Lightyear – … e bem além!

Há mais de 25 anos atrás, um garotinho viu um filme que transformou sua vida. Esta crítica é sobre o filme que inspirou um dos personagens desse outro filme.

Lightyear (2022) é daquelas ideias que todo mundo tinha em mente, mas ninguém conseguia antever se seria uma boa ideia ou um desastre. Contar a história do suposto personagem que inspirou um dos mais icônicos “bonecos” de animação dos últimos 30 anos, acrescendo assim o universo em constante expansão de Toy Story, poderia ser algo bem interessante ou não do ponto de vista criativo. Porém, como bem sabemos, o ponto de vista financeiro é o que fala mais alto na indústria hollywoodiana, e é óbvio que sempre dá pra tirar mais uma casquinha de uma famosa franquia. A única coisa que nós, fãs (especialmente os velhos como eu), podemos esperar é que haja algum respeito por nossa memória afetiva. E felizmente este é um dos casos em que fomos contemplados.

Os patrulheiros espaciais Buzz Lightyear e sua colega de equipe Alisha Hawthorne exploram planetas distantes em busca de um lugar habitável para seres humanos. Entretanto a missão é interrompida e ambos ficam presos em um planeta hostil junto com toda uma população que aguarda na nave em criogenia. A partir daí a nova missão passa a ser remover todos daquele lugar o mais rapidamente possível criando um novo cristal que suporte a carga de  hipervelocidade para que a nave decole e faça a viagem de volta à Terra, e a única maneira de conseguir o cristal perfeito é através do método de tentativa e erro.

Parece um um roteiro de uma ficção científica e aventura espacial bem simplório. E é. E isto é ótimo, ainda mais levando-se em consideração que este seria o filme preferido de uma criança dos anos 1990, ao ponto de seu brinquedo preferido ser um boneco de seu herói.  E é interessante perceber que até mesmo a personalidade dos dois Buzz são semelhantes, o que nos permite reconhecer imediatamente aquele militar de coração mole, sem a necessidade de apresentação de um novo personagem. Ele é exatamente como lembrávamos e é por isso que aceitamos cada uma das decisões absurdas que toma durante o decorrer da história, pois para Buzz a amizade e qualquer sacrifício que ela possa demandar é algo inquestionável.

A simplicidade do plot não necessariamente implica a mesma simplicidade no roteiro. Lightyear nos entrega uma aventura espacial digna das melhores do cinema, cheia de reviravoltas e emoções de tirar o fôlego (quase que literalmente), cenas de ação que jamais deixam a desejar, sem contar um senso de humor clássico, porém certeiro. Além disso, o filme se permite trazer reflexões desde questões ambientais até envolvendo viagem no tempo e suas consequências, e apesar de ainda muito timidamente, conta com pequenas quebras de barreiras sociais conservadoras, o que se mostra sempre um pequeno passo para a Disney, mas um grande passo para a humanidade.

Além de Buzz somos apresentados a novos e interessantes personagens, e é uma pena – mesmo que justificável – que não possamos ter mais tempo para desenvolvê-los, com destaque para Izzy e o gatinho robô Sox. Por outro lado um vilão que já conhecíamos em versão boneco dá o ar da graça em sua versão original, mais sombria e cheia de segredos, amarrando direitinho o roteiro deste novo filme com as referências à franquia Toy Story. Referências essas que, claro, não poderiam faltar, e são muitas, mas que não pesam a mão, nos presenteando de forma sutil com algumas falas e até expressões corporais de Buzz pros mais atentos.

Lightyear é daquelas ideias que sempre tivemos medo de pedir, mas sempre quisemos. E fico muito feliz de ver que tive minha memória afetiva respeitada, e ainda mais, de perceber que temos um filme que sim, vai agradar os fãs antigos, mas que também deve ter uma excelente recepção do público de crianças na faixa etária do jovem Andy em 1995.


PS: Assisti ao filme dublado em português, que é como deve ser distribuído por aqui na grande maioria das salas de cinema, e a voz de Marcos Mion para o protagonista, deve ainda irritar os mais velhos que conhecem seu dono (eu perdi a atenção algumas vezes), mas não deve afetar em nada a experiência dos mais jovens, já que é honestamente um bom trabalho de dublagem (mesmo que eu ainda não consiga entender de jeito nenhum essa escolha).


VEJA TAMBÉM

Toy Story 4 – É divertido, mas dói um pouquinho

Toy Story, brinquedos e a efemeridade