DC Liga dos Superpets (DC League of Super-Pets, 2022) é uma nova animação da Warner Bros. para o universo DC e traz uma história focada no mascote do Superman (John Krasinski, na versão original), o cachorro Krypto (The Rock), que entra em uma crise de ciúmes após perceber que terá que dividir seu melhor amigo com Lois Lane (Olivia Wilde), que está prestes a ser pedida em casamento pelo herói. Ao serem atacados por Lulu (Kate McKinnon), uma porquinho da índia que serviu de cobaia nos laboratórios da LexCorp, e que, após adquirir poderes com a kriptonita amarela, deseja pôr em prática os planos de Lex Luthor (Marc Maron) de destruir a Liga da Justiça, Superman é capturado e Krypto perde temporariamente seus poderes. Para resgatar o herói (e toda a Liga da Justiça, que também foi capturada por Lulu), o cão conta com a ajuda de um grupo de animais fugidos de um abrigo e que também adquiriram poderes da mesma forma que a vilã: Ace (Kevin Hart), um cão com dificuldades em demonstrar sentimentos e que se torna invulnerável; Chip (Diego Luna), um esquilo otimista e medroso, que ganha poderes elétricos; PB (Vanessa Bayer), uma porca com problemas de autoestima que muda de tamanho; e Mirtes (Natasha Lyonne), uma tartaruga aventureira e quase cega, que adquire supervelocidade.
Acredito que já é possível perceber, somente com essa sinopse, que toda a trama do filme é um tanto quanto derivativa, bebendo principalmente em duas fontes: Toy Story (1995) e Sing: Quem Canta Seus Males Espanta (Sing, 2016). Do primeiro, temos a trama sobre ciúmes de uma amizade nova que pode atrapalhar a antiga, enquanto do segundo temos o grupo de animais diversos e seus problemas em entender que aquilo que os torna diferentes na verdade são sua força. É possível compreender (e até mesmo perdoar) o roteiro pouco imaginativo levando-se em conta que é um filme claramente direcionado para crianças e, no máximo, pré-adolescentes (os reais e aqueles que vivem dentro de nós), bem como pelo fato dos personagens, em sua maioria, serem muitos bons, com personalidades interessantes. O destaque vai para Lulu, uma vilã que mesmo sendo tão caricata e bizarra – e, por isso mesmo, hilária – consegue realmente se mostrar uma ameaça séria que, além de derrotar a Liga da Justiça, rouba todas as cenas nas quais aparece.
Apesar desses aspectos levantados, que posso considerar positivos, o desejo dos criadores de focar no público infantil prejudica a maioria das piadas, que trazem muito a sensação de serem repetidas de outros lugares, ainda que, vez ou outra, arranquem algumas risadas. Com isso, não quero dizer que o filme precisaria de piadas adultas, os filmes da Pixar (só para citar um exemplo) estão aí para provar que isso não é necessário para se fazer algo que abarque todas as idades e, ao mesmo tempo, seja engraçado. O que falta é exatamente a criatividade na construção do humor, que não está completamente ausente, mas é perceptível que perde-se a chance de fazer algo que explorasse melhor as possibilidades de se ter animais com poderes como protagonistas. Ainda mais levando-se em conta que o universo ao qual pertencem esses personagens é bastante vasto. Além dessa questão, a própria construção do roteiro é bastante simples, deixando pouco ou nenhum espaço para subtextos. Ainda que não considere um bom exercício crítico imaginar o que um filme ou série poderia ter sido, em vez de apenas analisá-lo pelo que é, não posso deixar de lado quando percebo um potencial desperdiçado.
Isso quer dizer que é um filme ruim? Definitivamente, não. Além dos personagens cativantes, é interessante vermos um outro lado do universo DC que não trate os heróis com tanta sisudez e seriedade – algo que, por exemplo, o ótimo LEGO Batman: O Filme (The Lego Batman Movie, 2017) já havia feito –, assim como as cenas de ação são excelentes, fluidas e aproveitam bem os personagens e seu poderes.
Assim, dentro do que é proposto – uma diversão simples, ágil e colorida –, DC Liga dos Superpets é um filme eficiente. Para o estúdio que nos deu o próprio LEGO Batman e Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas (Teen Titans Go! To The Movies, 2018), no entanto, não é possível ignorar que ele poderia ser mais, muito mais.
P.S.: Há uma cena extra, imediatamente após os créditos principais.
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Cineasta e roteirista, formado em Letras e graduando em Cinema, respira literatura, filmes e séries desde que se entende por gente. É viciado em sci-fi e terror, e ama Stephen King, Spielberg e Wes Craven. Tem mais livros em casa, e séries e filmes no computador de que seria humanamente possível ler e assistir, mas não vai desistir de tentar. Não consegue lembrar o que comeu ontem, mas sabe decorado os vencedores do Oscar de melhor atriz do últimos trinta anos (entre outras informações culturais inúteis).