The Umbrella Academy: 3ª Temporada – Tudo é sobre família

Tudo sempre é sobre família, seja ela não existir ou existir, se há um pai violento, ausente ou presente demais, uma mãe super protetora, negligente ou narcisista, às vezes um irmão invejoso, superior ou apenas psicopata. Não importa o que é, o contexto familiar sempre importa e The Umbrella Academy (2019 -) trata muitas dessas opções citadas com um humor único e claro, sem esquecer a destruição do mundo.

Desde a aparição de Cinco (Aidan Gallagher), lá na primeira temporada, sempre temos perguntas sobre a origem deles, viagem no tempo e para onde essa história vai.

Depois de salvar e causar o fim do mundo duas vezes, os irmãos guarda-chuva acabam em uma nova realidade, dando de cara com seu pai – uma espécie de derivado pós 1963 -, com filhos que não são eles. Essa nova família é repaginada até no nome, se intitulando Sparrow, eles deram “certo”, nenhum dos irmãos morreu ou desapareceu e a equipe de heróis continua junta, eles são, em ordem numeral: Marcus (Justin Cornwell), Ben (Justin H. Min) – numa nova versão do irmão morto -, Fei (Britne Oldford), Alphonso (Jake Epstein),  Sloane (Génesis Rodríguez), Jayme (Cazzie David) e Christopher. Não que estarem todos juntos e vivos signifique que essa família é mais equilibrada que a anterior, no entanto, mesmo sem querer você acaba comparando os erros e mudanças.

A continuação, que basicamente se passa num hotel misterioso – que ninguém faz perguntas (não pude deixar de associar ao hotel de John Wick) -, os irmãos Umbrella se refugiam enquanto travam um tipo de guerra com seus companheiros de nascimento, uma batalha que inclui inseguranças, amor e Footloose, contendo também um suspense que é bem segurado até o último episódio. Ao mesmo tempo, cada um segue em seus pequenos arcos: Diego (David Castañeda) que é surpreendido por Lila (Ritu Arya) com um pré-adolescente, alegando que ele é seu filho e que agora era hora dele se tornar pai,  Cinco querendo aceitar que está de férias e pode descansar num mundo sem contagens regressivas e assassinos com máscaras de bichinhos e Viktor! (Elliot Page). Temos a transição e aceitação desse personagem forte, sensível e traumatizado. E eu poderia passar 45 anos falando sem parar de como eu amei a abordagem sobre a mudança de gênero do personagem na série e como isso foi importante e um abraço quente para pessoas trans, mas prefiro que vejam por si próprios. 

Mesmo que eu tenha um favorito, fica impossível comentar sobre essa série sem falar sobre as mudanças e evoluções de Alisson (Emmy Raver-Lampman) e Klaus (Robert Sheehan) separadamente. Começando pela ex atriz que demonstra as cicatrizes deixadas na última aventura da família, ela não apenas encontrou um grande amor, encontrou a dor e luta que viveram pessoas negras nos anos 60 nos EUA, para além disso, com a certeza de que seus únicos inimigos são os Sparrow e as intrigas dos irmãos, ela voa de volta para onde deixou a filha, descobrindo que ela e seus irmãos nunca nasceram e sendo assim, sua filha nunca existiu. A partir daí a personagem se torna inflexível, ranzinza, vingativa e capaz de qualquer coisa, isso inclui se meter em brigas e matar familiares. Eu confesso que em  dado momento da série, eu torcia para que ela morresse de tanta raiva que me causava, mesmo assim ela conquistou a verossimilhança do luto, esquecida na segunda temporada e um tom quase vilanesco. 

E também tem o Klaus, a alma sensível e drogada da Umbrella Academy, parecendo que superou o luto pelo seu grande amor e desistiu de sua seita, o antigo número quatro, diferente dos irmãos, caminha diretamente para a nova versão de seu pai, Reginald Hargreeves (Colm Feore), que mesmo ainda sendo arrogante e senhor de toda verdade, está um pouco debilitado já que os filhos passarinhos o mantém medicado. Mas entre tigelas de sorvete e sessões de filmes preto e branco, Klaus o ensina a como se livrar dos remédios e ganha em troca um sequestro e práticas de treinamento sobre seus poderes, mesmo que ele não tenha pedido. 

Não podendo faltar o eterno personagem secundário, o apocalipse, pessoas, animais e duas lagostas começam a desaparecer por conta de – mais um -, paradoxo temporal e esse não apenas causa a destruição da Terra, mas também a de todo universo. E mesmo que não pareça possível salvar tudo o que lhes resta, eles vão tentar.

A história, assim como a segunda temporada, gosta de trazer revelações que não parecem grande coisa no momento, causando um efeito borboleta que, claro, acabará com o mundo. Meu receio era que a premissa repetida tornasse apenas uma imitação das temporadas anteriores, mas a locadora vermelha consegue trazer tanta novidade, continuidade e personagens cada vez mais carismáticos, tornando cada temporada única. Ela se encerra com inúmeras possibilidades, alguns personagens desaparecidos, outros sem poderes e o pai Hargreeves junto de uma misteriosa mulher, o que nos resta é aguardar a confirmação de renovação. 


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