Pretty Little Liars: Curso de Verão – Mais sangue e mais drama

Começando esse texto para ressaltar, Pretty Little Liars: Original Sin (primeira temporada, 2022) e Pretty Little Liars: Summer School (segunda temporada, 2024) foi o primeiro projeto derivado da franquia original a vingar. Nenhuma outra tentativa de spin offs dentro do universo de Pretty Little Liars (2010 – 2014) durou mais de uma temporada, a última tentativa tendo sido Pretty Little Liars: As Perfeccionistas (Pretty Little Liars: The Perfectionist, 2019), com duas importantes personagens da série original e nenhuma renovação. Agora o seriado Pretty Little Liars, recebendo o subtítulo Escola de Verão em sua segunda temporada, não só ganhou essa novo arco, mas fez ótimos avanços em relação a história e à estética de sua primeira temporada. 

Na primeira temporada, os criadores Roberto Aguirre-Sacasa e Lindsay Calhoon Bring trouxeram elementos de slasher para contar a história destas cinco meninas sendo perseguidas pela figura obscura chamada de ‘A’ e as torturando baseado em pecados do passado cometidos pelas suas mães. Isso rendeu um final emocionante, mas algumas revelações anti climáticas para a identidade dessa figura misteriosa. As motivações dos assassinos da primeira temporada fazem total sentido, assim como seus planos e as dicas deixadas ao longo da temporada, mas uma vez revelado o mandante de tudo não trouxe exatamente muita emoção.

Em sua segunda temporada, o seriado ainda pega a vibe de slashers, tendo várias referências bem pertinentes para a narrativa e a estética também. Enquanto havia na primeira mais tons frios e neutros, nesta segunda as cores são bem quentes, afinal a história se passa no verão. Agora, as protagonistas, interpretadas por Bailee Madison, Chandler Kinney, Zaria, Malia Pyles e Maia Reficco, estão sob ameaça de reprovarem de ano e devem frequentar a escola de verão. Em nenhum momento é sequer mencionado como a situação atual das mesmas é literalmente culpa do último diretor da escola, responsável por as ameaçar e mandar seu filho assassino mascarado atrás delas. Mas bem, elas devem assim passar nas provas e frequentar a escola de verão.

Em meio a isso é revelado como as meninas têm feito terapia em grupo após tudo que passaram, sendo atendidas pela Doutora Anne Sullivan, interpretada pela atriz Annabeth Gish. A personagem não é original do seriado e esteve presente também na série original, aqui mostrando um lado um tanto mais sombrio do mostrado na série original e isso não agradou a todos os fãs. Mesmo fazendo acompanhamento as personagens podem crescer para além dos traumas da primeira temporada, desenvolver novos enredos e explorar lados diferentes de si. É algo interessante dessa temporada, permitir as adolescentes serem adolescentes, mesmo com todo o caos em suas vidas. Trauma não é igual a amadurecimento e o seriado deixa bem evidente suas protagonistas serem adolescentes, mesmo com todo o terror sofrido na temporada passada e nessa. 

Preciso destacar como considero os arcos das personagens ao longo dessa temporada extremamente prazeroso de se assistir. Antes de tudo ressaltar como o maior problema na primeira temporada, para mim, eram os relacionamentos sem graça, sem drama e sem emoção de todas as liars. De formas diversas isso foi resolvido, com alguns casais simplesmente terminando e outros sendo aprofundados de forma mais desenvolvida nessa temporada. Além de aos interesses amorosos terem sido dado tridimensionalidade dentro da história. Outro ponto fraco foi o protagonismo dado às mães em sua primeira temporada, essencial para a história da temporada funcionar mas, honestamente, o elenco principal ofuscava demais as suas mães e isso era bem evidente. 

Um dos pontos altos dessa temporada, bebendo da anterior, foi a relação entre as cinco protagonistas. O laço de amizade, de companheirismo entre elas funciona muito bem para a série, em momentos de tensão, assim como em momentos de descontração. Mesmo sendo uma série de terror, especialmente slasher, as relações entre personagens fazem uma imensa parte da narrativa e o elenco nesse segundo ano parece ter desenvolvido ainda mais a química entre as cinco. A direção estética também permite a identidade da série e suas narrativas nem sempre serem tão pesadas nessa temporada, enquanto as meninas lidam com problemas de adolescentes (sem levar em consideração a perseguição por uma serial killer). 

