O diálogo, quando bem usado, pode ser o fio condutor de uma narrativa em uma obra audiovisual. Não somente o diálogo na forma da fala, mas também o diálogo através dos gestos. Em Vagabundos Eficazes (2020), de Rafael Brasileiro, vemos uma mescla de ambos os conceitos que se perfazem durante o curta e que tecem, além da narrativa visual, o discurso do filme através de quatro “conversas”, quase que como atos separados mas que se referenciam em um sentido único final para o filme.
Põe-se em tela, inicialmente, uma quebra de expectativa com a utilização do performático e gestual. A primeira “conversa” se constrói através desses artifícios de gestualidade, em que o espectador é posto como observador fixo do diálogo distante de dois personagens em uma sequência curta e objetiva. A segunda “conversa” vem abruptamente e já se abre efusivamente com falas que se perfazem durante a sequência. Aqui, a voz se torna o principal elemento, de conversas sobre sonhos até uma rápida performance musical e o encerramento da sequência com a recitação de um poema.
A voz continua como característica primordial na continuidade do curta em seu terceiro ato. Temos uma ligação feita através de um personagem da segunda para terceira sequência e, apesar da similaridade no uso do diálogo vocal entre personagens, aqui temos uma conversa de tom mais poético. Se na segunda cena somos colocados como observadores de diálogos cotidianos sobre sonhos e outros assuntos mais corriqueiros, aqui se faz presente devaneios, um subtexto social e que, apesar de parecer confuso, consegue construir referências com a obra como um todo e tem momentos usados como objeto conducente da última “conversa”, mais curta e intimista e de tom experimental através da montagem e da recitação de um poema que usa-se do rumo que o filme toma e se torna para finalizar o curta.
Por meio da decupagem, fotografia e montagem, somos colocados em Vagabundos Eficazes em um local de participante das conversas que constroem o filme. Apesar de inicialmente não se gerar empatia, quando tais artifícios são mais expostos em tela de forma mais articulada, a imersão é imediata, principalmente nas duas sequências de diálogo estritamente verbais da obra.
Buscando gerar tensionamentos pelas mais variadas maneiras de interlocuções, Vagabundos Eficazes, apesar de parecer destoante entre seus atos, trás um fio condutor objetivo através de todas as sua sequências, sem abrir mão de uma mescla de conceitos de interpessoalidade, realismo, abstração e experimentação gestual.
Nathan Ximenes é um cineasta universitário, crítico, amante da 7° arte e de esportes desde que se entende por gente. Escreve sobre cultura pop em geral profissionalmente desde 2018, mas pensa sobre desde sempre.
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