Pretty Little Liars: Original Sin – O terror combina bem com ‘A’

Honestamente, nessa onda enorme de remakes, reboots e revivals, me pegou de surpresa o anúncio do seriado Pretty Little Liars: Original Sin (2022 -). A razão da surpresa se deu mais por insistirem em uma franquia cujas tentativas de séries derivadas dificilmente iam para frente. Na certa ia ser mais um fracasso sem personalidade nenhuma, bebendo da série original que não havia envelhecido da melhor forma por inúmeras razões. Mas bem, eu não poderia errar mais sobre como me sentiria sobre esse spin off/remake/revival, porque o elemento slasher fez toda a diferença. 

Os criadores Roberto Aguirre-Sacasa e Lindsay Calhoon Bring usam elementos do terror slasher para construir uma obra com uma identidade própria, se destacando muito de outras tentativas de reviver o hype do seriado original de 2010. Claro, permanece sendo uma obra adolescente, mas é visceralmente dedicada a homenagear e reverenciar o gênero do horror que às vezes é tão ridículo. Mas não de uma forma ruim, ridículo como muitos clássicos do horror já foram em escolhas estéticas e técnicas.

Se a expectativa era a da história beber muito de sua série original, Pretty Little Liars (2010 – 2017), o fato de a obra se apresentar como um seriado de terror slasher diverge totalmente do esperado. As prévias tentativas de séries derivadas pareciam muito tentar apresentar elementos de terror, mas seguindo à risca a identidade dramática adolescente da série. Além de tudo, a conexão entre as séries com sua raiz (o seriado original) era algo muito prejudicial para uma obra um tanto datada. Pretty Little Liars: Original Sin faz menções a Rosewood, faz menções até a alguns personagens da série baseada nos livros de Sara Shepard, mas se tais referências forem removidas não fariam falta alguma para o enredo. 

Quando reclamo sobre a série de 2010 ter envelhecido mal não se trata apenas de algumas problemáticas como pedofilia, machismo e outras coisas, mas as nossas protagonistas são mais do que burras ao longo da duração do seriado e é enfurecedor as vezes. 

 ‘A’ em Original Sin não é apenas uma assinatura no final de uma mensagem, mas uma figura extremamente ameaçadora com um visual extremamente inspirado por vilões do Slasher, como Jason Voorhees por exemplo. Isso é muito impactante para a atmosfera de horror criada pela obra, usando elementos de franquias famosas do terror como Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado, Halloween e Pânico. A criação imagética desse antagonista é extremamente importante para a assinatura dessa série e, arrisco dizer, para o sucesso alcançado pela mesma. 

Apresentando nosso elenco, as novas “Pequenas Mentirosas” parecem ter em sua maioria problemas superficiais demais, nada disponível para as chantageá-las. Aí que a série acerta muito, em não as colocarem apenas em posição de serem chantageadas, mas sim lhes pondo como pessoas ameaçadas por essa figura macabra. Como o próprio nome da série sugere, o “pecado original” é mais sobre algo antigo e não relacionado a nossas protagonistas. 

Em sua primeira cena somos apresentados a uma festa de ano novo em 1999, uma morte que traumatiza muitos. Mas são esses cinco rostos os que se destacam. Ao longo do primeiro episódio descobrimos quem eram esses rostos, cinco meninas que se tornaram as mulheres mães de nossas protagonistas. São os pecados dessas mulheres os responsáveis pelo tormento sofrido por suas filhas e ao longo da temporada mergulhamos mais na história e compreendemos o que há por trás desse “pecado original”. (Ressaltando aqui o quanto odiei o título traduzido do seriado, pois “Um Novo Pecado” é o oposto do “Original Sin”, mas isso não afeta o enredo, só senti a necessidade de ressaltar isso). 

