Los Lobos – Um cacto, um hotel, um caminho

 

É pela janela de um ônibus que escutamos Leo, o filho mais novo de Lúcia, a narrar o que consegue ver pelo trajeto. É por Max, filho mais velho, que escutamos a presença do nada em forma de solidão e incertezas que assolam tantos lobos determinados, mas abandonados na realidade da imigração estadunidense.

Vencedor de três prêmios no prestigioso Fertival Internacional de Cinema de Berlim (2020) e prêmio da crítica ABRACCINE no Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba (2020), o mexicano Los Lobos (2019) tem a maestria de ser dirigido por Samuel Kishi, que capta com naturalidade e melancolia a dificuldade enfrentada por Lúcia e seus filhos Léo e Max para tentar a vida nos Estados Unidos, onde cada esquina e cada encontro está longe de ser uma Disney.

Se você espera grandes momentos de clímax e declínios para com os protagonistas, eles não existem por uma razão: os enfrentamentos que a família encara já são descoloridos desde o início, com o “matando um leão por dia” através da talentosa atuação de Martha Reyes Arias que representa a realidade de muitas mulheres pelo mundo. As tentativas de colorir e escapar desse opaco real mundo vem dos “niños” atores irmãos na vida real Maximiliano e Leonardo Najar Marquéz, que convencem em qualquer situação da narrativa em tela. É através da dupla que as angústias de sua mãe são colocadas pra fora, junto com sonhos calejados de um passado abandonado. Os sons do gravador usado para registrar as regras para as crianças e certamente de ensinamento para o inglês serve como esse catalisador que ecoa a palavra não dita que cada imigrante tem engasgado na garganta.

Los Lobos esteve disponível no sesc.digital e agora 10 de junho vai estrear nos cinemas mexicanos.

Se você tiver a oportunidade de vê-lo, faça.


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