RESENHA | Pentavia – A força melancólica da poesia de Léo de Oliveira Alves

Lançado de maneira independente no dia 5 de maio, a Livraria Lamarca/CE recebeu em primeira mão o segundo livro de poesias do autor cearense Léo de Oliveira Alves: PENTAVIA.

Percorrendo por cinco vias, o leitor depara-se com sombras de si e de outros reflexos. Iniciando pela Via do Amor (A Estrada do Coração), aquela grande consorte é fonte inspiradora de tantos desastres e inquietações tal qual as empreitadas no mar onde ondas se chocam como universos em ebulição. Um grito abafado rogando por faróis ou em busca de qualquer guia.

A via mística (A Passagem Mística), repleta de seres que representam os confins do âmago humano. Entre números, dríades, leviatãs, as figuras místicas tornam-se quase figuras de linguagem, com força própria de verbo.

A Via do Caos, de mesmo nome, os seres dão espaços para ambientações, descrevendo confusões, demências e alienações de desejos frustrados. O mundano e o irreal brigam pelo território fúnebre da alma. Sobram pedaços em aberração.

Na Via da Dor (O Caminho da Dor), as dores tomam formas desenterradas diante de enterros de uma outrora feliz. Lá, o homem é morimbundo de si, flagelado num caminho repleto de espinhos em forma de interrogatório. Há vislumbres da outrora e tais fagulhas diante da completude que foi um dia só tornam algumas coisas mais dolorosas.

E por último, ela. A Via da Morte (A Trilha da Morte), que se declara num epitáfio aos sons de badalos rumo ao abatedouro. Nela, a vida parece um curta-metragem em longa repetição como os castigos titânicos. As súplicas quem sabe sejam para a musa da via, a que todos um dia entraremos em seus domínios:

“Oh, Santíssima Morte

que no fim de tudo nos encontrará

Daí-nos a Paz.”

Dentro de um ultrarromantismo, Léo de Oliveira dá sentido estético e até interativo para os exageros sentimentais. Versos pessimistas com doses de rogo, o flerte do profano com o sagrado, o egocentrismo melancólico como labirinto e suas inspirações góticas se apoiam nos ombros de gigantes – como assim devem ser os contemporâneos – como Álvares de Azevedo e Lord Byron.

Se Edgar Allan Poe tinha seus corvos, Léo de Oliveira solta os primeiros voos de suas rasga-mortalhas, não somente colocando a poesia ultrarromântica cearense em alto patamar como assinando seu nome como um dos melhores poetas cearenses da atualidade.

[PENTAVIA está à venda na Livraria Lamarca em Fortaleza e diretamente com o autor pelo Instagram @leo.deoliveira.14]


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