Sorria – Um sorriso sem graça e simplório

Parker Finn, diretor e roteirista de Sorria (Smile, 2022), sem dúvidas viu seu sonho ser realizado em junho de 2020, quando foi escolhido pela Paramount Pictures para realizar o longa-metragem de seu próprio curta Laura Hasn’t Slept (2020), o qual foi premiado no South by Southwest na categoria Midnight Short. No curta, uma jovem, aterrorizada por seus pesadelos envolvendo um homem com um sorriso macabro, procura ajuda em uma consulta psicológica, mas as coisas não lhe terminam bem. Com o bom desempenho de Laura Hasn’t Slept, o longa-metragem Sorria, com um orçamento generoso de 17 milhões de dólares, distribuído por uma grande empresa cinematográfica como a Paramount e sendo escrito e dirigido por um diretor estreante em longas possuidor de uma mente inventiva e com uma mensagem para transmitir ao público tinha tudo para ser um ótimo filme de terror, certo?

O que acontece é que Sorria funciona de fato como um filme de terror, com sua aura misteriosa, beirando o investigativo, as cenas aterrorizantes envolvendo horror físico e gore com um pézinho no terror psicológico e uma boa intenção de tratar sobre um assunto sério como a depressão. Contudo, a sensação que tive ao assistir ao longa foi de… podamento. É notável como o diretor possui um senso estético que vai além do regular e que quer demonstrar serviço e deixar sua marca como autor, principalmente quanto à escolha de planos e à ritmo. Infelizmente, porém, ainda se trata de uma produção mais voltada ao grande público e é perceptível a mão da produtora em decisões relacionadas ao desenrolar da trama e à própria estrutura narrativa que se assemelha a vários outros filmes de terror mainstream que já assistimos. 

A história segue a terapeuta Dra. Rose Cotter (Sosie Bacon) que, após ter uma experiência traumática durante uma sessão com uma paciente que testemunhou seu professor cometer suicídio, passa a sofrer com alucinações de pessoas lhe exibindo um sorriso tenebroso e, com isso, sai em busca de respostas ao passo que se vê perdendo sua sanidade mental durante a investigação.

O filme tem a intenção de não somente causar terror no espectador, como qualquer filme do gênero, mas busca também trazer uma reflexão sobre a depressão e os efeitos desta na vida das pessoas. No entanto, tudo é abordado de maneira rasa, fazendo com que em determinado momento a quantidade de jump-scares e apresentação da própria criatura medonha que seria a personificação dessas alucinações que a protagonista tem vivenciado nos faça reconhecer Sorria apenas como mais um “terror de shopping-center”, o que é uma pena.

Quanto à parte técnica, o que se destaca é sem dúvida a fotografia e o design de produção que são eficientes, mas também possuem um toque de requinte, trazendo a sensação de que havia um propósito de tornar o longa mais autoral e peculiar. Fora isso, temos um roteiro com uma boa premissa, mas sem muito conteúdo e com muitas facilitações, o que resulta em uma narrativa que parece não ter ou saber para onde ir.

Sorria então é um filme razoável, com boas intenções e um diretor e roteirista com um perceptível desejo de fazer cinema autoral, mas infelizmente o roteiro fraco e a necessidade da distribuidora de alcançar um grande público acaba tornando o longa pequeno e talvez até esquecível. Um genuíno suspiro de lamento no fim da sessão.


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