Nas imagens de Imogen Adams (Bailee Madison), Tabby Hawthorne (Chandler Kinney), Faran Bryant (Zaria), Mouse Honrada (Malia Pyles) e Noa Olivar (Maia Reficco) temos as protagonistas dessa série com uma primeira temporada de dez episódios. Cada uma delas com seus próprios problemas pessoais, a primeiro olhar muito adolecente e nada especificamente difícil ou complicado. Ao longo do seriado podemos mergulhar mais na psique das personagens, seus problemas e traumas. Vemos aqui protagonistas mais cinzas, não obrigatoriamente seguindo um compasso moral e ético na maioria das vezes. Isso é inclusive uma parte importante da trama como elas vão sendo testadas sobre o limite de sua moralidade.

Por razões narrativas a personagem de Bailee Madison tem uma foco principal, chegando a ter uma importante cena de perseguição e uma das duas melhores da primeira temporada. Na sua personagem está uma das piores partes da série, o fato de o roteiro e aparentemente a própria Imogen esquecerem sobre a gravidez em estado avançado da garota. Ao longo da temporada temos um bom vislumbre do amadurecimento da mesma, como ela lida com os problemas deixados por sua mãe e seus próprios traumas. 

É interessante a metalinguagem dentro do horror, algo presente há algumas décadas já neste gênero cinematográfico, e é aí onde entra a personagem de Chandler Kinney. Tabby é uma fã de cinema de horror e isso diz muito em produções do gênero pois evita muita coisa estúpida de acontecer. Às vezes se torna exaustivo a forma como a personagem não passa por três frases sem fazer alguma referência a filmes de terror, mas ela é uma das mais inteligentes do grupo provavelmente graças ao seu conhecimento sobre os horrores do cinema. 

Zaria deu vida à Faran e o arco da personagem pode ser um dos melhores ao meu olhar, desde o começo, a relação da personagem com a pressão posta sobre ela. Não apenas isso, a sua personalidade é a mais prazerosa de se assistir no seriado tanto em relação a toda a bagunça macabra rolando entre as protagonistas quanto à mesma lidando com o desaforo de outras pessoas. Sua trajetória no balé poderia ser facilmente associada à protagonista de Cisne Negro (Black Swan, 2010), vivida por Natalie Portman. 

Sabe como os norte americanos adoram relacionar seus personagens latinos ao uso de drogas, esse problema é bem repetido aqui através da história da temporada de Noa Olivar. O lado bom é como Maia Reficco é capaz de dar vida a uma personagem carismática e mergulhar bem na complexidade de seu enredo. Uma das interessantes facetas é como o seriado esconde bem os segredos, revelando como nem tudo é de fato como se esperava ser. 

Sem exageros, o enredo mais perturbador ao longo da primeira temporada foi o de Mouse. Honestamente parecia não fazer sentido algum, e com os episódios passando parecia fazer menos sentido ainda. No final a personagem tinha bem uma motivação, mas isso não faz suas atitudes menos perturbadoras. Diferente dos demais arcos, influenciados mais por forças externas, Mouse se beneficiaria muito de terapia.

Escolhas estéticas da série, tanto de fotografia quanto de direção de arte, garantem um tom de originalidade e um tom vintage. Quando se trata de uma arte mais retrô, deixando a série com uma aparência mais antiga mesmo se passando nos dias reais, não posso evitar lembrar de O Mundo Sombrio de Sabrina (Chilling Adventures of Sabrina, 2018 – 2020) e das primeiras temporadas de Riverdale (2017 -). Quando se trata de quesito fotografia, a série consegue fazer belas homenagens a clássicos de terror, com um toque muito bom de originalidade. Trazendo muito aos quesitos técnicos temos o fato dos episódios da temporada terem a direção assinada por diretoras, exceto um deles. São os nomes das mulheres responsáveis pela direção Megan Griffiths, Roxanne Benjamin, Maggie Kiley, Lisa Soper e Cierra “Shooter” Glaudé.

Sendo bem recebida pelo público e pela crítica a série ganhou uma confirmação de segunda temporada pela HBO Max, não tendo mais o subtítulo “Original Sin”, mas agora “Summer School”.


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