Raio Negro: 3ª Temporada – Um cerco

Com o final das duas primeiras temporadas de Raio Negro (Black Lightning, 2017 -), série baseada no herói de mesmo nome da DC Comics, chegamos à terceira parte da obra. Em suas duas temporadas anteriores, a série conseguiu manter um tom de arcos de quadrinhos, mostrando o universo expandido desse mundo de heróis mais realista. Ao invés de trabalhar com vilões semanais, a história acompanha a família Pierce enquanto descobrem mais sobre a existência de meta-humanos e enfrentam problemas mais reais. 

O protagonista da série é Jefferson Pierce (Cress Williams), cuja família estava diretamente envolvida com os últimos acontecimentos na cidade de Freeland envolvendo meta-humanos. Ele e sua esposa, Lynn Stewart (Christine Adams) foram, no final da segunda temporada da série, intimados a trabalharem com a ASA (Agência de Segurança Americana) para que a guerra contra Markovia não fosse perdida. 

Claro, existem vilões ao longo da série, mas em nenhum momento eles são tratados de forma superficial como alguns antagonistas em outras séries de heróis, especialmente as da CW. Agora, nesta temporada, a ameaça não é mais a gangue Os 100 ou o inimigo do Raio Negro, Tobias Whale (Marvil Jones III), mas sim a vindoura guerra entre a ASA e Markovia. Em um dos lados, um país decidido a explorar a pesquisa sobre meta humanos com fito de os utilizar em futuras guerras, e do outro, uma agência governamental disposta a fazer de tudo para não perder a guerra. 

A cidade de Freeland, tão presente personagem das temporadas anteriores, retorna como tal também neste terceiro ano. Desta vez toda a cidade está em lockdown do resto do mundo, pela ASA, para evitar que espiões markovianos não consigam voltar para Markovia com informações sobre os meta humanos. Na realidade da série, até certo ponto ao menos, pessoas com super habilidades não existem fora de Freeland e por isso a cidade é de grande interesse para Markovia. A temporada explora muito mais uma situação de guerra, onde o governo é responsável por prejudicar diretamente a sua população para se beneficiar numa guerra. 

Na nova temporada temos a personagem Jennifer Pierce (China Ann McClain) passando de adolescente em crise para uma super heroína aprendendo mais sobre seus poderes. Infelizmente a situação da cidade e a constante vigia da ASA sobre a família Pierce tornam esses momentos de aprendizado mais difíceis para a personagem. Mas é interessante ver um amadurecimento para a personagem, cujos enredos anteriores foram extremamente repetitivos e a colocavam num local de infantilidade. A atriz teve mais chance de brilhar nesta terceira temporada, mas o constante uso do enredo de romance adolescente para ela continua caindo num lugar de repetição.

Enquanto isso, Anissa Pierce (Nafessa Williams) passa grande parte da temporada longe de seu uniforme de Tormenta e adota uma nova identidade, Pássaro Negro. Dessa vez sua missão não é sobre combater o crime, mas fazer o possível para auxiliar meta humanos a saírem de Freeland de uma forma segura sem serem capturados pela ASA. É uma interessante escolha a personagem adotar uma nova identidade secreta e como se trata de um novo símbolo de esperança para a cidade em tempos extremamente preocupantes e assombrosos. 

As mulheres da família Pierce roubam a cena ao longo desta terceira temporada, mesmo com o título da série tendo o nome do patriarca. Lynn Stewart tem um importantíssimo papel nesta temporada, estudando os meta humanos mantidos pela ASA visando descobrir como replicar as habilidades. Temos uma das cientistas mais importantes do mundo e a primeira a pesquisar sobre um acontecimento único no mundo da série, como o corpo de indivíduos com poderes funcionam. O mais interessante dessa temporada, assim como na anterior, é como a Doutora Lynn Stewart tem uma vilã própria na forma da cientista Dr Helga Jace (Jennifer Riker).

Uma mulher da ciência, manipulada por uma organização governamental que visa usar de seus estudos e conhecimentos para transformar pessoas em armas sem se importar com as vidas perdidas ao longo do caminho. Os caminhos escolhidos pelos escritores da série ao longo desta temporada são extremamente ousados, pois ela se destaca em nível de estética e narrativa das demais. Estamos falando de uma guerra entre o governo americano e uma nação estrangeira, pessoas sobrevivendo ao meio deste conflito. Antes a série buscava trazer uma noção de realidade das ruas americanas, com gangues, conflitos com drogas, mas é como se tudo isso tivesse evoluído nesta temporada. Os próprios personagens enfrentam problemas mais sérios e severos, não deixando muita abertura para problemas fúteis, ao menos não deixando tantas aberturas. 

Mesmo se mantendo ainda uma das séries mais pautadas em realidade da CW quando se trata de quadrinhos, temos muitas referências aos quadrinhos ao longo da temporada. Para os conhecedores do Raio Negro, é uma importante informação a participação do personagem na super equipe chamada Os Renegados (também foco da terceira e mais recente temporada de Justiça Jovem). Sem aprofundar mais para não entregar muitos spoilers, há uma formação original da equipe com presença de um dos protagonistas da terceira temporada da animação com algumas modificações. A forma como o seriado consegue trabalhar o original e o adaptado é instigante, especialmente quando usa de personagens não muito explorados nos quadrinhos e cria emocionantes histórias e enredos para eles. 

A terceira temporada de Raio Negro está disponível na Netflix.


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