A Cor Púrpura – A negritude para além do sofrimento

Ser uma pessoa negra não é fácil, estamos a tantas décadas lutando e cobrando por mais e esse mais é sempre o mínimo. Mais empregos, mais oportunidades, mais diversidade, mais amor, mais anos de vida… e claro, mais presença no cinema, nas categorias, com mais premiações. Inicio o texto falando disso, pois acabo de ver o melhor filme de 2024 e A Cor Púrpura (The Color Purple, 2023) é o nome dele. E bem, não vou começar uma enorme discussão sobre como a Academia sempre ama musicais, exceto quando o foco é em uma mulher negra, aí eles vão ignorar e seguir para o próximo, mas como eu disse, não vou falar sobre isso. 

Esse filme, sendo a adaptação em formato de musical do romance de Alice Walker, traz a vida de Celie, uma mulher que depois de ser afastada de sua irmã, tenta sobreviver a todos os homens ruins que encontrou em sua vida: seu pai e depois seu marido, Mister, no entanto, com amigas que encontra pelo caminho ela tenta manter sua fé. Confesso que mesmo já tendo ouvido falar dessa obra, eu tinha um conhecimento bem raso sobre a história, nada além de ser sobre o sofrimento negro e esse tipo de literatura/filme sempre fica no final da minha lista de coisas para ver, no entanto, quando o teaser saiu mostrando que seria um musical, uma inquietação me dominou, é possível mostrar uma história sofrida com musicas e dança sem banalizar? 

Eu não sou fã de musicais, para dizer o mínimo, já que apenas Mudança Hábito (Sister Act, 1992) me conquistou nessa temática – sim, apaixonado por musicais de mulheres negras e música blues negra -, mas já da música Mysterious Ways, eu sabia que não era só a presença de deus que teria no filme, mas a força de vozes negras unidas às coreografias muito bem feitas responderia muito bem as minhas inquietações e com muita qualidade.  

 O trio principal, Celie, Sophia e Shug Avery são perfeitas, nada menos do que isso. O peso das cenas dramáticas e a qualidade das músicas é, em sua maioria, todo carregado por elas e você é levado pelo choro. Definitivamente é preciso chorar por esse filme, como também sorrir e sentir todo o glamour que ele propõe. As várias mulheridades retratadas dão mais camadas e profundidade do que eu esperava da história e me despertou curiosidade em saber como é o romance de 1982. 

Enfim, eu não sei mais o que dizer sobre esse filme porque ele me emocionou e dificilmente outro filme esse ano conseguirá tomar o lugar como o meu favorito em 2024. Sabendo que muita gente está indo aos cinemas apenas para ver filmes que estão concorrendo ao Oscar, deixo muito minha recomendação para ver esse, mesmo que só com uma indicação – ele está indo bem em outras premiações e merece ser visto por muitas pessoas, sobretudo pessoas negras, afinal, “Nós somos mais que reis e rainhas, nós somos o centro do universo”.


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