Primeira Morte – Não vai mudar a sua vida, mas vai distraí-la

Desde obras como Drácula, Crepúsculo ou Vamp sabemos como a humanidade ama histórias de vampiros. Seja pela luxúria, a violência, a beleza ou sexualidade, a temática vampiresca é quase sinônimo de sucesso, mesmo que o último tópico citado não possa ser considerado sempre explorado, talvez tenha outro motivo, mas eu opto por achar que a culpa é da mão invisível da heterossexualidade, já que sexualidade se estagna no assunto sexo e a cultura pop insiste que a maioria dos vampiros são héteros, claro que sempre existe uma dualidade ou algo implícito, como a assexualidade do Edward (Crepúsculo), a multissexualidade do Simon (Instrumentos Mortais), mas isso não é muito explorado entre protagonistas.

Então nasce Primeira Morte (First Kill, 2022), a adaptação contemporânea de um dos contos da antologia Vampiros Nunca Envelhecem (V.E. Schwab, 2020), a série de oito episódios reconta um clichê que todos conhecemos, o romance “Romeu e Julieta”, com duas mudanças: monstros existem e o casal lutando por seu amor é protagonizado por duas garotas.

A cidade de Savannah era infestada de monstros, infestada ao ponto de existirem sirenes de alerta. No entanto, em tese, a cidade foi limpa pelos caçadores muitos anos antes ou pelo menos foi o que deixaram que pensassem.

Juliette Fairmont (Sarah Catherine Hook) é a caçula de uma típica família excentricamente rica e de áurea vampiresca oligárquica. A mãe, Margot (Elizabeth Mitchell), e a irmã mais velha, Elinor (Gracie Dzienny), lutam para manter o cargo de Matriarca – líder da raça dos vampiros -, na família. Neste universo, essa linhagem de vampiros legados pode engravidar. Quando eles atingem a “puberdade vampiresca” não conseguem controlar o desejo de sangue humano vivo – que antes era saciado apenas com pílulas de sangue -, e precisa realizar sua primeira morte. 

Já Calliope Burns (Imani Lewis) é descendente de gerações de caçadores de monstros de todos os tipos, viajando pelo mundo e por onde a Guilda – uma espécie de instituição que organiza as missões das famílias caçadoras -, os mandam. Os Burns são liderados pelos pais Talia (Aubin Wise) e Jack (Jason R. Moore) e seus filhos Theo (Phillip Mullings Jr.), Apollo (Dominic Goodman) e Calliope/Cal. Theo é o filho mais velho e do primeiro casamento de Jack, que carrega consigo um ódio intenso por vampiros já que sua mãe foi morta por um. Cal tem uma relação tensa e super protetora com sua família, pois além de ser a caçula, a garota fracassa em sua primeira missão como caçadora, precisando urgentemente conquistar seu lugar de honra e para isso, precisa também de sua primeira morte. 

Mesmo que a série tenha sido feita com um pastel e um caldo de cana de orçamento, o elenco faz o melhor possível com o roteiro nublado e diálogos que às vezes ficam mecânicos demais. As protagonistas conseguem evoluir na interação de um casal que começa numa tentativa de homicídio, de ambas as partes, até ceder à paixão. Mesmo no meio de uma guerra, elas encontram tempo para conhecer uma à outra ou deixar os hormônios fluírem.

 A sexualidade das personagens é falada abertamente – incluindo uma cena em que as duas conversam sobre como se “descobriram” – e me pareceu um diálogo simples e direto, representando que em todo o caos fantasioso que vivem, gostar de garotas é a última coisa que elas tem dúvidas, não sendo o assunto central da história, inclusive entre as famílias, que usam a guerra de suas “raças” para impedir o amor entre as duas pelo dever seguido de geração em geração, mas não por lesbofobia.

E claro, as famílias, separadamente, com suas histórias, já daria uma série boa o suficiente, cada membro tem personalidade própria e talvez pelos poucos episódios ou o almejo de ser renovada não é muito aprofundada, mesmo assim não posso deixar de comentar sobre o maior destaque para mim: Elinor. Além de ser a irmã mais velha de Juliette, ela tem um irmão gêmeo misterioso e após sua mãe, é a próxima na linha de sucessão para se tornar Matriarca. A loira além de ser fiel a Juliette, dando um toque de sensibilidade e fraternidade, não deixa de ser agressiva, sexy, ambiciosa e com um sarcasmo único e conquistador. Ela está sempre surpreendendo com suas ações tortas, mas coesas para ter o que quer: como ficar com um caçador ou sequestrar a amada da irmã e oferecê-la como um pedaço de carne, ou melhor, uma bolsa de sangue.

A série é perfeita para assistir naquele domingo que você não quer pensar em nada, os efeitos ruins te divertem, os diálogos caricatos distraem e a reviravolta e plot no último episódio, trazendo o término do casal, um novo Theo e um plano do irmão misterioso da Juliette, realmente me deixou animado para saber o que planejam para a próxima temporada. Espero que seja renovada e com mais investimento e tempo, pois a ideia não é ruim, só mal executada.


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