The Witcher: 2° Temporada – Bruxaria da boa e de qualidade

Quando a série The Witcher estreou em meados de 2019, foi uma grata surpresa e um fenômeno de audiência, apesar da recepção mista da crítica especializada, muito disso graças ao tom empregado pela showrunner Lauren Schmidt, que era confuso por usar uma linha temporal dividida em três partes em épocas diferentes, que iam se encaixando a medida que a temporada ia progredindo, isto exigia uma boa memória do público que tinha que ligar os pontos até que a narrativa chegasse em seu ápice. Esta pegada gerou críticas por especialistas e parte do público.

Dois anos depois, a pandemia levou o adiamento da estreia da segunda temporada em quase dois anos, estreando em 17 de dezembro de 2021 na Netflix numa das sequências mais esperadas do mundo das séries. Neste meio tempo ficamos órfãos, mas não desamparados, afinal o universo do bruxão só fez crescer, além da segunda temporada, tivemos uma prequel em forma de anime em The Witcher: A Lenda do Lobo (2021), contando a história da origem dos bruxos e do mestre de Geralt, Vesemir, que foi confirmado na segunda temporada da série também.

Além do anime, os showrunners deste universo confirmaram a origem de tudo em outro spin off, The Witcher: Blood Origins (2022), que terá seis episódios e contará a origem que deu a formação do mundo que vemos na série principal. Voltando a falar da segunda temporada de The Witcher, a série então optando por uma narrativa mais linear, voltou do hiatus mais interessante, aventuresca, cheia de monstros e muito mais acessível em termos de história expandindo ainda mais esse universo cheio de mitologias.

Acredito que Lauren e seus roteiristas aprenderam a lição e construíram uma história mais segura para este segundo ano, que começa logo após os eventos da primeira temporada com as consequências do conflito entre norte e sul, deixando baixas de ambos os lados, levando o desaparecimento de Yennefer (Anya Chalotra) que ajudou a destruir várias tropas protegendo seu clã de bruxas e evitando a derrota eminente. Por outro lado, a narrativa segue os eventos após a reunião de Geralt (Henry Cavill) e Ciri (Freya Allan), cumprindo a profecia feita pela “Lei da Surpresa”.

O primeiro episódio desta temporada, A Grain of Truth (2×01), aperta as amarras deixadas em aberto na temporada anterior e começa a moldar o futuro dos nossos personagens conhecidos sem perder muito tempo com enrolações. Então, se você não quer ficar muito perdido, aconselho a ir atrás de alguma recapitulação da primeira temporada e assistir ao anime A Lenda do Lobo, pois o roteiro aqui não perde muito tempo já partindo com Geralt e Ciri numa jornada para achar um lugar seguro chegando a residência e Nivellen (Kristofer Hivju), um antigo amigo do nosso bruxão favorito que dá abrigo para dupla em sua casa cercada de mistérios.

A verdade é que se você comprar a ideia de aventura episódica do primeiro episódio, você vai acabar gostando do resto da temporada. É nítido que a parte técnica ganhou um orçamento pomposo que é sentido em todos os aspectos da produção, seja na forma como é filmada, seja na forma como os efeitos visuais, o design de produção, figurino e até mesmo a lente estranha do Geralt estão melhores nesta temporada que tem um ritmo alucinante em todos seus oito episódios.

A série começa a subir o nível nos episódios Kaer Morhen (2×02) e What Is Lost (2×03), onde somos apresentados a versão em live action de Kaer Morhen, residência dos bruxos e onde Geralt leva Ciri para ser treinada junto ao seu mestre Vesemir (Kim Bodnia) e outros como ele. A trama ainda acompanha o desenrolar da narrativa com Fringilia (Mimi Ndiweni) e Yennefer levadas prisioneiras por elfos Filavandrel (Tom Canton) e Francesca (Mecia Simson). 

O roteiro começa dar um seguimento mais serializado seguindo três narrativa se passando ao mesmo tempo, mostrando o escopo de um conflito eminente e onde as peças começam a se mover por todos lados. Talvez o grande problema desta temporada seja lembrar a quantidade de personagens que aparecem em tela. Temos a trama dos elfos citada se desenvolvendo de um lado, por outro lado temos as forças no sul tramando um novo ataque ao norte, temos os monarcas do norte se reagrupando para ganhar mais terreno, mas fica nítido a intenção da showrunner em simplificar a série o máximo que pode, tendo o plot principal com Geralt e Ciri como o porto seguro e mais fácil de ser absorvido pelo público explorando a relação paternal do bruxão com a jovem princesa.

A trama de Yennefer demora um pouco para empolgar e ficar interessante, mas este lado da narrativa não é avulso, na verdade o mais interessante desta segunda temporada é conseguir ter um foco melhor sobre o que quer contar. A trama sobrenatural em Kaer Morhen envolvendo o surgimento de criaturas mágicas ajuda manter nosso interesse trazendo episódios decisivos como Redanian Intelligence (2×04) e Turn Your Back (2×05), onde temos uma jornada que desenvolve melhor o plot dos misteriosos poderes de Ciri e os monólitos que estão ligados ao surgimento de novas ameaças. 

A reta final da temporada consegue unir algumas tramas e traz finalmente reuniões esperadas e alianças interessantes como é revelado no episódio Dear Friend (2×06). Talvez o que tenha me surpreendido é ter gostado bastante da trama envolvendo os elfos e Fringilla em Cintra, que se torna peça central e promete ser um grande foco no futuro da série. O grande trunfo desta temporada é conseguir trazer um tom mais épico para um seriado que está em amplo crescimento e que agora consegue trazer ganchos convincentes nos fazendo devorar os episódios sem muita cerimônia.

No geral este segundo ano de The Witcher é simplesmente um deleite, corrigindo algumas falhas da temporada anterior, optando por uma narrativa mais linear e crescente onde tudo culmina nos dois últimos épicos episódios Voleth Meir (2×07) e Family (2×08), carregados de ação, grandes batalhas com monstros em profusão, ótimas revelações e a promessa de um futuro ainda mais cheio de ótimas histórias. A série finalmente se consolida como um produto de qualidade no gênero de fantasia e faz jus a todo hype em cima dela, focando na jornada do trio Geralt, Ciri e Yennefer e trazendo antigos e novos personagens que contribuem para enriquecer ainda mais um enredo que só tende a intensificar seu escopo. Com a terceira temporada encaminhada fazemos como a canção de Jaskier, “Burn, butcher, burn”, vamos deixar e bruxão queimar lenha, porque suas aventuras ainda tem muito para render.


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