Nessa temporada a metalinguagem sobre as moças estarem dentro de slashers não é nem um pouco sutil, com a figura da Bloody Rose, nova vilã da temporada com uma estética mil vezes mais sofisticada e marcante do que aquela do vilão da temporada anterior, chamando as garotas de “final girls”. Esse tipo de referência, frequentemente feita pela personagem Tabby (Chandler Kinney), agora estava fazendo parte do enredo da temporada. As meninas se tornaram alvos por alguma razão, dessa vez não era exatamente possível compreender as motivações de Bloody Rose estar perseguindo nossas protagonistas, mas ela estava lá decidida a testar as cinco e suas capacidades de serem final girls. Agora preciso falar sobre os arcos dessas personagens e seus desafios seguindo a ordem pela qual nossa figura antagônica optou por seguir para seus desafios. 

Primeiro Mouse Honrada. Em seu aniversário Mouse vai para uma festa surpresa e termina por virar um rato fugindo de uma armadilha literalmente. Interpretada por Malia Pyles, a personagem tem uma nova obsessão nessa temporada, ainda relacionada a internet, mas bem mais compreensível daquela na primeira temporada. A garota é o elo das protagonistas com o site “Spooky Spaghetti”, onde aparições fantasmagóricas da figura Bloody Rose e a criação de toda uma mitologia cercando o Massacre de Millwood (eventos da primeira temporada) estão presentes. A atriz parece estar bem mais confortável no papel, assim como a própria personagem se mostra mais confortável ao redor de suas amigas e com o seu relacionamento com Ash (Jordan Gonzalez). Enquanto não me interessava demais pelo casal na primeira temporada, a química e interações entre os dois na segunda realmente me convenceu mais. O fato de Malia e Jordan namorarem na vida real pode ter algo a ver com isso, mas a parceria entre os dois nessa nova temporada é muito bem vinda e os tornou o único casal com salvação da primeira temporada. 

Já Faran Bryant não está mais na trajetória do balé, na verdade ela tem lutado para encontrar seu próprio caminho se tornando cada vez mais forte. Mas é forçada a testar sua força e resistência em um embate fatal. Desde a primeira temporada a personagem interpretada por Zaria tem sido a minha favorita, pela forma como ela não tem paciência para lidar com absolutamente nada. Nesta nova temporada ela está determinada a descobrir quem é fora do balé, passando a ser salva-vidas no clube local e se afastando do seu namorado Henry (Ben Cook) e eventualmente terminando. Sua amizade com Kelly (Mallory Bechtel) é um importante ponto para o avanço do enredo, pois Faran é a mais próxima do enredo do culto ao qual Kelly faz parte, a Igreja da Mãe da Santa Graça. A personagem de Zaria é colocada fisicamente em seu limite, mas honestamente não deita para Bloody Rose, para pessoas religiosas preconceituosas ou para um chefe irresponsável ao longo da temporada. Assistir Zaria por mais um ano só me faz querer vê-la em mais obras e com novos personagens, mas também ver mais de Faran nas próximas temporadas.

Noa Olivar, atleta forçada a correr por espinhos de rosas para evitar a morte de alguém amado por ela. Nessa temporada a personagem interpretada por Maia Reficco causou um pouco de raiva para alguns fãs, pois ela interpretou uma personagem adolescente sendo uma adolescente. Noa foi colocada num triângulo amoroso nesta temporada, algo bem comum para basicamente a maioria das obras já feitas em diversos gêneros cinematográficos diferentes. Os interesses amorosos eram Shawn (Alex Aiono), namorado atleta da personagem ao longo da primeira temporada, e Jen (Ava Capri), uma moça com quem Noa teve um lance durante seu tempo no reformatório. Todo o triângulo amoroso é feito para jogar Noa nos braços de Jen, mas a forma como esse desenvolvimento acontece não é exatamente do jeito “certo”. Bem, jovens cometem erros e agem no calor do hormônio, permitir uma personagem fazer escolhas erradas é parte do que sempre fez a franquia Pretty Little Liars. Em temporadas seguintes é de se esperar uma melhora na escrita da relação de Noa e Jen, além de um acerto no término dela com Shawn.

