Obs.: Esse texto pode conter spoilers de Argylle
Famosa por sua franquia de livros sobre espionagem, Elly Conway, interpretada por Bryce Dallas Howard, que você deve conhecer de Black Mirror (2011 – ) – não vou citar Jurassic World Domínio (Jurassic World Dominion – 2022) porque não considero esse um de seus melhores momentos –, leva uma vida comum de escritora, participando de eventos de autógrafos e tendo crises criativas. O que ela está por descobrir é que seus livros chamaram a atenção de uma organização criminosa. Percebendo que a série literária “Argylle” pode ser mais do que ficção, um sindicato de espionagem começa a perseguir a escritora e ela pode descobrir que sua vida não é tão comum quanto imaginava.
Assim, Elly conhece Aiden (Sam Rockwell), um espião de verdade, que passa longe do estereótipo imaginado em seus livros. Na imaginação de Elly, Argylle tem as feições de Henry Cavill, e seu parceiro, Wyatt, é um homem enorme, como John Cena (ambos atores dão vida aos personagens, respectivamente). Mas, talvez a figura que mais chame sua atenção seja o felino Alfie, o gato de estimação de Elly, todo feito em CGI, que, involuntariamente, se envolve nas aventuras da escritora e nos rende momentos que vão da fofura ao riso.
Sem tentar revelar muito do roteiro, Argylle nos entrega uma aventura divertida, refrescante e que não se leva a sério. Matthew Vaughn conseguiu reunir um elenco coeso, que se comunica bem e que está bem alocado nos seus papéis. Cavill fazendo carão, Cena entregando frases prontas e, pra minha agradável surpresa, Catherine O’Hara, a eterna mãe do Kevin em Esqueceram de Mim (Home Alone – 1990), fazendo o que sabe fazer melhor: sendo mãe (e um pouco mais que isso).
Estampa xadrez, danças e metralhadoras: brega, mas com orgulho!
Caso a estética de Argylle te lembre um tanto a de Kingsman: Serviço Secreto (Kingsman: The Secret Service – 2014), não será por acaso. Os 2 filmes têm o mesmo diretor e parece que ele quer muito estabelecer seu próprio, digamos, estilo. Em Argylle a gente encontra o melhor que um filme de aventura e espionagem pode oferecer: muitos assassinatos, um certo mistério (nada que vire seu cérebro o avesso) e muitas, mas muitas reviravoltas.
Não é um filme de espionagem sério, como “Missão: Impossível”, mas também não é uma história pra crianças, como “Pequenos Espiões”. Argylle leva a história numa boa, de um jeito leve, sem tentar fazer grandes reflexões e, principalmente, assumindo uma barreguice escrachada, que se encaixa bem com o que estamos assistindo e complementa a trama.
Arrisco até dizer que essa estética é um personagem à parte: bombas de fumaça colorida, dança coreografada com metralhadoras, patinação, muito xadrez amarelo e piadas em momentos nada apropriados. Isso tudo faz a gente perceber que, apesar de precisarmos de um certo trabalho de suspensão de descrença, nada disso está em desacordo com o que o roteiro pede. Pelo contrário, torna nossa experiência mais divertida e leve. Afinal, nem sempre a gente vai ao cinema pra filosofar sobre o muno, né? Às vezes a gente quer só desassociar, mesmo.
É bom, mas tem problemas
Certamente, não há muito o que se preocupar quando a gente fala sobre a física e o funcionamento de certas coisas no mundo. A mensagem já está posta quando a gente vê, na primeira cena do filme, o agente Argylle pilotando um veículo (um Jeep, talvez? Desculpa, não conheço carros e reconheço o Uber pela cor) pelos telhados em uma cidade na Grécia.
O que pega mesmo é o uso de um CGI que grita na nossa cara. E não, não estou falando dos momentos em que ele “precisa” ser evidente. Eu sei que fumaça de bombas de gás não fazem “formato de coração” – e isso, pra mim, tá super ok. Mas alguns trabalhos deixaram mesmo a desejar e, provavelmente, isso se tornará tão evidente no futuro que poderá fazer o filme envelhecer mal. O petróleo jorrando, o Jeep desajeitado com Henry Cavill sacudindo lá dentro e até o gato descolado das mãos dos atores em praticamente todas as vezes que alguém tinha que segurá-lo.
Mas, talvez, pior do que tudo isso, seja o “deus ex machina” mais cara de pau que eu consigo me lembrar agora, que surge numa das principais cenas do filme. Certamente um desfecho preguiçoso pra um roteiro tão divertido e, até certo ponto, bastante criativo. Soou meio anticlímax pra mim. Depois de tantos plot twists no filme inteiro, parece que as ideias acabaram no momento em que ele mais precisou. Uma pena.
Veria de novo, mas não pagaria de novo
O saldo final de Argylle, ao menos para mim, é positivo. O filme conta com meia dúzia de participações especiais com rostos que são muito populares. Encontramos Dua Lipa, Sofia Boutella, Samuel L. Jackson e, se você não piscar, vai reconhecer Sir James Catton. Um elenco bem proposto, dado o peso de cada papel e texto que foi repassado pra eles.
Mas, estrela mesmo, é a protagonista. E não há nenhuma surpresa aqui. Bryce está sempre bem na tela, seja interpretando a atrapalhada escritora que tem medo de morrer o tempo todo, seja fazendo algo completamente inusitado em dado momento da história. A atriz consegue segurar a comédia e a ação, e seu par na tela não fica atrás. Uma química gostosa nessa parceria.
Ainda assim, Argylle não vai muito além de uma “Sessão da Tarde” mais cara. O filme é gostoso, diverte, mas não me levaria pra sala de cinema uma segunda vez. Bom pra ver quando a casa tá cheia de amigos e a gente põe um filme pra ficar rodando na TV, mas sem deixar de lado uma fofoca ou outra durante a exibição. Deve animar as tardes de domingo da TV aberta daqui alguns anos. Ah! E tem uma ceninha pós créditos. Então, não se apresse muito pra deixar a sala.
Argylle – O Super Espião (Argylle – 2024), estreia dia 1º de fevereiro e tem pouco mais de 2 horas. A título de curiosidade, Henry Cavill foi escalado por Matthew por não ter conseguido um papel como James Bond, quando tinha 22 anos. Parece que finalmente o ator conseguiu ser um espião.
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Gay, Nerd, jornalista e podcaster. Chato o suficiente pra achar que pode se resumir em apenas quatro palavras. Fã de X-Men e especialista em Mulher-Maravilha. Oldschool – não usa máquina de escrever, mas bem que poderia. There’s only one queen, and that’s Madonna!