O novo longa dirigido por George Clooney, que estreou recentemente na Amazon Prime Video, baseia-se na autobiografia de J.R. Moehringer, escritor e jornalista, vencedor de um Prêmio Pulitzer em 2000 por uma reportagem sobre uma comunidade rural ocupada por descendentes de escravos no Alabama. O filme conta sobre sua vida, desde a infância, quando muda-se com sua mãe para a casa de seus avós maternos, onde vivem uma tia com alguns filhos e ainda seu tio Charlie (Ben Affleck), por quem nutria enorme admiração e foi a figura em quem projetou vários de seus valores e aprendizados, já que o pai, um apresentador de programas de rádio, se ausenta quase que completamente da vida do garoto.
O bar do título é o Dickens, gerenciado por Charlie desde sempre e local de encontro de vários amigos que nunca são bem apresentados. Aliás, praticamente nenhum personagem no filme tem uma apresentação formal, o roteiro de William Monahan vai apenas nos obrigando a aceitar e a entender pouco a pouco cada um deles, o que poderia ser interessante, se feito de uma forma organizada. Mas o filme perde constantemente o foco, fazendo com que muitas vezes nos vejamos perdidos no que estamos acompanhando. Um garoto que descobre que quer ser escritor? Um filho que sofre a ausência do pai e se compadece da dura vida da mãe? Um amor platônico juvenil que jamais avança? A relação afetuosa entre tio e sobrinho?
Claro que tudo isso pode ser perfeitamente inserido em um filme sem prejuízo para o roteiro, mas em Bar Doce Lar (The Tender Bar, 2021) parece que estamos dentro de uma montanha russa com loopings demais, ao ponto de deixar o espectador tonto, fruto de uma tentativa frustrada de abordar vários pontos, mas que acaba não o fazendo bem em nenhum. O que é um desperdício, já que vários deles são interessantes e, em minha opinião, o melhor talvez seja o que mencionei por último. A relação de JR quando criança (ótima estreia de Daniel Ranieri), acanhado, daqueles que estão sempre observando atentamente as conversas e as ações dos adultos, mas com divertidas falas pontuais, com o tio Charlie, um homem que beirando os 40 anos ainda vive na casa dos pais, sem grandes perspectivas de futuro, mas que ama ler os clássicos e parece não se importar com a vida simplória que leva. E é preciso destacar a naturalidade de Affleck no papel, seus momentos com o sobrinho, ao som de uma excelente trilha musical, são os melhores do filme.
Porém, a sensação que tive ao terminar de ver o longa é de um vazio decepcionante. Não me importei com a vida do verdadeiro JR, não entendi o porquê de eu precisar conhecer a vida do escritor e ainda me irritei com mais uma narração tão desnecessária quanto covarde, sem contar a tradicional atuação morna de Tye Sheridan. Bar Doce Lar deve infelizmente ficar esquecido na filmografia de Clooney como diretor.
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Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.