Em 2020, durante a pandemia, medidas foram tomadas para ajudar setores que estavam sendo muito afetados. Para o setor cultural, uma delas foi a Lei Aldir Blanc, que mesmo vindo em um momento complicadíssimo, acabou nos presenteando com vários lindos projetos. Um deles sendo Clube da Iraceminha, uma fofa websérie para crianças em época pré-escolar.
Clube da Iraceminha é uma série cearense, realizada pelos profissionais cearenses Andréa Calado, Renata Freire, Roberta Filizola, Àlvaro Oliveira, Renan Oliveira, Lourran Tavares, Thomas Magnum, Matheus Mendes e Victor de Oliveira.
Atualmente está disponível em seu canal no Youtube Kids, com 2 episódios de 3 minutos, ambos legendados e contando com versões alternativas com tradução em libras. O primeiro sendo uma introdução à personagem. Conta a história de seu nascimento e a apresentação de sua música tema. E o segundo, uma pequena história para apresentar o conceito de cooperar para as crianças.
A animação é simples, mas bem acabada e sabe driblar suas limitações, é evidente o cuidado que existiu na construção dessa série. O clima é leve e a narração e canto de Daniella Cartwright contribuem muito para isso. Sua voz é tranquila e no tom certo para narrar as aventuras da indígena de 5 anos.
Os cenários e cores da série remetem muito à natureza, já que a tribo tabajara em que a protagonista nasceu, por mais que tenha elementos modernos misturados aos já conhecidos para obras desta temática, está totalmente em contato e união com a natureza. A música tema é uma graça e muito bem feita para as crianças pequenas, com foco em algumas sílabas sendo repetidas e ritmo fácil de pegar.
A série tem capacidade para discutir questões ambientais e relacionadas à natureza juntamente com as do dia a dia. Ainda mais se colocar os valores indígenas que sabemos que falam muito sobre essa sintonia. Também é visível a “cearensidade” trazida para os episódio – com direito a protagonista comendo caju – e o esforço para fugir de estereótipos associados aos povos originários.
Iraceminha recebeu seu nome, como é de se imaginar, de sua contraparte do romance Iracema, de José de Alencar, como homenagem. Por ela ser uma figura emblemática e marcante para a sociedade cearense e, assim, trazer interesse dos mais velhos em conhecer a animação e mostrá-la para suas crianças.
Mas os pais/mães/tutores/responsáveis podem se tranquilizar: apesar disso, a série não se relaciona diretamente com a história da virgem dos lábios de mel, que contém temas nada infantis. Se trata de uma releitura da personagem que não vai para o lado do romantismo ou indianismo. Busca, na verdade, ser mais real em sua abordagem. A produção se preocupa em fazer um trabalho direcionado para seu próprio público, apenas com leves referências a obra original.
Atualmente a série está parada porque seus realizadores precisaram focar em outros projetos. Mas já existe um planejamento para que a série volte assim que possível. Então fiquem ligades!
Clube da Iraceminha tem muito potencial. Tanto por seu aspecto leve e encantador, que trabalha elementos da natureza, quanto por retratar uma etnia que pouco tem destaque em produtos do tipo. Aqui, essa etnia conquista seu espaço.
A websérie também possui um perfil no Instagram e foi tema de um episódio do Se Anime, podcast do nosso site conterrâneo CosmoNerd.
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Bacharel em Cinema e Audiovisual, roteirista, escritora, animadora, otaku, potterhead e parte de muitos outros fandoms. Tem mais livros do que pode guardar e entre seus amigos é a louca das animações, da dublagem e da Turma da Mônica. Também produz conteúdo para o seu canal Milady Sara e para o Cultura da Ação TV.