Oxigênio – Literalmente de tirar o fôlego

Filmes com basicamente um protagonista apenas é uma das experiências hollywoodianas mais interessantes de assistir no cinema. Normalmente atrelados ao gênero de sobrevivência, essas narrativas colocam os personagens em situações extremas ou inesperadas e eles precisam manter a calma e usar as ferramentas que tem em mãos, ou apenas a inteligência para sair da situação em que se encontram.

Um dos meus filmes favoritos desse gênero específico é Enterrado Vivo (Buried, 2010), protagonizado por Ryan Reynolds. Este longa mostra esse personagem que é enterrado num caixão, embaixo da terra, e precisa arranjar um jeito de sair vivo da situação. Seguindo essa linha suspense, chegamos ao longa Oxigênio (Oxygène, 2021), novo original da Netflix que estreou dia 14 de maio, e que segue uma premissa similar ao longa mencionado anteriormente, sendo que esta produção francesa vai um pouco além em suas ambições narrativas e mostra uma protagonista altruísta vivida pela bela Melánie Laurent.

Se você não viu os trailers deste filme, talvez o longa tenha uma experiência ainda melhor, já que nas prévias mostram uma das reviravoltas que na narrativa é muito boa de assistir, mas às vezes um expectador mais atento pode matar antes mesmo de ver por conta das cenas mostradas, então: atenção. A premissa do longa conta a história de uma mulher que acorda de um sono profundo numa câmara criogênica em um local desconhecido sem memória de sua vida. Ela possui menos de 35% de oxigênio restante e precisa tentar descobrir uma forma de sair da câmara antes que fique sem ar.

Esta narrativa escrita por Christie LeBlanc e dirigida por Alexandre Aja, Predadores Assassinos (Crawl, 2019), consegue, já nos primeiros minutos, mostrar a que veio nesse cenário meio futurista, cheio de tecnologia, onde a personagem esta ligada dos pés à cabeça a fios que não só a mantém viva, mas também conseguem ler todos os seus sinais vitais. Muito do suspense se dá pela forma como a urgência da trama se dá, com essa queda gradual do oxigênio, a personagem precisa manter a calma para tentar pensar em uma maneira de escapar.

O primeiro ato lida bastante com medo, claustrofobia e pânico da personagem de Laurent, que aqui brilha numa atuação bastante convincente, e que consegue deixar quem assiste ainda mais agoniado, torcendo para que ela descubra quem realmente é, e, principalmente, por que está nesta câmara. A grande sacada do roteiro é usar o cenário futurista a seu favor, ao contrário de outros filmes do gênero, este tem um pulo do gato, que é a interação da personagem com uma inteligência artificial de nome M.I.L.O (voz de Mathieu Amalric).

Com a interação com essa IA, a personagem tem acesso (mesmo que limitado) a algumas informações que a ajudam a entender um pouco a situação, mas o legal aqui é como o roteiro é criativo para usar a inteligência da protagonista que, mesmo em certos momentos de pânico, pensa de forma eficiente e extrai informações de M.I.L.O o máximo que consegue, isso ajuda a narrativa a se desenvolver de uma forma bastante consistente e num ritmo instigante que se mantém pela maior parte do tempo.

Na minha opinião, o maior trunfo de Oxigênio é saber dosar o suspense psicológico e a tensão com respiros da personagem e o uso inusitado de flashs que vão passando na mente dela à medida que vai se lembrando do passado. Muito disso se deve a direção e competência de Alexandre Aja, que, mais uma vez, se mostra um dos cineastas que mais cresceram na função nos últimos anos. Sua câmera tem boas sacadas e se move num espaço limitado dentro da câmara, procurando o melhor ângulo da personagem, e não só mantendo o foco apenas no seu rosto, usando isso, inclusive, toda vez que precisa trazer algum momento de tensão ou susto. 

Os flashbacks são pontuais e ajudam apenas na elucidação gradual da montagem de um quebra-cabeça complexo montado pelo roteiro, que não para de surpreender a cada segundo. Aliás, a metade do filme traz uma reviravolta muito boa, que pode surpreender alguns, até mesmo os mais desconfiados, algo que muda completamente a forma como enxergaremos a personagem até então.

É claro que o filme às vezes soa óbvio e nem sempre mantém o ritmo constante, porém fica claro que a direção de Aja e a atuação de Mélanie são peças-chave para a narrativa funcionar e é nela que a trama se apoia, por isso consegue, no geral, ser um bom thriller de suspense. Em termos de produção a fotografia mais clara e meio azulada dá um tom realmente futurista, que se passa numa realidade mais avançada que a nossa, e isso vai ficando mais claro à medida que a revelações vão surgindo também.

A trilha sonora é outro ponto positivo, assim como design de produção, apesar de mostrar a limitação do orçamento em alguns momentos, assim como os efeitos visuais, que também dão essa impressão, ao menos são criativos o bastante para consolidar o visual desse futuro não muito distante. 

Por tudo que foi comentado, pode-se dizer que Oxigênio é uma das gratas surpresas de 2021. Um suspense menor, mas bastante eficiente, que traz um clima claustrofóbico, misterioso e intenso para o expectador que acompanha a história dessa mulher que tenta a todo custo superar as adversidades, mesmo com limitações do local em que se vê presa, lutando para se manter viva e usando na maioria das vezes sua inteligência para tentar sair de determinadas situações. O terceiro ato termina de forma bastante simples até, mas a trajetória do longa é de pura satisfação e adrenalina pela forma como a narrativa envolve quem assiste. Assim, com uma direção eficiente e uma atuação muito boa de Mélanie Laurent, este filme definitivamente vai fazer você ficar na ponta do assento, lhe garantido bons momentos de entretenimento.


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