Curtas de Animação indicados ao Oscar 2022

Este ano a Academia nem tentou esconder sua falta de atenção com a categoria de curtas-metragens de animação, que foi colocada de castigo com outras sete categorias e terá sua premiação feita uma hora antes da cerimônia, gravada e apenas exibida durante a premiação.

Fora isso, este ano temos uma seleção bem diferente comparada a do ano passado, agora tendo dois curtas em stopmotion e um em especial que é um soco no estômago. Também voltamos a ter menos acesso aos curtas, já que a maioria que está concorrendo está fazendo seu percurso em festivais e não estão em nenhum streaming e para minha surpresa, nenhum curta da Disney ou Pixar entrou na competição.


Affairs of the Art

(2021)

Dirigido por Joanna Quinn e Les Mills, o curta em animação 2D tradicional tem uma estética de sketch, rascunho, como se fosse um enorme desenho não finalizado e trás como protagonista Beryl, uma personagem recorrente nas animações de Joanna, tanto que sua empresa carrega seu nome Beryl Productions International Ltd.

Beryl é uma mulher inglesa de meia idade e neste curta vêm nos contar histórias sobre obsessões estranhas de sua família, já que agora ela mesma se encontra obcecada com arte, mais especificamente por desenho e pintura. Enquanto ela nos diverte com as curiosas histórias e causos da família, acaba revelando muito de si ao fazer isso e também entrando em uma tragicômica reflexão sobre sua própria vida, já que ela gostaria de ter feito outras coisas e estar em outro lugar. 

O curta ainda está em circulação em festivais, mas pode ser assistido aqui, porém com áudio e legenda  em francês, mas para quem interessar é possível assistir os outros curtas da diretora aqui no canal do Vimeo de sua produtora.


Fera

(Bestia, 2021)

Dirigido por Hugo Covarrubias, este foi o curta que acabou comigo. Assisti aos curtas sem saber do que se tratavam e o que me impactou mais por causa disso foi Fera, eu definitivamente não esperava por nada do que assisti.

Em uma animação stopmotion com personagens com cabeça de porcelana, acompanhamos uma mulher, a princípio uma mulher solitária com seu cachorro, vivendo com suas questões com seu corpo, sua vida e o dia a dia, até que é revelado que ela é bem mais do que isso. Com a tensa trilha sonora acaba sendo impossível não se deixar envolver pelo que acontece.

É difícil dizer sobre o que é o filme sem dar spoilers, mas é uma história que merece ser contada para que não seja esquecida, assim como outras que podem ser dolorosas, mas é preciso se lembrar para que certas coisas não voltem a acontecer, mesmo que o filme brinque com o que de fato aconteceu ou não, deixando detalhes de certos momentos para serem preenchidos por quem assiste.

O curta é inspirado em uma história real que aconteceu durante a ditadura militar no Chile, e pessoalmente aconselho a quem quiser ver que assista como eu fiz, as cegas, conhecer a história na qual o filme se baseia talvez tire um pouco o impacto do filme.


Boxballet

(2021)

Dirigido por Anton Dyakov, o curta russo é o que trás consigo os símbolos mais fáceis de entender. Uma bailarina magra, esguia e delicada e um boxeador grande, cheio de marcas e bruto se encontram e começam um romance improvável. Ela parece ser a pessoa fria e inalcançável e ele o atencioso dedicado, talvez reflexos de suas profissões, que na verdade despertam mais insatisfações do que alegrias em cada um.

O filme é muito direto e objetivo, não existe muita enrolação e a narrativa é simples, com um ritmo que combina muito com a trilha sonora, trazendo agilidade e velocidade para a trama, o que acaba criando uma identidade própria para a animação.

 Ao final descobrimos certo paralelo com a Guerra Fria e o muro imaginário que existia entre as duas personagens, mas que acaba sendo rompido no momento certo.


A Sabiá Sabiazinha

(Robin Robin, 2021)

Dirigido por Dan Ojari e Mikey Please o curta natalino em stopmotion realizado pela Aardman, mesmo estúdio que nos trouxe A Fuga das Galinhas (Chicken Run, 2000), por exemplo, é do tipo que aquece o coração, terminei de assistir com um sorrisinho no rosto.

O filme conta a história de uma sabiá que é adotada por ratos e tenta aprender o ofício da família: o furto. Mas para isso é preciso ser quieta e silenciosa, ao passo que nossa fofa protagonista é extremamente desastrada e barulhenta. Ela decide então provar para seu pai e irmãos que ela pode ser útil para o grupo, jornada em que fará novas amizades e descobrirá como ajudar sua família sendo ela mesma.

Sendo o mais longo entre os concorrentes, a animação é um primor técnico, trazendo inovações para o estúdio, com personagens de feltro ao invés de plasticina em seu primeiro musical. As músicas funcionam bem para a narrativa, mas não chegam a ser realmente marcantes ao contrário de seu belíssimo visual. Não é um filme grandioso, mas consegue ser uma diversão gostosa para se assistir em família com as crianças.

A Sabiá Sabiazinha pode ser assistido na Netflix, com legendas e dublagem em português disponíveis.


The Windshield Wiper

(2021)

Dirigido por Alberto Mielgo, é o diferentão da disputa. Trazendo sua estética já apresentada em A Testemunha, seu curta pra Love, Death & Robots (2019 – ) e em Homem-Aranha no Aranhaverso (Spider-Man: Into the Spider-Verse, 2018), dessa vez o diretor vem querendo discorrer sobre o que é amor, o que é amar, questionamento levantado por um homem que fuma em um café e apresentado em esquetes.

As pequenas histórias não falam necessariamente só do lado bom do amor, também falam sobre frustrações, insatisfações e sua ausência principalmente nas grandes metrópoles e na era da informação, lembrando muito os conceitos de “modernidade líquida” e “amor líquido” de Zygmunt Bauman. A trilha sonora e a edição de som envolvem e dão o tom de cada situação, contada em seu devido tempo trazendo sua própria reflexão. 

O limpador de para-brisas do título, provavelmente faz referência a nossa própria visão, para vermos e entendermos o que é o amor, é preciso antes de tudo olhar com atenção, enxergar as pequenas coisas, pequenos gestos.

The Windshield Wiper pode ser assistido aqui no Youtube, com áudio e legendas em inglês.


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