Nossa final girl da primeira temporada, Imogen Adams, interpretada por Bailee Madison, nesta temporada lida com seus traumas e transtornos herdados de sua mãe. Focada inicialmente na bebê Estelle, adotada por um casal da cidade e não o casal mencionado no final da temporada passada. Uma das melhores cenas do começo da temporada foi Imogen citar a energia estranha vinda de Ezra, do casal que quase adotou sua filha. Afinal, é bem estranha a energia de um homem adulto mantendo por anos a relação com uma aluna de ensino médio menor de idade e mais uma vez o seriado aponta o quanto estranha foi a relação desenvolvida na série original. Eventualmente Imogen basicamente esquece da bebê com a qual ela se mantém apegada e passa a entender sobre os problemas psicológicos da sua mãe e também desenvolve uma relação bem complexa com seu colega de trabalho – Johnny (Antonio Cipriano). Honestamente o relacionamento dos dois é bem divertido de se assistir, pois cada bandeira vermelha demonstrada por Imogen parece ser razão de Johnny se apaixonar ainda mais, até as mais perigosas. É possível notar Bailee Madison se divertindo muito mais com os rumos da sua personagem ao longo dessa temporada.

Sendo sincero não aguentava o quanto Tabby Haworthe (Chandler Kinney) era frequentemente reduzida a comentários fazendo referência a filmes de terror ao longo da primeira temporada inteira. Bem, esse tipo de personagem é bem comum nas mais diversas franquias de terror, especialmente slasher, mas durante a primeira temporada realmente a personagem mal respirava sem fazer nenhuma referência. Foi mais próximo do final da temporada onde a mesma teve um arco mais bem estruturado e extremamente importante para o seu desenvolvimento e do enredo na segunda temporada. Primeiramente, pois a personagem achou a sua forma de lidar com a raiva pela violação cometida a ela e a Imogen, pelo personagem Chip (Carson Rowland). Ressaltando o quão traumático foi as personagens terem sido estupradas, mas Tabby foi estuprada pela pessoa em quem ela confiava, seu melhor amigo. Suas questões de confiança em outras pessoas eram uma parte essencial para a construção do seu arco na nova temporada. Apresentar um novo personagem com quem ela trabalharia, no mesmo local onde ela trabalhava com Chip, era um problema esperando para acontecer. Mesmo assim, sob absolutamente toda a suspeita, o personagem Christian (Noah Alexander Gerry) se encaixa muito bem na trama, tanto como interesse amoroso quanto como possível suspeito. 

Houveram mudanças para com as personagens, não obrigatoriamente pela questão narrativa, mas provavelmente pela percepção sobre elementos que prejudicam mais a recepção do público às narrativas. Mesmo tendo apreciado o seriado desde sua primeira temporada, consegui aproveitar mais essa nova e gostar da maioria das mudanças feitas. Ressaltando aqui a importância de termos adolescentes sendo adolescentes, cometendo seus erros e mentindo sobre isso. Afinal o nome do seriado é Pretty Little Liars, o mínimo esperado das protagonistas destas histórias é serem capazes de mentir. Aprecio muito a forma como as meninas não são tão reféns de chantagens, mas houve uma certa ausência real de segredos ao longo da segunda temporada. 

Outro enorme problema da temporada se dá pela revelação final, por seguir a mesma linha da primeira temporada. A figura assassina não é a principal pessoa por trás do plano, mas sim um fantoche por trás dessa outra pessoa. Mesmo tendo gostado muito mais da revelação e das cenas de perseguição da segunda temporada, é importante ressaltar como a fórmula é a mesma. Apesar de ter aproveitado boa parte da revelação, foi extremamente incômodo ver a figura antagônica da Bloody Rose que apresentou uma grande ameaça ao longo de toda a temporada, reduzida a uma mera capanga do vilão real da temporada. Houve um certo potencial desperdiçado, mas ainda assim o final apresentou uma revelação satisfatória e encaixou inúmeros pedaços da história dos episódios da temporada. 

Ambas as temporadas do seriado estão disponíveis no streaming Max e ainda não houve confirmação de uma terceira temporada, mas quando vier espero poder ver uma maior contagem de corpos e antagonistas melhor aproveitados, dentro suas dinâmicas. 


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