Antes de se entender é preciso sentir e se torna interessante quando uma obra audiovisual consegue suavizar a linha entre compreensão e sentimento. O curta Válvula, com direção de Sara Benvenuto, conta a história de uma jovem lidando com um fantasma. Não se trata de uma história de terror, mas sim de uma pessoa lidando com a perda de alguém e ao mesmo tempo a presença. Para onde vão as memórias quando alguém parte dessa vida? Estas memórias ficam conosco e o filme consegue abordar de forma especial como lidar com esta relação de sua protagonista, Eveline, interpretada por Isabela Dantas, com suas memórias.
Esta obra, realizada em Iguatu, foi a vencedora do prêmio do Jurí Popular da Mostra Cearense do 19º Festival NOIA. De forma maravilhosa o curta, de apenas dois minutos, permite viajar um pouco pelo interior do estado cearense enquanto acompanhamos a nossa protagonista. Ao mesmo tempo, podemos ter um vislumbre de suas memórias, de suas vivências antes do acontecimento que causou uma certa mudança em sua vida. É interessante a forma como não apenas visualmente se constrói algo pelos interiores do Ceará, mas a nível de produção também.
Se torna importante a possibilidade de se descentralizar do cinema feito na capital do Estado, especialmente quando o cinema não parte apenas do interior mas leva o nome de uma mulher na direção. Lembrando sempre o fato de que cada vez mais temos de pedir e assistir a mais filmes realizados por mulheres, com o fito de descentralizar mais a ideia do audiovisual ser uma área para homens (e também para elite).
Através de uma construção imagética de sua montagem, o curta é capaz de viajar entre o agora e o depois sem esclarecer para o público qual é qual. As vivências entre o casal se tornam uma parte extremamente integral do filme, nos permitindo em seu decorrer nos aprofundarmos mais na relação entre os dois. Isso é um belo feito, especialmente lidando com um curta de apenas doze minutos. Podemos conhecer os personagens, sua relação e seus sentimentos e memórias.
Se Eveline está sozinha, ela está sozinha com suas próprias memórias, lidando com as ausências e as presenças do não estar durante o curta. Isso até seu momento de libertação, permitindo à protagonista chegar à aceitação do que houve e ao público uma maior compreensão dos fatos responsáveis por desencadear o filme. De forma bela a obra se encerra, ao som das águas de cachoeiras e os nomes envolvidos na tela mostrando a incrível equipe responsável por Válvula.
Para saber mais sobre o 19º NOIA – Festival do Audiovisual Universitário, clique aqui.
Leia os textos de Elvio Franklin, Eric Magda e Thiago Henrique Sena, que fizeram parte do Júri da Crítica do festival como membros da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema) aqui.
Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.