Titans: 3ª Temporada – Algo a mais, finalmente

A série original do DC Universe teve duas temporadas antes da finalização do streamming e então passou a ser um original HBO Max em sua terceira temporada. Com o objetivo inicial de mostrar a primeira formação dos Titans, um grupo dos quadrinhos da DC, na segunda temporada a série rebootou a ideia e mostrou uma antiga formação de Titans em um enredo extremamente arrastado e repetitivo. Muitas das pessoas abandonaram totalmente a ideia de seguir a série para o seu terceiro ano após dois anos insatisfatórios. O primeiro ainda era muito introdutório e o segundo só se arrastou ainda mais sem necessidade real. 

Na terceira temporada somos apresentados a um time mais firme da equipe, liderada pelo Asa Noturna (Brenton Thwaites), enquanto impedem um roubo e ainda dão entrevista. Os Titãs agora são um time conhecido, mas alguns rostos estão faltando da temporada passada, ambos os filhos de Slade são totalmente esquecidos pelo enredo e pelos personagens do seriado. Bem, seguindo a lógica dos quadrinhos a continuidade ou passagens de tempo e paradeiro de personagens passados nem sempre é algo totalmente verossímil. Mas deveria ser assim nos seriados também?

Começando aqui primeiramente pelos pontos negativos da temporada, tentando ao máximo deixá-los resumidos a um só parágrafo, pois, honestamente, essa foi a melhor das três temporadas, mas ainda não chegou exatamente lá. Após duas temporadas injusta e monotonamente focadas no personagem Dick Grayson, uma das maiores falhas da mais nova temporada é exatamente continuar se aprofundando nos mesmos conflitos. Claro, a cidade muda, a equipe muda, até o codinome dele muda, mas o personagem já está há três anos lidando com ser ou não ser uma própria versão do Batman. Um drama de autodescoberta que se estende ao longo de três temporadas supera o maçante, é insuportável. Talvez se o personagem de Brenton não fosse sempre posto num local de protagonista em conflito com seu papel, ele fosse mais agradável para o público. 

Em contrapartida, houve uma certa melhora na narrativa da série ao investir mais no protagonismo em cena de uma das maiores estrelas da série, Anna Diop. Quando deixamos Estelar, sua personagem, ela estava sem poderes por alguma causa misteriosa e foi mostrado sua irmã, Estrela Negra (Damaris Lewis), chegando à Terra. Todos os dois enredos são meio deixados de lado, a perda de poderes de Kori e a apresentação de Estrela Negra como vilã.  A relação de inimigas, irmãs, é totalmente aprofundada ao longo desta temporada e de forma nada superficial. Até chegamos a conhecer um pouco mais do local de onde as duas vieram, o planeta Tamaran, e também a história por trás da rivalidade entre as duas. Não se trata de um conflito raso de inveja de uma irmã para a outra, é algo muito profundo e complexo, as duas atrizes têm uma química ótima em cena. 

Por falar em relações entre irmãs, outro lado da temporada, o mesmo focado em Dick Grayson, é focado na relação entre os dois Robins. Dick e Jason Todd (Curran Walters) têm a relação explorada como irmãos, como inimigos, com o reaparecimento do mais jovem como um novo vilão, o Capuz Vermelho. Trazendo muito dos quadrinhos, mas adaptando e criando mais em cima, a série consegue fazer algo minimamente decente com o material de origem. O peso de Jason como vilão diminui ao longo da temporada com a apresentação do que vem a ser o pior vilão principal apresentado na série, o Espantalho (Vincent Kartheiser). Honestamente, pegaram a personalidade de um Coringa barato e mudaram o nome do vilão, reduziram sua estética a zero e o colocaram para fumar maconha. 

Fazendo uma maior justiça por seus personagens do que a temporada passada, o arco envolvendo Donna Troy (Connor Leslie) corrige muito dos erros jogados sobre a personagem ao longo de sua temporada anterior. Quando se tem uma personagem relacionada à Mulher Maravilha, uma figura atualmente mais presente na cultura popular, é importante fazer jus às suas origens. O caminho de Donna para o futuro fica muito em aberto e sugere ligações talvez com uma nova formação de equipe. É um dos pontos altos da temporada conhecer o ambiente onde Donna foi criada e treinada, assim como a cultura das Amazonas do universo da série. Quando se fala de personagens mal aproveitados ou ‘nerfados’ (cujos poderes foram enfraquecidos) do seriado, falar de Ravena (Teagan Croft) e Mutano (Ryan Potter) é de extrema importância. Posso falar sobre quão maçante foi esperar pela manifestação e demonstração de poderes de ambos. Ainda é um pouco estranho sentir um possível envolvimento romântico entre os personagens quando se pensa na diferença de idade dos atores, mas até agora a amizade entre os dois é uma parte agradável na série. 

Novas adições muito bem vindas ao seriado são aos personagens relacionados à Batfamília, tanto pela personagem interpretada por Savanna Welch – a Batgirl original – Bárbara Gordon. A relação entre Dick e também como ambos terminam vivendo às sombras de seus pais são um prazer de se assistir, especialmente com o óbvio romance não bem resolvido entre os dois. A dualidade entre a relação de Bárbara com os Titãs e a confiança em Dick se coloca em conflito com a sua carreira como a atual Comissária Gordon, cargo antes ocupado por seu pai. Outra grandiosa adição é o personagem conhecido nos quadrinhos, Tim Drake – interpretado por Jay Licurgo que coincidentemente estará também no filme estrelado por Robert Pattinson, The Batman (2022). O enredo envolvendo o personagem consegue tomar rumos inesperados, de uma forma boa, e deixar um gosto de quero mais. 

A terceira temporada de Titans (2018 -) estreou no Brasil pela Netflix no dia 8 de dezembro e uma nova temporada já está confirmada. Embora com alguns tropeços a série consegue alcançar uma estrutura mais agradável de se assistir. 


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