“I remember damage. And scape. Then adrift in a stranger’s galaxy for a long time. But I’m safe now. I found it again. My home.”
Station Eleven (2021 – 2022) é uma minissérie da HBO Max que me trouxe imensas e intensas emoções ao longo dos seus episódios. A história, baseada em um livro de mesmo nome, nos traz um mundo pós-apocalíptico onde grande parte da humanidade morreu após uma pandemia irrefreável de uma nova gripe. Acompanhamos os momentos de alguns personagens, mas temos como protagonista, uma criança, Kirsten, que estava atuando em uma peça de teatro quando o mundo começou a colapsar e não teve chance de se despedir de amigos ou familiares, teve que aprender a viver com dois irmãos que tomaram para si a responsabilidade de cuidar dessa criança no meio do caos.
Para além da identificação com o que se passa em uma pandemia, todo o medo, a insegurança e a angústia imensa do desconhecido que todos nós acabamos sentindo nos últimos anos, a série nos leva além. Não acompanhamos somente os primeiros dias da pandemia, mas 20 anos após o apocalipse. Como os sobreviventes se recuperaram? Como os sobreviventes se organizaram para viver em um mundo que já não tinha nada que lembrasse os dias de antes?
Nossa protagonista sempre amou atuar e leva adiante esse amor, apesar de tudo o que aconteceu. Vemos Kirsten acompanhar uma companhia de teatro, que se organiza entre si para fazer uma rota anual pelos mesmos locais, apresentando Hamlet, de Shakespeare. É através dessa peça de teatro, a partir da arte que vemos esses personagens se reconstruírem. Durante diversos episódios vemos relações serem iniciadas e encerradas através das falas de Hamlet. Vemos personagens relembrando e reconstruírem sentimentos, sensações, relações, angústias, mágoa, perdão e muito mais através da arte, através da atuação, através de emprestar seu corpo para os personagens da peça de Shakespeare.
Ontem assisti uma aula que me deixou ainda mais emocionada ao pensar nessa série, nos foi trazido uma fala de Lacan que muito me lembra o que acontece durante a série. “Mesmo acertando o golpe, mesmo havendo a intervenção de uma espécie de retificação do desejo in extremis, que tornou possível o ato, há, no entanto, ali algo que deveríamos problematizar. Como o ato foi executado? ” Essa fala é colocada no seminário 6, o seminário do desejo. E não é isso o que buscamos em uma análise? Sair do porquê para o como? Como fazer algo daquilo que nos foi feito? Como essa angústia pode dar lugar ao novo? Como dar um novo significado e um novo destino para as nossas angústias? É isso que consigo observar em Station Eleven, uma delicadeza em mostrar a reconstituição daqueles que sobreviveram ao apocalipse. Sobreviver não é suficiente, é preciso mais, é preciso ir além.
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Psicóloga, apaixonada pela psicanálise e absolutamente obcecada por true crime, thrillers e máfia. Falo mais que a mulher da cobra e poderia viver facilmente apenas de livros, séries e filmes.