O curta dirigido e também estrelado pela diretora Nia DaCosta começa com o anúncio da produção informando sobre as quatro mulheres envolvidas. Será um filme de terror, para maiores, cujo título é The Black Girl Dies Last (A Menina Preta Morre por Último).
O primeiro plano seguindo os créditos é algo bem digno de um filme caseiro, vemos um grupo de amigas apenas se divertindo e aproveitando a companhia umas das outras. Alguém as espreita enquanto elas conversam antes de dormir, vemos a figura de Sabrina (Sabrina Frometa) – uma mulher preta as espreitando até as duas outras amigas deixarem a terceira, também negra, sozinha no quarto. Há uma primeira aproximação entre a figura sinistra que as observava, cortando para a manhã seguinte apenas para a jovem negra deixada sozinha ser encontrada morta por suas amigas.
É uma forma comum de narrativas de filmes de terror fazerem uma falsa revelação sobre a real ameaça em seu começo. A forma como o primeiro ‘susto’ plantado pelo filme é exatamente causado por quem virá a ser a nossa assassina. Estamos falando de um filme caseiro, feito por amigas no Ensino Médio, então não podemos fingir um grande aprofundamento da narrativa e enredo, mas é interessante pontuar como elementos fílmicos estavam presentes nos primeiros trabalhos da diretora que viria a se formar anos depois, Nia DaCosta.
Há passagens de tempo e a forma como estas são pontuadas ao longo do filme são de uma originalidade e humor extremamente certeiros, com a nossa antagonista anunciando quanto tempo se passa entre uma cena e outra. É interessante pensar isso para fora do eixo de cinemas Hollywoodianos e pensar como o cinema é uma arte que deveria ser acessível para todes criarem, assim simboliza o quanto as pessoas devem pensar e criar formas novas para suas histórias. Afinal, não é todo filme que tem milhares de reais ou dólares para seus orçamentos, às vezes a necessidade é um interessante adicional criativo para novas obras.
De forma agitada a câmera tenta acompanhar suas personagens, não obrigatoriamente uma decisão criativa mas possivelmente uma falta de domínio de fotografia, termina sendo algo que combina muito com a história apresentada pelo filme e com suas personagens. O que essas três meninas vão fazer com uma de suas amigas estando morta e esfaqueada, é algo realmente irrequieto e, por opção ou não, a fotografia consegue passar exatamente essa sensação.
Sua trilha sonora é tão exagerada quanto as atuações, quanto os planos erráticos, e isso contribui para gerar o entretenimento durante o curta. É algo crível? Não, nem um pouco. E talvez seja esta a magia dentro da obra, o quão é possível fazer algo capaz de entreter, gerar risos, com pouco. Bem, se você está ai do outro lado falando sobre como fazer terror não é preciso gerar riso, peço para que reconheça o quando filmes de terror ao longo do tempo muitas vezes geram risadas tanto quanto muitas comédias, exatamente por sua irrealidade.
Sabrina é uma antagonista divertida, fazendo o que faz apenas para ver o mundo queimar e a forma como a atriz brinca de brincar de matar ao longo do filme torna a obra um ponto certo para o entretenimento. O adeus a sua personagem, logo antes de afirmar que a garota negra morre por último antes de desfalecer em um puff é capaz de sintetizar da melhor forma as motivações de sua personagem. Não há motivação, apenas a vontade de cometer esses assassinatos, sem precisar de uma história que a justifique por trás ou algum acontecimento perturbador. A menina negra morre por último, um acontecimento, um spoiler, uma promessa, certamente também um filme.
O filme está inteiramente disponível no YouTube e honestamente se tornou um dos meus favoritos da diretora logo após A Lenda de Candyman (Candyman, 2021), antes de Passando dos Limites (Little Woods, 2018).
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Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.