia mundial e, ao contrário do que a gente poderia esperar, alavancou a carreira de Gemma. Ela se tornou palestrante sobre parentalidade e uso excessivo de tecnologias por crianças. Uma maneira de chamar atenção para o relacionamento conturbado que ela tem com a sobrinha, a quem agora ela chama de filha.
Mais ação, menos terror
Particularmente, nunca achei que M3GAN se vendeu como filme de terror. Ao menos, não completamente. Neste segundo a contagem de mortos é bem maior. Porém, ninguém que tenha sequer um nome foi assassinado durante a história. No mais, meia dúzia de capangas, policiais ou agentes que são tão figuração que, ainda que o mesmo ator tivesse morrido várias vezes, a gente sequer teria percebido.
Outra coisa: a despeito de algumas mortes um tanto violentas, o filme passa longe de mostrar sangue em tela. Nesse quesito, ele é bem mais leve que o antecessor. Lembra muito mais um filme de ação e ficção científica. Uma espécie de Exterminador do Futuro (The Terminator, 1984), onde o robô que é vilão em sua primeira aparição, depois se torna o mocinho para enfrentar uma versão melhorada dele mesmo na sequência. Obviamente, com muito mais galhofa, frases de efeito genéricas a cada 3 minutos e uma linguagem que conversa bem mais com a juventude de seu tempo.
E falando em frases de efeito, minha nossa! Não chega a ser algo cansativo, mas certamente o roteirista fez as falas depois de navegar pelo X algumas boas horas seguidas. Porque parece quase impossível que alguém tenha uma conversa minimamente normal em M3GAM 2.0, sem que solte alguma alfinetada engraçadinha. Nada que acabe com a experiência, mas há uma perda de naturalidade em troca de shades que, em sua maioria, não fariam falta se não existissem.
Ainda assim, o filme entrega bastante teatralidade de movimentos, coreografias de luta convincentes (em se tratando de robôs) e cenas de perseguição bastante empolgantes. Não há lá nenhum suspense digno de nota e o plot twist é mais óbvio do que final de piada de português. Mas não é por isso que a gente tá aqui, né? A gente quer ver androide se esmurrando!
O T-1000 da M3Gan
Olha, se você realmente tem interesse em ver esse filme por causa da história, agora sim, vou te dar um “M3GAN” spoiler: não é lá “grandes coisas.” Tudo não passa de uma grande desculpa esfarrapada para o retorno da androide.
Militares conseguiram o projeto original que Gemma fez (lembram que um carinha da empresa dela colocou os arquivos na nuvem pra tentar vender?) e usaram esse projeto pra fazer uma versão militarizada, chamada Amelia (Ivanna Sakhno) – cujo nome é um acrônimo pra uma sigla enorme que, no fim das contas, não importa – que logo no início do filme já põe suas garrinhas pra fora e mostra que não vai obedecer a ninguém. E quem será que poderia derrotar essa máquina poderosa? Então, é necessário reconstruir M3Gan.
Não que ela tivesse ido embora de vez. Existindo apenas eletronicamente, M3GAN não saiu da vida de Cady e esteve vigiando a garota por meios digitais, usando a tecnologia espalhada pela casa. Ela controlava até o robozinho aspirador. Assim, ela mesma se reapresenta quando percebe que é necessária, afinal, a vida de Cady está em risco novamente.
Mas é claro que, dessa vez, Gemma não cometerá os mesmos erros que cometeu no passado e, ao refazer M3GAN, ela finalmente incluiu sistemas de segurança que a impedissem de fazer mal a seres humanos. Só que, nesse caso, em que ela tem que enfrentar uma outra androide mais forte, ágil e sem escrúpulos do que ela, até que ponto essas travas éticas se tornam uma desvantagem?
Em time que se está ganhando…
Certo, eu sei que é bom a gente repetir fórmulas que funcionaram antes. Mesmo assim, às vezes, é bom a gente tentar entender o limite que separa a referência a algo antigo (que vai nos dar a sensação agradável de nostalgia ao percebê-la), da referência a si mesmo, ainda mais quando essa referência remete a um “você mesmo” relativamente recente.
Eu explico: M3GAN faz tantas referências ao primeiro filme, que fica difícil saber se foi uma maneira de auto satirizar-se ou se foi apenas uma tremenda falta de criatividade. Todos, simplesmente TODOS os principais takes do primeiro filme foram repetidos aqui: ela correndo com um animal, cantando solo, a dancinha… Só faltou matar cachorro.
Mas sabe o que é mais interessante? É que nada disso perdeu a graça! Farofeiro e rindo de si mesmo, M3GAM 2.0 consegue entreter e nada de seus quase 120 minutos é maçante. O comecinho do filme, com a física já prejudicada e cabeças separadas de corpos com um simples soco, já nos dá o tom do que devemos esperar. Então, quando a gente entra no clima, só nos resta relaxar e aproveitar a experiência.
Não vai ser o filme do ano, logicamente. A depender do preço o ingresso, talvez seja até uma opção esperar que ele chegue nos streamings. Mas não é um filme do qual a gente se arrependa de ver. É divertido, agitado, bem-produzido e tem sua própria assinatura.
Sob a direção de Gerard Johnstone, que também se responsabiliza pelo primeiro, e com a participação também reiterada de James Wan no roteiro, M3GAN 2.0 chega aos cinemas dia 26 de junho.
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Gay, Nerd, jornalista e podcaster. Chato o suficiente pra achar que pode se resumir em apenas quatro palavras. Fã de X-Men e especialista em Mulher-Maravilha. Oldschool – não usa máquina de escrever, mas bem que poderia. There’s only one queen, and that’s Madonna!