Invencível: 1ª Temporada – Com grandes poderes vem grandes traumas

De primeira eu resisti um pouco a assistir Invencível (Invincible, 2021 -). A divulgação me fez pensar “nossa, outro The Boys? Meio repetitivo.” o que depois foi se mostrando uma ideia errada conforme as opiniões foram saindo, mas apenas quando comecei a assistir há pouco tempo, logo quando a segunda temporada estava para lançar foi que entendi que Invencível não é tipo The Boys (2019 -). É outra coisa.

Invencível é uma série animada do Amazon Prime Video adaptada de um quadrinho de mesmo nome, que eu falei um pouco sobre bem aqui e já temos texto sobre a segunda temporada aqui.

Na série acompanhamos Mark Grayson, um adolescente comum, tirando o fato de que ele é filho do maior super-herói da Terra, o alienígena Omniman. Sendo assim ele é metade viltrumita e quando seus poderes enfim despertam ele se torna um dos seres mais poderosos do planeta. Agora ele vai ser treinado pelo pai para se tornar um grande super-herói sob o nome de Invencível. Parece bem simples, certo? Até trivial ou meio familiar? Até seria, se essa não fosse uma história escrita por Robert Kirkman, também autor de The Walking Dead.

A história de Mark poderia ser ordinária, caso não se passasse em um universo que tende a ser mais realista e cruel. Apesar de claramente inspirado no Superman e ser sim bem difícil de ele se ferir, nosso querido Invencível ainda pode apanhar bastante de outras pessoas que possuam super força, e apanhar de verdade. Com direito a sangue, perder alguns dentes e ficar com a cara roxa e inchada, como seria no mundo real. Porque um dos pontos essenciais é este, a violência é violenta, não é algo legal de se ver ou admirar, é sério mesmo. Ser herói é coisa séria e perigosa.

É isso que quero dizer quando digo que Invencível parece The Boys, mas é outra coisa. O gore de Invencível serve muito bem a trama, sem intuito de choque ou sátira. Se não fosse o peso das lutas e os palavrões, poderíamos facilmente estar em uma série do universo da DC ou da Marvel. Pois de fato estamos, com direito a todo tipo de história clássica dessa mídia, de alienígenas e agências governamentais secretas a seres mágicos e vigem do tempo. Existem homenagens e referências bem perceptíveis às histórias clássicas de super-pessoas. Este universo tem um número ENORME de heróis e heroínas, alguns claramente remetem a algum já existente, seja com nomes ou poderes, bem como as equipes. Além de uma boa história de super-heróis, Invencível também é uma grande homenagem a todas elas.

Porém, para mim o que se destaca mesmo são conceitos que a Casa das Ideias e a Editora das Lendas não trabalham tanto, como o grande fardo que Mark carrega. Ser responsável por vidas enquanto se é apenas um adolescente ou não ser completamente humano. A raça viltrumita é muito poderosa, mas tende a ter uma existência solitária já que quanto mais seus seres crescem, mais devagar envelhecem. Mark vai viver alguns séculos ainda parecendo não ter mais do que vinte anos.

É dada a vida civil de Mark o mesmo peso de sua vida heroica, então nos envolvemos com ele e os demais de modo profundo, ainda mais do que nos quadrinhos. Muitos personagens ganharam tramas mais aprofundadas e interessantes e um desenvolvimento muito além das páginas de revista, todas as histórias antes episódicas agora têm frutos que rendem mais e por mais tempo enquanto tudo isso se entrelaça com a história principal. Kirman e a equipe da série conseguiram basicamente melhorar o que já era ótimo. Agora personagens femininas têm arcos e importância de verdade para a trama, temos mais diversidade em tela e alguns pontos de subtramas foram modificados para ficarem mais complexos e interessantes.

Os traços do desenho e a animação em si, lembram o que geralmente é feito em séries de animação com grande foco na ação, momentos mais focados na história tem menos destaque e movimento enquanto momentos de ação são mais fluidos e trabalhados. O problema é que geralmente essas séries têm episódios de 20 minutos, enquanto os de Invencível têm mais ou menos 1 hora, o que acaba passando a impressão de falta de investimento. As personagens tendem a ficar muito tempo paradas falando enquanto apenas as bocas se movem, alguns movimentos são truncados e apesar do texto incrível, essas coisas acabam chamando atenção. Ambos os trabalhos de voz original e dublagem estão excelentes, com grandes nomes em ambos que conseguem entregar a carga emocional que a série pede com suas atuações.

Se você gosta de uma boa história de super-herói e não se incomoda com esse fator a mais da violência, recomendo demais que assista a série. Eu demorei a assistir e a devorei de um dia para o outro.

Importante dizer que quando Invencível chegou, foi impossível não ver seu brilho e seu destaque, mas agora a concorrência ficou forte. Temos Minhas Aventuras com o Superman (My Adventures with Superman, 2023 -), X-Men ’97 (2024 -) e está chegando Batman: Cruzado Encapuzado (Batman: Caped Crusader, 2014 -). Para manter seu lugar e não perder a qualidade vai ser preciso mais investimento e carinho, cada vez mais.


VEJA TAMBÉM

Invencível – Ser super-herói não poderia ser mais difícil

Invencível: 2ª Temporada – Não diminui a qualidade, nem a violência